Transcrevo
um problema de matemática para o 3º ano, copiado do quadro de uma escola pelo
aluno:
“No
sábado à tarde, a Laura encontrou-se com a Leonor. Às 16h 35, o Francisco
juntou-se às duas amigas. Trazia cromos repetidos dos quais deu metade à
Leonor. Como ainda tinha metade dos cromos resolveu fazer uma troca com
a Laura. Deu-lhe 18 cromos repetidos e recebeu 8 cromos
que ainda não tinha. Regressou a casa com 48 cromos. Quantos cromos
tinha o Francisco levado?”
Um problema
folclórico, cheio de dados para enganar.
A referência inútil ao dia e à hora, a referência a uma Leonor que podia
não ter entrado na história, a quem o Francisco deu metade dos cromos repetidos
que não são para figurar no raciocínio, mas apenas para o atrapalhar. Os únicos
dados que contam são os sublinhados: Os
48 cromos com que chegou a casa, os 8 que a Luísa lhe deu, que portanto ele não
tinha (48-8=40), os 18 que ele deu à Luísa e que portanto ele tinha (40+18=58).
Como 58 correspondem a metade dos seus cromos, deduz-se que teria o dobro:
(58X2= 116).
E assim,
por meio de raciocínios tortuosos se ensinam as crianças, que, naturalmente, a
menos que sejam muito bem dotadas, não vão compreender.
O mesmo
direi da divisão. No 3º ano não se exige a resolução da operação, com
dividendo, divisor, quociente e resto, mas apenas ao nível da compreensão da
palavra repartir. O que tem como resultado, por vezes, em números maiores, a
decomposição do número em milhares, centenas, dezenas e unidades, cada um
desses números de ordem, assim dividido, dificultando mais a compreensão do que
pela forma prática da aprendizagem antiga.
Dou um
exemplo fácil: 9999 berlindes a repartir por três meninos: Começo por decompor
por ordens: 9000+900+90+9; segue-se a repartição de cada ordem por 3: 3000+3000+3000+300+300+300+30+30+30+3+3+3.
Soma-se cada parcela diferente: 3000+300+30+3= 3333 berlindes a cada um dos
meninos.
É claro
que, antes de chegarmos a estas altas especulações, já se tinham usado números
mais pequenos, para distribuir por sacos ou meninos igualitariamente.
Não
compreendo a insânia destes métodos que pretende desenvolver os raciocínios
juvenis complicando, através de um rebuscamento impróprio para as suas idades,
quando seria muito mais eficaz a aprendizagem da divisão como processo inverso
da multiplicação e com os seus trâmites próprios: em 9 quantas vezes há 3…
Foi,
talvez, através destes rebuscamentos do nosso empolamento precioso, que no
nosso país as divisões resultaram em multiplicações estrondosas, porque houve
tempo para lhes torcer os trâmites, autênticas bacanais de arrojo em todos os
níveis. Evoé!
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