segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Os referentes

Isto de, a torto e a direito, nos servirmos de referentes literários ou outros, devia acabar, diz-se. Parece que não temos suficiente confiança nos nossos próprios méritos e vai daí, toca a servir-nos dos méritos alheios para enriquecer o que escrevemos. Há mesmo quem use o plágio despudorado, o que é feio. Só o Homero é que não teve por onde copiasse aquelas histórias célebres, que tantos depois glosaram, mas talvez por isso acharam que ele não existiu e que os seus cantos vieram das mentes do povo, como se fossem as trovas do nosso.
O que é certo é que, como disse Mallarmé, “Mais ou menos todos os livros contêm, medida, a fusão de qualquer repetição”, citação contida no texto “Estratégia da Forma” em “Poétique, Intertextualidades” de Laurent Jenny (Livraria Almedina). Por isso não podemos estranhar as influências, que resultam das nossas leituras e experiências, enriquecendo-as com as referências que venham a talhe de foice. O Platão que o diga, que se serviu do Sócrates para lhe aplicar a doutrina, mas escrupulosamente o pôs sempre como mentor nos seus Diálogos.
Clássicos ou Modernos, todos imitaram e citaram. Era higiénico lembrar os greco-latinos, e o Garrett, por muito romântico que fosse, não deixou de os usar também. E o querido Eça, meu Deus! Mas como foram grandes e originais! O “Rei Lear” do Shakespeare já se lia nas lendas medievais. A história da Helena de Tróia, por exemplo, quantas obras descomunais originou! A peça dramática “La Guerre de Troie n’aura pas lieu” do Giraudoux, o romance humorístico de John Erskine “A Vida Privada de Helena de Tróia”, que espanto, que graça, que encanto! E as variantes da “Antígona”! Como foi feliz Jean Anouilh glosando Sófocles!
Por isso devemos ser gratos a todos esses grandes que serviram à nossa formação e que não morreram, nem os seus heróis, porque são imortais, enquanto o sol nos aquecer.

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