terça-feira, 10 de janeiro de 2012

“Eu não me interessa que usem avental”

- Isso é lá com eles! Que sejam ridículos à vontade deles. Isto não sou eu que digo, tenho lido.
- E ouvido!
- Acudi eu muito depressa, a mostrar que também estou a par do assunto, actualmente na berra. Mas a minha amiga não me deu ouvidos, fez questão de continuar a ser ela a contar:
- Isso do avental não faz diferença a ninguém. O pior é o resto. Está-se a descobrir que o resto é escandaloso. Ou os metem na política ou os levam para os mações. É tudo secreto, com o avental imprescindível. Afinal, fazem parte da família, gente muito rica que manda nos outros. Os ricos querem assim, faz-se assim.
Achei o monólogo da minha amiga também algo eivado de secretismo, não sei se por simpatia com o que sempre acompanhou os mistérios ligados à maçonaria, mas fui respondendo que antigamente a maçonaria tinha a ver com os bons sentimentos, com o respeito pelas virtudes e pela igualdade e fraternidade entre os homens, como o rei Artur, aliás, também já tinha tentado estabelecer, embora só entre os seus pares da mesa redonda, por não haver mações na altura, que têm a ver com os construtores das catedrais medievais, segundo leio na Internet, embora os secretismos sibilinos, ligados às práticas místicas do ocultismo sejam velhos como o mundo.
Parece que a maçonaria actual está mais ligada ao capital, ao contrário da maçonaria anterior, mais ligada ao espiritual, ao intelectual, e a prova é que Garrett também lhe pertenceu com todo o seu coração de liberal progressista, no final da vida não resistindo, contudo, a fazer-se intitular visconde, o que sempre consistiu, para mim, uma mancha à sua aura de escritor modernista que sempre admirei.
O poder do ouro ou das honras exerce indiscutivelmente uma atracção fabulosa sobre os homens, os mais imunes, e é por isso que acontecem essas coisas obscuras, feitas pela calada, nessas sociedades do avental, mas também de colar e luvas, que até têm Lojas, o que as torna sensíveis ao comércio e aos lucros.
A sociedade cruel quer que os mações declarem as suas ligações secretas por conta da transparência, mas tudo isso não passa de faits divers sem consequência.
Lembro o “Clube dos Poetas Mortos”, em que os alunos do professor amigo da liberdade humana mandava destruir os livros de aprendizagem seguidos pelo sistema educativo do colégio - (o que sempre achei uma acção pedante e idiota, por muita aura que desse ao professor destruidor, junto dos alunos naturalmente receptivos à rebeldia "genial") - para que os alunos adquirissem a sua autonomia de pensamento, e os alunos até formaram o seu grupo secreto, com rituais e leituras secretas. A sociedade repressora do colégio e não só, sacrificou o professor liberal e um dos alunos, que se suicidou, devido à incompreensão familiar.
Não vamos nós agora condenar os nossos mações, só porque têm rituais de que não dão conta a ninguém. A verdade é que se sabe que eles trepam na vida por conta desses jeitos piedosos dos seus rituais secretos e isso é importante. A vida está complicada na questão do emprego, e pelo menos esses podem safar-se. Que os aventais deles até são bonitinhos.

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