Lembrei-me de uma fábula de Esopo
A propósito da discussão
Com a minha amiga sobre
A promessa de Ramos Horta
Ouvida na televisão,
De nos comprar títulos
Como parece que já fizera
O presidente chinês,
Ou talvez apenas a sua esposa
Melindrosa,
Que até foi presenteada
Com um bule para o seu chá
Como já não há.
Digo, o bule, não o chá,
Que ainda há cá
Embora, talvez,
Por pouco tempo já,
Que até o chá passará
À história,
Pois de tudo o que fomos
Ou tivemos
Com maior ou menor
Glória
Apenas nos restará
Escória.
Isto diz a minha amiga
Com muita desconsideração,
E daí a discussão
Bem ou mal atamancada.
Mas vejamos a fábula grega
Se tem ou não aplicação
Ao caso da nossa aflição
De povo que até adrega
Ser bem brincalhão:
“O cão, o galo e a raposa”
«Ligados por uma bela amizade
Um galo e um cão viajavam de companhia.
Pelo crepúsculo, o galo empoleirar-se-ia
Numa árvore, enquanto o cão se escondia
Entre as raízes da mesma árvore,
Que assim os protegia
Com generosidade.
Mas o galo cantor
Useiro e vezeiro em cantoria,
Durante a noite cantou
Com galhardia.
A raposa acorreu,
Por baixo da árvore se postou,
E suplicou
Ao galo que descesse,
Para que ela o beijasse,
Pois tão bela voz como a sua
Merecia
Que o galardoasse
Com beijos de cortesia.
O galo concordou mas pediu
Que primeiro acordasse o porteiro.
A raposa, a quem todos chamam matreira,
Desta vez, causou-nos perplexidade,
Ao cair na esparrela
Com tanta ingenuidade.
Chamou o porteiro
Que dela
Fez bons pedaços,
Os quais, bem cozinhados
E condimentados,
Serviram o jantar de ambos
Os amigalhaços.
A fábula mostra, na perfeição,
Que o homem de sensatez
- Ou de esperteza infinda -
Afasta o seu inimigo figurão
Desviando o ataque deste
Sobre alguém mais forte ainda.”
É por isso que eu admiro
O nosso Primeiro
Ministro.
Digam-me lá
Se ele não se parece
Com o galo empoleirado,
Que desviou, com determinação,
Para o cão,
A sua defesa
Contra a raposa manhosa,
Isto é, a defesa
Da dívida indecorosa?
O presidente chinês,
O timorense,
E outros mais
Que virão por aí,
Mais fortes do que nós,
Livrar-nos-ão,
Como o cão,
Dos efeitos perniciosos
Das dívidas sem explicação
Decente,
Adquirindo títulos
Ao que se diz
De uma dívida
De forte raiz.
E da nossa história,
Futuramente,
Restar-nos-á
Somente escória…
E o tal sol, que pecou
Porque, em vez de criar, secou.
domingo, 14 de novembro de 2010
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