Falámos dos
comentários que as nossas fotos mereceram no meu blogue – a minha filha, a
fotógrafa, escrevera:” “Realmente a foto ficou tremida, porém as árvores
também abanam com o vento. Mas que isto com imagem é outra coisa, é! Agora só
falta a música.” Ao que eu respondera: “As tremuras são fruto da época,
não se estranha. De l’âge aussi. Quanto à música… é toda interior, que a voz é
de cana rachada. Mas eu agradeço à fotógrafa pelo momento-chave que soube
captar”
A minha amiga, posteriormente,
acrescentou: “Só faltou acrescentar que as árvores morrem de pé”, o que
não era o nosso caso. Reparou no tamanho excessivo das fotos colocadas no
blogue, e eu respondi que pensara que o Dr. Salles lhes reduziria o formato,
habituado que está a lidar com as imagens do seu blogue.
Desta
forma, terminou o nosso momento de glória evocativa, inocente de intenções
pecaminosas, embora não imodesta, em nada comparável, contudo, à de um tal
Erostratus, que, desejoso de celebridade a qualquer custo, não fez mais do que incendiar
o templo de Ártemis em Éfeso, uma das Sete Maravilhas do Mundo. Aquele
permaneceu em obras que o recordaram, entre as quais um texto expositivo em
inglês, de Fernando Pessoa,– «Celebridade e Génio – Erostratus» – outra
de Sartre – novela (terceira) pertencente ao conjunto de seis novelas
intitulado “Le Mur - “Erostrate” – que foca o problema do ódio pelos
homens de um maníaco inteligente, o qual prepara conscienciosamente os seis
assassínios que deseja perpetrar, a última bala da pistola destinada a si
próprio, que irrisoriamente não teve coragem de disparar, fechado entre as paredes
da casa de banho de um café para onde precipitadamente correra a refugiar-se.
Um conto sobre um ser odiento, de um descritivo poderoso despojado de quaisquer
resquícios de boa moral, feito pela personagem Paul Hilbert, na primeira
pessoa, provavelmente já como exemplo da filosofia existencialista que coloca no
homem ateu a responsabilidade única pelos seus actos.
E ao contar
isto à minha amiga, logo ela lembrou os incendiários dos novos tempos, como
seres perversos e impunes:
- Uma
pergunta que eu já tenho feito muitas vezes: Quantos anos de cadeia lhes são
atribuídos quando fica a prova de que foram eles os incendiários? Porque é um
crime tão grande, tão grande, tão grande!… Tinha que ser uma pena muito grande.
Mas a gente nunca mais ouve falar no final daquela história. Deve ser uma pena
muito leve…
- Pois!
O Erostratus primitivo praticou o crime de destruição de um templo célebre,
para ser conhecido, e foi imortalizado, como símbolo, pelo menos no conto escabroso
e violento de Sartre. Os miseráveis incendiários dos novos tempos praticam o
crime encobertamente, talvez a mando dos outros miseráveis que lhes pagam para
isso. Não têm direito a glória, pobres seres que a sociedade até protege, pois
não lhes cita sequer os nomes, a merecer linchamento. Um país que arde, mas
como arde a muitas frentes, não há coragem de pôr cobro a tais sevícias. É bem outra,
a filosofia que a elas preside, nada de existencialismos responsabilizadores e
formadores da personalidade humana, que se pode ir construindo até no ódio, com
uma certa grandeza. Os nossos incendiários pululam no aconchego da obscuridade e da impunidade,
como os demais fautores dos crimes nacionais. Não há volta a dar-lhes.
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