segunda-feira, 16 de abril de 2012

Nos sete anos da Mafaldinha


Fiz os seguintes versinhos que a tia Paula ilustrou com belos motivos da internet, mas que o blogue não aceita, numa somítica aridez:
A Mafaldita espertita´
Fez um ditado à vovó
Em 19 de Março,
Que foi o “Dia do Pai”,
Embora fosse também
O Dia da Mãe,
Pois todos os dias
São Dias dos Pais
Que são os maiores
Dos seus amores.
Corrigiu o ditado da vovó
 Com tal rigor,
Que a avó indignada
Viu a sua prosa marcada
Com um somítico Bom
Em vez do Excelente
Que a vovó, que é doutro tom,
Deu à sua Mafaldita
No ditado anterior,
Que ditou com muito amor
Sobre o seu Papá também.
E tudo por uma questão
De incompreensão
Da letra torta
Da avó Berta
Que ela não entendeu
Por não estar tão perfeitinha
Como a que ela escreveu.
Mas a vovó generosa,
Não sente nenhum rancor
Por não ter tido Excelente
No seu ditado em prosa,
Nem mesmo se importaria
Com simples Suficiente.
E hoje, dezasseis de Abril
É dia dos seus sete anos
Uns anos tão jeitosinhos
Que só merecem miminhos.
Mas Mafalda, a professora,
Que já está uma senhora,
Prefere dar o miminho
Ao seu maninho
 Sebastião comilão,
Para depois ir fazer
Os deveres que diz ter,
Que a professora marcou,
Pois Mafalda é uma menina
Cumpridora e perfeitinha
Em tudo o que conquistou.
Beijinhos de parabéns,
À Mafaldinha querida,
Desejando-lhe felicidade
Risonha e certa,
E muitos anos de vida,
Os três avós da netinha,
Pureza, Vitorino e Berta.

A tia Paula associou-se à brincadeira, com os seguintes dizeres, fruto dos seus muitos saberes:
Pois é, Mafalda…
E então a avó Berta,
que é sempre muito esperta,
veio assim atrás da tia,
p’ra que os anos da Mafalda
tenham prosa, tenham verso,
como os anos do Bruno –                  
- os dez que fez noutro dia.
Já não se pode ter ideias
que fujam à monotonia.
Logo temos que as tornar
 uma rotina exemplar.
O blog tem de correr
e a avó Berta, muito certa,
muito porAmaisB,
diz que os anos dos netinhos
são uma letra que se lê;
não constituem uma balda
e merecem poemas lindos.
Então aí vai, Mafalda:
umas bolas, uns meninos,
uns bonecos a saltar,
bolo, fitas e balões,
numa festa de encantar.
E um ano, de seguida,
que te corra sempre bem,
porque tu és muito querida
e mereces, nesta vida,
o melhor que o mundo tem.

E a brincadeira levou-me à evocação de outros sete anos – os meus próprios – em que recebi do meu pai, que estava em Moçambique, no tempo da grande guerra, numa carta que guardo preciosamente, juntamente com outras, uns versos muito mais literários, que talvez um dia a Mafaldinha queira ler, por serem do seu bisavô, que ela não conheceu e que era um homem inteligente e bom:

“Os anjos são pequeninos”
«Nem festas nem parabéns,
Miúda, pode lá ser!
Sete anos! Que pressa tens!
P’ra onde vais a correr?

Eu sei que novos destinos
Te esperam. Mas, que saudade!
Os anjos são pequeninos,
Os anjos não têm idade.

Sete anos, dizem os sábios.
Não creio, fico indeciso.
Julgo inda ver nos teus lábios
O teu primeiro sorriso,

Sorriso feito pelas fadas
Há poucos meses ainda,
Das pétalas orvalhadas
Duma rosa muito linda.

Só a estrela da alvorada
Tão formosa em Portugal,
Poderia, filha amada,
Produzir sorriso igual.

E Deus e Nossa Senhora
Resolveram, de improviso,
Da estrela fazer a rosa
E da rosa o teu sorriso.

A estrela ficou sentindo
A grande diferença e chora.
O teu sorriso é mais lindo
Que o lindo sorrir da aurora.

Sete anos! Será verdade?
Não creio em tais desatinos!
Os anjos não têm idade.
Os anjos são pequeninos.»


É certo que a Mafaldinha não reconhecerá neste retrato tão embelezado de uma menina da sua idade – setenta anos atrás – a figura  de uma avó que se ri para ela, mas que nem por sombras se aparenta a uma aurora de sorriso orvalhado. E nem mesmo a um poente descaindo autoritariamente em fogo.
Precipitações da imaginação e da saudade dos pais ausentes, quando são poetas de alma grande. E do desconhecimento, quando se é pequeno, da veloz dimensão do tempo.




Um comentário:

AJS disse...

Obrigado Mãe e Mana pelas prosas tão perfeitas. Beijos