sexta-feira, 8 de março de 2013

2013, 8 de Março

 
           Não me lembro se já alguma vez gravei no meu blog o texto seguinte escrito em 1984, ou seja, há 29 anos. Mesmo que o tenha feito, volto a colocá-lo, para comemorar em alegria o mesmo Dia Mundial da Mulher e responder também ao desafio contido no blog “A Bem da Nação”, no mesmo intuito comemorativo: «Uma sociedade é tão evoluída quanto elevado for o estatuto da mulher » e analisar da sua pertinência nos dias de hoje.

Pelo escrito de 1984, verifico que o estatuto da mulher entre nós cá, se mantém, dentro dos parâmetros de beleza, da mocidade, pelo menos ao nível da televisão, pois dizem-me que são essas as condições para um singrar novelesco que contribui para fortalecer a nossa autoestima.

De resto, tudo o que vai apontado no artigo em causa, em termos de euforia feminil se mantém, as mesmas greves nos transportes, os mesmos traços de operacionalidade da mulher, os mesmos traços do apoio ou do reconhecimento masculino, valorativo da mulher a vários níveis. Só que naquela altura ainda se não falava tanto em criminalidade doméstica, daí que não me sinto muito segura nos bons auspícios com que a frase do Dr. Salles da Fonseca pretende incitar-nos a estudar mais para melhor colaborarmos na evolução da nossa sociedade.

Nessa intenção de aperfeiçoamento estatutário, acabo de ouvir em repetição “A quadratura do Círculo” que ontem perdi, por conta de Morfeu. Verifico, é certo, quanto as mentes masculinas de Pacheco Pereira e de António Costa, que já me pareceram dignas de crédito, como fruto de estudo ou de trabalho ponderado, se mostram cada vez mais presas de sofisma, resultado do azedume contra um Governo a quem não querem reconhecer a odisseica estratégia de governar com seriedade, o primeiro na sua vaidade grotesca de apoiar os seus argumentos com os ditames de uma filosofia arduamente elaborada, o segundo no seu cinismo de adepto de outro partido, parecendo-me que o que os move em parte é uma certa inveja contra um governo que orgulhosamente se mantém ainda de pé, no seu combate insano, e a quem eles não perdoam nenhum deslize. Lobo Xavier mostra-se, realmente, muito acima dos seus parceiros, pela ponderação, honestidade, coerência e educação das suas participações.

Espero que estes considerandos meus sirvam para esclarecer muitas das mentes nossas, femininas – ou não – embora sem a pretensão de impor ditames. Trata-se de uma breve análise resultante duma espécie de asco perante  as “vaidades irritadas e irritantes” que o nosso Camilo em tempos gloriosos de combate literário e libertário também analisara. A diferença está em que, apontadas pelo macho, que machos foram todos os que colaboraram no “Bom Senso e Bom Gosto” tal polémica colheu louros epocais e vindouros. Apontados pela fêmea, o silêncio a serve e lhe serve. Que é de silêncio e paralisia a actual corrente da nossa vida.

Divertamo-nos:

8 DE MARÇO

                    O dia de hoje foi muito cheio de alegrias porque se tratava do DIA MUNDIAL DA MULHER que a ONU decretou para 8 de Março e logo de manhã enquanto preparava os tachos para o almoço ouvi falar nele numa estação emissora com muita música.

                        Disseram coisas muito gentis, referindo-se especialmente às mulheres que trabalham dentro e fora de casa e também às mães e até interrogaram uma futura mãe que ia ter um par de gémeos e estava contente com isso, mas se fosse na China não devia sentir-se assim tão contente pois dizem que agora há lá controlo de natalidade e só é permitido um filho por casal. Felizmente aqui não há controlo nenhum e por isso a senhora interrogada se mostrou tão eufórica que nem deu pela greve dos nossos transportes que só essa empanou um pouco o brilho do nosso Dia Mundial das Mulheres pelo menos o das futuras mães menos eufóricas, obrigadas a andar a pé.

                        Como mulher mãe e trabalhadora hoje fiquei pois muito contente porque os locutores dirigiram saudações sobretudo às mulheres que trabalham e vi assim compensados os meus esforços. Percebia-se que eles também estavam muito satisfeitos por poderem reconhecer o mérito das mulheres que trabalham dentro e fora de casa e nem só uma vez se referiram às mulheres fúteis que passam o tempo a comprar vestuários e jóias para elas, a alindar o corpo e a divertir-se sem pensarem em trabalhar. Até achei que os locutores exageraram um pouco nos elogios às mulheres que trabalham ignorando totalmente as que só se enfeitam e divertem, porque a verdade é que eu sempre pensei que eram estas as preferidas do sexo masculino, pois nos anúncios da televisão a gente vê que quanto mais bem vestidas e perfumadas andam as mulheres mais eles ficam seduzidos e até vão contra os vidros tal a distracção em que os põe a elegância feminina.

                        Depois, à noite, na televisão, também mostraram as lutas das mulheres pela conquista dos seus direitos já desde o século passado e apresentaram marchas nas ruas de uma cidade europeia com mulheres empunhando cartazes e gritando, que não se pareciam nada com as mulheres dos anúncios a quem os homens oferecem flores quando usam perfumes e mais uma vez me congratulei por ser tão trabalhadora, pois pertenço ao grupo das mulheres que hoje foram referidas pela rádio e tevê e os jornais com muitos elogios mesmo sem termos empunhado cartazes.

                        Há quem diga que os homens só têm a ganhar com o trabalho das mulheres dentro e fora de casa, mas quanto a mim não foi por esse motivo que nos elogiaram tanto mas sim porque eles realmente nos acham boas colaboradoras e não houve nenhum paternalismo na maneira como o reconheceram posso garantir porque ouvi tudo enquanto tratava dos tachos e até acharam que a ONU também devia decretar um Dia Mundial dos Homens para haver igualdade de direitos, o que me pareceu muito justo pois sempre discordei das desigualdades sociais mas já soa por aí que a ONU vai decretar esse dia para os homens não se sentirem tão marginalizados na questão das comemorações embora eles possam participar nas do Governo aonde exploram os cargos quase todos mas uma comemoração a mais só lhes vai fortalecer o sentido da justiça por isso a ONU vai acrescentar  o Dia do Homem à Declaração Universal dos Direitos como já o fez para a mulher que não é mais do que ele para ter um dia assim comemorável isoladamente.

                        Há também quem diga que os homens gostam muito que as suas mulheres trabalhem dentro e fora de casa para efeitos de maior equilíbrio orçamental e alimentar, mas que realmente quem eles procuram para o equilíbrio amoroso - porque o homem não vive só do alimento - são as mulheres bem vestidas e perfumadas que têm mais disponibilidades nesse campo por falta de trabalho.

                        Mas como nem os locutores nem os jornalistas se referiram a esses casos, penso que as pessoas que dizem isso são mal intencionadas e deviam mudar de opinião depois de terem ouvido os louvores como eu ouvi às mulheres trabalhadoras  no Dia Mundial das Mulheres decretado pela ONU para hoje oito de Março. («Anuário – Memórias Soltas»,1999, Editorial Minerva)

 

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