Fiz os
seguintes versinhos que a tia Paula ilustrou com belos motivos da internet, mas
que o blogue não aceita, numa somítica aridez:
A
Mafaldita espertita´
Fez um
ditado à vovó
Em 19 de
Março,
Que foi o
“Dia do Pai”,
Embora
fosse também
O Dia da
Mãe,
Pois
todos os dias
São Dias
dos Pais
Que são
os maiores
Dos seus
amores.
Corrigiu
o ditado da vovó
Com tal rigor,
Que a avó
indignada
Viu a sua
prosa marcada
Com um
somítico Bom
Em vez do
Excelente
Que a
vovó, que é doutro tom,
Deu à sua
Mafaldita
No ditado
anterior,
Que ditou
com muito amor
Sobre o
seu Papá também.
E tudo
por uma questão
De
incompreensão
Da letra
torta
Da avó
Berta
Que ela
não entendeu
Por não estar
tão perfeitinha
Como a
que ela escreveu.
Mas a
vovó generosa,
Não sente
nenhum rancor
Por não
ter tido Excelente
No seu
ditado em prosa,
Nem mesmo
se importaria
Com
simples Suficiente.
E hoje,
dezasseis de Abril
É dia dos
seus sete anos
Uns anos
tão jeitosinhos
Que só
merecem miminhos.
Mas
Mafalda, a professora,
Que já
está uma senhora,
Prefere
dar o miminho
Ao seu
maninho
Sebastião comilão,
Para
depois ir fazer
Os
deveres que diz ter,
Que a
professora marcou,
Pois
Mafalda é uma menina
Cumpridora
e perfeitinha
Em tudo o
que conquistou.
Beijinhos
de parabéns,
À
Mafaldinha querida,
Desejando-lhe
felicidade
Risonha e
certa,
E muitos
anos de vida,
Os três
avós da netinha,
Pureza,
Vitorino e Berta.
A tia Paula
associou-se à brincadeira, com os seguintes dizeres, fruto dos seus muitos
saberes:
Pois é, Mafalda…
E então a avó
Berta,
que é sempre muito
esperta,
veio assim atrás
da tia,
p’ra que os anos
da Mafalda
tenham prosa,
tenham verso,
como os anos do Bruno –
- os dez que fez noutro
dia.
Já não se pode ter
ideias
que fujam à
monotonia.
Logo temos que as
tornar
uma rotina exemplar.
O blog tem de
correr
e a avó Berta,
muito certa,
muito porAmaisB,
diz que os anos
dos netinhos
são uma letra que
se lê;
não constituem uma
balda
e merecem poemas
lindos.
Então aí vai,
Mafalda:
umas bolas, uns
meninos,
uns bonecos a
saltar,
bolo, fitas e
balões,
numa festa de
encantar.
E um ano, de
seguida,
que te corra
sempre bem,
porque tu és muito
querida
e mereces, nesta
vida,
o melhor que o mundo
tem.
E a
brincadeira levou-me à evocação de outros sete anos – os meus próprios – em que
recebi do meu pai, que estava em Moçambique, no tempo da grande guerra, numa
carta que guardo preciosamente, juntamente com outras, uns versos muito mais literários,
que talvez um dia a Mafaldinha queira ler, por serem do seu bisavô, que ela não
conheceu e que era um homem inteligente e bom:
“Os
anjos são pequeninos”
«Nem
festas nem parabéns,Miúda, pode lá ser!
Sete anos! Que pressa tens!
P’ra onde vais a correr?
Eu sei que novos destinos
Te esperam. Mas, que saudade!
Os anjos são pequeninos,
Os anjos não têm idade.
Sete anos, dizem os sábios.
Não creio, fico indeciso.
Julgo inda ver nos teus lábios
O teu primeiro sorriso,
Sorriso feito pelas fadas
Há poucos meses ainda,
Das pétalas orvalhadas
Duma rosa muito linda.
Só a estrela da alvorada
Tão formosa em Portugal,
Poderia, filha amada,
Produzir sorriso igual.
E Deus e Nossa Senhora
Resolveram, de improviso,
Da estrela fazer a rosa
E da rosa o teu sorriso.
A estrela ficou sentindo
A grande diferença e chora.
O teu sorriso é mais lindo
Que o lindo sorrir da aurora.
Sete anos! Será verdade?
Não creio em tais desatinos!
Os anjos não têm idade.
Os anjos são pequeninos.»
É certo que a Mafaldinha não reconhecerá neste retrato tão embelezado de
uma menina da sua idade – setenta anos atrás – a figura de uma avó que se ri para ela, mas que nem
por sombras se aparenta a uma aurora de sorriso orvalhado. E nem mesmo a um
poente descaindo autoritariamente em fogo.
Precipitações da imaginação e da saudade dos pais ausentes, quando são
poetas de alma grande. E do desconhecimento, quando se é pequeno, da veloz dimensão
do tempo.
Um comentário:
Obrigado Mãe e Mana pelas prosas tão perfeitas. Beijos
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