São já 27, calhados
neste 10 de Março, os anos que fazes, uns dias mais novinha do que a Ana, numa
parceria das vossas mães – a tua e a da tia Binha, a mãe da Ana – que cresceu desde
o primeiro ano da Faculdade, em amizade grande, que evoluiu em laços familiares
e proximidade habitacional, e continua, em docência, na mesma escola.
27 anos de menina com
um encanto particular, que fazia que te ouvia o nome à distância, pronunciado pelos
teus muitos amiguinhos, quando te ia buscar à escola. Nunca gostaste de
estudar, mas acabaste o teu curso, e hoje és uma menina que trabalha e que
mantém a mesma atracção de doçura sobre as crianças mais novas, e sobre todos
os que te amam.
Escreveu a tua mãe,
para a tua Queima das Fitas os versos que transcrevo, versos para sempre
justos, expressão desse amor de todos nós:
Há vários tipos de fitas...
Há vários tipos de fitas
pela estrada fora...
Estas são para nós as mais gratas,
as mais amplas,
as mais vastas, que te e nos soltam
para o que há-de vir...
Em sobressaltos?
Na vida o que importa é partir.
A viagem é p’ra curtir
e nós queremos,
«minha Caaanta»,
que a faças com um sorriso
azul e rosa.
Em verso ou prosa
Tanto faz!
Enche um manto
de amor e encanto
e voa...
(Mas não à toa!)
Que o que nos apraz,
afinal,
é que consigas a magia
de um lugar
sem par
no porvir.
Queima das fitas da Canta
Há vários tipos de fitas
pela estrada fora...
Estas são para nós as mais gratas,
as mais amplas,
as mais vastas, que te e nos soltam
para o que há-de vir...
Em sobressaltos?
Na vida o que importa é partir.
A viagem é p’ra curtir
e nós queremos,
«minha Caaanta»,
que a faças com um sorriso
azul e rosa.
Em verso ou prosa
Tanto faz!
Enche um manto
de amor e encanto
e voa...
(Mas não à toa!)
Que o que nos apraz,
afinal,
é que consigas a magia
de um lugar
sem par
no porvir.
Queima das fitas da Canta
Fizeste um
dia um anjinho de papel, na escola, para ofereceres à avó, talvez pelo Natal.
Um bonequinho gracioso, em figura de cone bem rodado, com outro cone vindo por
trás, com as pontas laterais soltas formando os braços, a cabeça um círculo
colado no topo do vértice, olhos, boca e nariz pintados, que guardei
religiosamente à vista, no armário com portas de vidro, como símbolo protector
da família, por ser teu. Tens, pois, essa responsabilidade, Catarina, a de
olhares para o mundo em volta sempre com a tua alegria, a tua inteligência, o
teu carinho de menina bem formada.
E tens
sorte, Catarina, no meio de um mundo caótico, consegues ir singrando, por vezes
em sobressalto, por vezes desanimada, mas depressa te erguendo com a coragem de
lutadora que afinal te tens revelado.
Tinha razão
a tua mãe:
“Que o que nos apraz,
afinal,
é que consigas a magia
de um lugar
sem par
no porvir.”
afinal,
é que consigas a magia
de um lugar
sem par
no porvir.”
Muitos
parabéns, Catarina, pelos 27, que nunca o anjo te esqueça, nunca te esqueças do
anjo. Para que não percas nunca a tua alegria irradiante.
E, para que
te envolva também o espírito protector do teu avô materno, com a bênção da avó
Pureza com quem falas e ris tantas vezes, muitas pelo telefone, transcrevo para
ti uma das cartas que ele nos escrevia em verso, durante a guerra, para
Pinheiro, onde vivíamos:
Pequeninas amiguinhas!
Filhas do meu coração!
Respondo às vossas cartinhas
Que acabo de receber
Escritas por vossa mão.
Saberei eu responder?
- O que sente o coração
Não o dizem estas linhas.
Da nossa alma o sentir
Não há palavras no mundo
Que o possam traduzir.
Daí o meu embaraço.
Leva-me um sonho bendito
Junto de vós... Um abraço,
Um beijo, um meigo sorriso,
E tudo seria dito.
Que mais seria preciso?
Minha pena de escrever,
Não sabes o dialecto
Do meu profundo afecto!
Não escrevas!... palavras
minhas
De sentido incompleto,
De incompleta expressão,
Não as escrevas então!...
Ponto final nestas linhas.
.............................................
Com os olhos rasos de água
E o coração enleado,
Filhas, ausente, exilado,
Para escrever aprendi
A rezar todos os dias
Ao toque de Avé-Marias
Só a palavra saudade.
Lourenço Marques, 18 de Fevereiro de 1944
Mas o sentimento da saudade por ti,
Por qualquer dos meus,
Não quero eu vivê-lo nunca,
Como viveu o avô longe dos seus.
É sinal de que continuamos todos aqui,
Apoiando-nos com calor,
Vendo-nos com amor
Frequentemente,
Sem o espectro da emigração
Presente,
Dilatando espaços de comunhão,
Condenando
Irremediavelmente
À solidão.
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