sexta-feira, 8 de agosto de 2008

A mulher pecadora 2

As mulheres foram sempre muito mal vistas na sociedade, atribuindo-se-lhes pacto com o diabo. Também houve damas espiritualizadas, mas só no lirismo de fonte mariânica, pois a maioria foi maltratada e mesmo as bruxas arderam nas piras eclesiásticas. Hoje já não se põe o problema, mais permissiva a sociedade, pelas conquistas dos direitos femininos. Mas se Madalena se livrou de pedradas, foi só graças a Cristo, que assim inocentou muitos desmandos do seu clero.
Contudo, a sociedade descrita pelos escritores revela facetas de menor justiça com as mulheres, que até a si se condenam quando pecadoras – caso da Phèdre que, além do seu ciúme que leva à morte o amado Hipólito, seu enteado, se mata de vergonha e remorso, punível o crime de incesto, como já demonstrara Sófocles, fazendo Jocasta enforcar-se, e Édipo só cegar-se. Se, no romantismo francês, há uma pérfida Milady, ela será punida pelos mosqueteiros. Quanto à Dama das Camélias, a doença a condenará pelos seus pecados, não podendo ficar impune quem tanto pecou, embora amando tão devotadamente. Jane Eyre, heroína que muito sofreu em criança às mãos da madrasta e no colégio interno, dirigido por impiedoso tartufo, será excepção, no livro de C. Bronte. A própria Madame Bovary se condenou, suicidando-se. Pecou muito, na opinião do meio medíocre ou prepotente de que quis fugir, iludida com os arremedos de felicidade da sua imaginação inquieta. O mesmo sucederia com Thérèse Desqueyroux, cuja exacerbação pela chateza em que vivia, a leva, sem convicção, a um gorado assassínio do marido, sendo condenada pelo desprezo dos familiares e auto-anulamento imposto por aquele. Os livros que ficcionam amores livres como “O Amante de Lady Chatterley”, de Lawrence são censurados e até retirados da circulação por uma sociedade machista, mais aberta às perversões dos homens, até do marquês de Sade. Mas a mulher superou grandemente esses ostracismos. Simone de Beauvoir bem o desmascara, e a original Françoise Sagan...


Versão reduzida ( 1999 caracteres com espaços) do texto anterior (3943 com espaços), a pedido da Revista JN, para onde fora enviado.

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