«O gato e o espelho»,
Fábula de Florian ,
Dificilmente se aplica ao nosso tempo,
Tempo em constante mudança,
Embora se viva também muito da pança.
Mas já dizia Nosso Senhor
Que nem só de pão vive o Homem
É preciso uma Graça maior
Que nos inebrie a alma de amor.
Disse, pois, Florian, com um visualismo
Pleno de graciosismo:
«Filósofos atrevidos que a vida passais
A querer explicar o inexplicável,
- Inefável, na grega etimologia,
Que com muito menos fantasia
A latina transformou em indizível -
Dignai-vos observar, por favor,
Do mais sábio dos gatos o traço superior:
Este gato viu um espelho ;
Com alegria,
Saltou para ele, olhou e pensou ver
Um dos seus irmãos que o estava a espreitar.
Quer juntar-se a ele, é detido,
Fica surpreendido,
Julga então o espelho transparente
E passa para o lado contrário
A salto.
Não encontra nada, volta,
E o gato do espelho volta imediatamente.
Reflecte um pouco ; com medo de que o animal,
Enquanto ele dá a volta, se ponha na alheta,
Põe-se a cavalo no alto do espelho,
Duas patas aqui, duas ali; de forma
Que por todo o lado o pode agarrar.
Então, julgando tê-lo agarrado,
Devagarinho inclina a cabeça para o espelho.
Avista uma orelha, duas a seguir,
À direita e à esquerda ele vai lançando
A sua garra pronta a filar.
Mas perde o equilíbrio, cai e nada filou.
Então, sem mais esperar,
Sem mais procurar o que não pode compreender,
Abandona o espelho e volta aos ratos do seu comer:
« Que me importa, diz ele, este mistério entender?
Uma coisa que o nosso espírito
Depois de longo trabalho e esperança
Não alcança,
Não nos é jamais necessária
Por muito que seja extraordinária.»
Isto foi o que pensou
O gato de Florian que a meu ver
Não tinha mais para dar.
Na verdade,
Olhem só se o homem desistisse
De querer perceber o que lhe parece inexplicável
- Ou helenicamente inefável -
E abandonasse
Todas as tentativas que fizesse
Para avançar na modernidade!
Nunca se viveria com tanta comodidade
Nem se mataria
com tanta eficácia
Ou se roubaria
com tanta audácia!
Se o homem
fosse de facto
Como o
gato
Que abandona
o incompreensível do seu incognoscível
Para apenas
se cingir
Aos ratos
da sua mesa
Nunca chegaria
onde vai chegando
Cada vez com
mais afoiteza.
Como António
Nobre, poderia ter dito:
“Oh! As
bombas atómicas! E as de hidrogénio!”
Nesta “Vida”
que ele achou de pesadelo,
E mais “tudo
o que por aí vai de aflição”
Quer se
trate de bandalheira, quer de tédio ou mistificação…
Mas realmente,
Por mais
que se invente
António Nobre
continua a ter razão
Na sua tristeza
e solidão,
E o gato
do espelho
De Florian
Talvez também
tenha razão
Na sua desistência
De atingir
a ciência,
Pois o
mundo continua rodando
Com o
homem justificando
Falando,
falando,
E não mudando
Tal como diz
o Gato Fedorento,
Malandro...
E o “SÓ”
concluindo:
«Foi
para ver, coitada! Essa bola de lama
Que
pelo espaço vai leve como a andorinha
A
Terra!
Ó meu Amor! Antes fosses ceguinha…»
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