A fábula de
Esopo
“A
serpente e o caranguejo”
Não é bem o
que eu julgava
Quando da
serpente falava
O caranguejo insensível
De um amigo
desprezível,
- Uma serpente
malfeitora -
A quem ele
apertou a goela
Predadora.
A maioria
das vezes
Os que
morrem são passíveis
De elogios
indizíveis,
Sem qualquer
correspondência
Entre o real
e a aparência.
Mas não foi
esta a moral
Com que
Esopo concluiu
A sua fábula
plural:
«Um
caranguejo e uma serpente
Viviam no
mesmo solo
Mais ou
menos flutuante.
O
caranguejo para com a bela se comportava
Com
rectidão e benevolência
Mas esta,
matreira e com dolo
Sempre
para com aquele se mostrava,
E sem
clemência.
O
caranguejo não cessava
De a
exortar a deixar
As
maneiras tortuosas
E antes a
imitar
A sua
rectidão de senhor.
A outra,
contudo, fazia
Ouvidos
de mercador.
Até que o
caranguejo indignado
O momento
espreitou
Em que a
serpente, dormindo,
E com
maroscas sonhando,
Se
descuidou.
Apanhou-a
pela goela
E matou-a
Sem
nenhuma pena dela.
Vendo o
cadáver estendido
A todo o
seu comprimento,
Exclamou
com sentimento:
“Ah! Tu!
Não é agora
No
momento em que estás morta
Que
devias parar de ser torta
Mas
quando eu to pedia,
Sem que
jamais me escutasses
E nunca te
contivesses.”
Realmente,
O que eu
tenho ouvido sempre,
Sobre os
últimos fins do homem,
Quer seja
velho quer jovem,
São palavras
de gentil sentido
De loas
sobre o finado,
Mesmo que se
tenha comportado
Menos bem.
De vil que
era
Ou pouco
brilhante
Em vida,
Passou a ser
Emérito e impoluto
Agora que
provocou o luto
E já não faz
mal a ninguém.
Mas Esopo é
doutro tempo,
Quando as
fúnebres cerimónias
Se faziam
sem cinismo
E sem as
simpáticas histórias
De ilustres
memórias.
Por isso a
moral dele
Versa mais
Sobre a
utilidade na morte
De quem em
vida quis ser forte
No porte,
Que é como
quem diria,
Hoje em dia,
No cofre-forte.
De grande
importância pois, a sua morte,
Para os
herdeiros do seu cofre-forte.
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