terça-feira, 25 de outubro de 2011

Perseguições

«O Atum e o Golfinho»
«Um Atum que um Golfinho perseguia
As ondas do mar fendia
Em grande alarido;
Prestes a ser apanhado,
Viu-se caído
Na orla da praia
Por causa da maré cheia
Que o empurrou para a areia.
Ora o Golfinho
Que um forte impulso de avidez impelia
Sobre aquele,
Veio esparramar-se junto dele.
Voltou-se o Atum,
E vendo-o a agonizar
Exclamou com prazer
Sem rebuço algum:
“Já não sinto tão amarga a minha sorte
Quando vejo perecer
Aquele que causou a minha morte!”
A fábula mostra que os males
Se suportam com menos celeuma
Quando são partilhados por aqueles
Que os provocaram na calma.»

Por aqui se vê que o Esopo
É muito anterior a Jesus Cristo
Que sempre advogou a bondade
Mandando apresentar a outra face
Quando uma estalada era dada
Com muita maldade
Na face
De qualquer incauto
Que inesperadamente
A recebesse
Com surpresa indignada,
Mas retraidamente
Porque cristãmente.
Por isso nós não nos rimos,
Quando de dores morremos,
Se ficarmos certos
Que os que de dor nos matam
Connosco de dor são mortos
Em idênticos apertos.
Os do Médio Oriente
Andam à pedrada.
Nós à estalada,
Tão só porque estendemos
A face à bofetada
Muito cristãmente,
Fora da entifada.
Também não imitamos
O risonho Atum,
Sem respeito nenhum
Pelo pobrezinho
Do Golfinho
Que a avidez perdeu
E assim morreu,
Como aliás também
O Atum morreria.
Mas é o destino de cada um,
A morte sombria.
Só não se deve nunca
Pôr a Pátria em risco
Por razões de fisco.

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