Comecei por
apontar o paralelismo entre a linguagem verbal e gestual no discurso do
dirigente Seguro do PS, a sua seriedade comedida resultante do perfeito
equilíbrio entre os dizeres sobre o prolongamento dos prazos de pagamento da
dívida troikista para os naturais amortecimentos da nossa dor populista e a
posição dos dedos e das mãos de Seguro explicando simultaneamente o fenómeno da
filosofia por si expendida, os dedos polegar e indicador em via paralela
inicial, progressivamente as mãos afastando-se e finalmente unindo-se no aprumo
das conclusões, lantejoulas assinalando o compasso.
Parece que
a minha amiga não se sensibilizara com essas imagens etéreas, que a mim
pareceram sintomáticas de uma certa categoria mental por Eça bem caracterizada
nos seus conselheiros Acácios, não já só na sua respeitabilidade,
convencionalismo e vazio formais, mas “enriquecido” numa gestualidade não para
surdos-mudos mas para “ceguinhos” (intelectualmente falando) necessitados de
apoio figurativo, específico dos novos tempos de animação pedagógica.
A minha
amiga despejou o seu parecer, com iracúndia:
- Já
devia estar calado. Alguém devia mandá-lo calar. Ele quer ser primeiro
ministro. O que ele pede é que seja alargado o tempo, esquecido de que eles
autorizaram a entrada da Troika.
E continuou rapidamente, que o nosso tempo é escasso e ela
tinha as medidas cheias das novidades :
-
A Ferreira Leite ontem falou desse Seguro, para ver se ele se cala. Está a
fazer a promoção para ver se nas próximas eleições vai lá. Mas parece que
vivemos num filme de terror. A corrupção faz-se com o maior descaramento e no
entanto há políticos que vêm contar tim-tim por tim-tim. Estes novos parece que
querem pôr o país normal. Em milagres não acredito.
E
acrescentou com ênfase:
- Agora
eu pergunto: Porquê vocês políticos deixaram chegar o país a tal miséria da
corrupção? É porque, se falassem, iam para a rua! Hoje os da Justiça já se atrevem
a dizer que há corrupção nela!
Eu gravava
afanosamente as frases num guardanapo do café, pois esquecera o bloco, na
pressa de ir apanhar o ar diário do meu convívio habitual! E a minha amiga citava
imparável:
- O
Correio da Manhã transcreve a conversa entre Sócrates e Arouca sobre a forma de
definição do curso do PM. Parecem dois anormais! O Arouca reitor de uma
Universidade! A forma como se baixa ao pedido do Sócrates e cozinham o
currículo! Só porque é ministro! E a forma malcriada com que Sócrates se refere
aos investigadores da conclusão desse curso! Depois há os outros casos
miseráveis, que foi tudo parado. Então um país vai viver assim? É miserável! Os
cartões de crédito dos ministros para usarem na sua vida social… Há de ver as
importâncias! O direito que eles têm de gastar! Dão-lhes uma pequena fortuna! A
Ferreira Leite diz que o mal do país é que, quando chegou o euro toda a gente
ficou a pensar que o país era rico. Mas o mal não está aí! O mal está no roubo.
Foi qualquer coisa de extraordinário: "Vamos aproveitar ao máximo!" Criaram-se
empregos fictícios – assessor de imagem! Mulheres criadas à moda! Mas isto é um
país de quê? E porque é que estes economistas não tinham antes esta percepção?
- Com
efeito! – arranquei eu
finalmente, já levantada, na pressa dos afazeres domésticos. - Tanto
Ferreira Leite como Medina Carreira da entrevista de Judite de Sousa já tiveram
cargos no governo. Como foi com eles?
De longa
data se vira o disco que toca o mesmo. Dalida o disse: “Parole! Parole!
Parole!”
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