Ontem
lembrei à minha amiga uns versos do Rui Knopfli sobre o povo chinês, e tudo
porque ela voltou a frisar a sua expansão no mundo:
- Toda a
gente conhece essa expressão “perigo amarelo”. Está implantado no mundo. Na
Austrália… alguém pensava? Numa telenovela do Brasil aproveitaram para dizer
isso. Os chineses já estão bem instalados, quer seja aqui, quer em Angola, nos Estados
Unidos… E pronto. É o mundo que vai mudar. No domingo de Páscoa, loja de chinês
aberta. Eles provaram que vão longe. Trabalham e vão longe. Há escravos. Eles
aceitam a escravatura. Aqui vai haver muita malta com os olhos em bico, com os
cruzamentos. Os miúdos desses cruzamentos ficam giríssimos e são muito espertos.
Eu
desdenhei do entusiasmo, assustada com as perspectivas de uma perda da pureza
nacional na questão dos genes e da salada que as nossas escritas, provenientes
dos Camões e dos Pessoas, poderiam formar de mistura com os Confúcios, muito
embora destes só pudessem colher boas ideias, mau grado os Maos
revolucionários. Mas os nossos são os nossos, enquanto o sangue for correndo em veias lusas, não desejamos os
nossos escritores votados ao esquecimento, por muito preparados que estejamos
para tal eventualidade, graças a um Acordo Ortográfico para mentecaptos e a
outras medidas de mentecaptos que nos vão esbatendo da configuração europeia,
perante a indiferença do mundo, esquecido do nosso contributo para ele, mais
apostado no berço clássico da Europa bem falante.
Rui
Knopfli, no seu livro “Reino Submarino”, retrata, pois, esse povo manso
que já então, pelos anos sessenta, se ria de nós, lá nas Áfricas, ciente de que
o mundo inteiro seria seu, mansamente, sem definhamento, com a inteligência da dedicação
nacionalista, de ambição ilimitada, disciplinadamente manipulada, ratos
roedores do grande queijo que apeteceram. Escreveu Rui Knopfli:
“O
povo da China visto do Alto-Maé”
«Eh pá,
a gente pensa na China, / nos compridos campos de arroz / nos milhões de pessoas / como imensos bagos
de arroz, / vivendo lá na China. / É engraçado a gente aqui no Alto-Maé / que
conhece o Kong, magrinho, da hortaliça / com aquela voz engraçada (Stá
plonto patlão), / é engraçado como a gente se engana / com a China, aquele
povo imenso / de Kongs amarelinhos e fala doce / que construiu a Grande Muralha
/ e que constrói a vida / e que, se tem tempo, se ri de nós, / da nossa
pele descolorida, / dos nossos olhos
redondos / e dos erres engraçados com que falamos.»
Rui Knopfli
era poeta e vidente. A minha amiga faz anos hoje, ela ficará contente por ter
um poeta, que ela conheceu, a confirmar o seu pensamento sobre o perigo amarelo
que apontou. Como homenagem de parabéns os transcrevi.
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