Falou-se
primeiro da chuva, tão necessária aos fogos florestais e até aos incêndios em
edifícios, embora por pouco tempo, que o verão ainda está para vir.
- Coisa horrível
a fábrica moderna, moderníssima, ardeu tudo, lá para o Zêzere. A quantidade de
galinhas, de ovos, é uma coisa inconcebível. Mas a serenidade do dono surpreendeu-me
- disse a minha
amiga sempre pronta a alvitrar com suspeição.
- Não
terá sido ele próprio a incendiar para receber do seguro? – achei eu, também de alvitre
desconfiado, embora sem as configurações dos dos Sherlocks ou Poirots da minha
amizade.
- A
quantidade de gente que vai para o desemprego! Nunca tinha ouvido que tínhamos
a fábrica mais moderna das galinhas e dos ovos.
- Na
questão de volume, temos colossos como o Colombo, temos auto-estradas em barda,
automóveis e telemóveis também em barda. Pequeninos e dançarinos é como nos concebemos.
- Ou
velhacos – alvitrou
outra vez a minha amiga, que não deixa os provérbios pela metade.
E passámos
à questão dos ipods:
- No
tempo da televisão dizia-se que a Internet ia ser uma espécie de big-bang da nova
era, cuja espiral de crescimento não se sabia onde iria dar. Pois está aqui. Na
palma da mão. Já aqui chegámos em 2012. Temos os ipods, os ipads, a internet
reduzida à palma da mão. O sujeito que desenvolveu a ideia de três estudantes
teve a pouca sorte de não ver o seu trabalho. Morreu com sessenta e poucos
anos. O aparelho apareceu o mês passado na América: logo em Portugal se fizeram
bichas para comprar os aparelhos. Não há nenhuma criança que não peça à mãe ou
ao pai. Só há o perigo de roubo.
- Pois é.
Não há criança sem ipod. Será que os deputados sabem disso? É que atacam tanto
o Governo na questão dos subsídios de férias e de Natal, a defender o pobrezinho
do povo sem eles até 2015 - mas devem ser mais anos, e os deputados sabem
disso, que os tróikas é que mandam, e até mesmo já falam em supressão total dos
subsídios – que não devem ter conhecimento dos ipods das criancinhas, embora
reconheçam que há carros e telemóveis q. b. neste país tão amigo de saber
coisas que caibam na palma da mão.
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