quinta-feira, 5 de abril de 2012

Na palma da mão


Falou-se primeiro da chuva, tão necessária aos fogos florestais e até aos incêndios em edifícios, embora por pouco tempo, que o verão ainda está para vir.

- Coisa horrível a fábrica moderna, moderníssima, ardeu tudo, lá para o Zêzere. A quantidade de galinhas, de ovos, é uma coisa inconcebível. Mas a serenidade do dono surpreendeu-me - disse a minha amiga sempre pronta a alvitrar com suspeição.

- Não terá sido ele próprio a incendiar para receber do seguro? – achei eu, também de alvitre desconfiado, embora sem as configurações dos dos Sherlocks ou Poirots da minha amizade.

- A quantidade de gente que vai para o desemprego! Nunca tinha ouvido que tínhamos a fábrica mais moderna das galinhas e dos ovos.

- Na questão de volume, temos colossos como o Colombo, temos auto-estradas em barda, automóveis e telemóveis também em barda. Pequeninos e dançarinos é como nos concebemos.

- Ou velhacos – alvitrou outra vez a minha amiga, que não deixa os provérbios pela metade.

E passámos à questão dos ipods:

- No tempo da televisão dizia-se que a Internet ia ser uma espécie de big-bang da nova era, cuja espiral de crescimento não se sabia onde iria dar. Pois está aqui. Na palma da mão. Já aqui chegámos em 2012. Temos os ipods, os ipads, a internet reduzida à palma da mão. O sujeito que desenvolveu a ideia de três estudantes teve a pouca sorte de não ver o seu trabalho. Morreu com sessenta e poucos anos. O aparelho apareceu o mês passado na América: logo em Portugal se fizeram bichas para comprar os aparelhos. Não há nenhuma criança que não peça à mãe ou ao pai. Só há o perigo de roubo.

- Pois é. Não há criança sem ipod. Será que os deputados sabem disso? É que atacam tanto o Governo na questão dos subsídios de férias e de Natal, a defender o pobrezinho do povo sem eles até 2015 - mas devem ser mais anos, e os deputados sabem disso, que os tróikas é que mandam, e até mesmo já falam em supressão total dos subsídios – que não devem ter conhecimento dos ipods das criancinhas, embora reconheçam que há carros e telemóveis q. b. neste país tão amigo de saber coisas que caibam na palma da mão.

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