quinta-feira, 14 de março de 2013

De profundis


Mostrei à minha amiga os dois textos de Vasco Pulido Valente de sábado, 9 e de domingo, 10, o primeiro sobre Cavaco Silva – “Um Presidente na reforma” o segundo sobre o governo da Troika – “Uma visita da autoridade” – e logo ela comentou sobre a ironia dos títulos, com que concordou em absoluto, há muito irritada com o presidente, e ultimamente vociferando contra as medidas governamentais que vão destruindo o país e criando a fome nele.

Quanto a destruição, eu, evidentemente, discordei da contemporaneidade, assente numa visão prodigiosamente destrutiva de há, pelo menos, cerca de 39 anos, pois tal significou para o país a cambalhota, sublimada por cravos vermelhos simbólicos, nos nossos alardes vociferantes contra valores que inocentemente e puerilmente eles enterraram, acompanhados de canções da nossa alarvidade mental, e paulatinamente ruinosa por conta das sucessivas governações sempre por eles convictamente floridas para segurar e perfumar o negócio em que se transformou a governança. Quanto à fome, eu lembrei o espectáculo, entre outros, em Março, do jovem cantor canadiano que a minha amiga disse chamar-se Bieber, com uma juventude já de bilhete comprado, de dezenas de euros de custo, e ela logo falou em alguns milhares de ricaços ainda potáveis neste país, possibilitando tal vida de gozos caros, enquanto insiste em que se morre de fome já, por cá.

Eu não discuti mais sobre a vil tristeza em que o país mergulha, resultante de vários factores, o mais grave dos quais me parece ser o não funcionamento da Educação e do Ensino, numa generalização de apatia e indiferença cultural que se repercutirão na formação dos cidadãos da nau desconjuntada e sem rumo em que nos tornámos, mau grado a boa vontade dos que se esforçam por trazer à ribalta as nossas coisas boas, ou todos os que dão o seu contributo com seriedade e empenhamento nos ofícios da sua responsabilidade.
Quanto aos textos críticos de Pulido Valente e de outros tantos críticos da nossa praça, contrabalançados, felizmente, por vozes mais cordatas, não tão empenhadas em exibir sarcasmos contra os que têm por missão resgatar o país do fosso, eu só lembro que alguns desses críticos até governantes foram, e não conseguiram mais do que entrar também no despenhadeiro, apesar das palavras de sensatez e de aviso, confirmativas da sentença que enche o inferno de boas intenções.

E todos os anos os que têm por missão transportar passageiros fazem greves nos transportes para elevarem os seus vencimentos, sem se lembrarem de que aos outros estes foram diminuídos. O mesmo nos estaleiros navais, todos assim sangrando o país para melhor enterrarem o governo, sabendo embora que a todos enterrarão.

Tal foi, desde sempre, a função dos inocentes cravos vermelhos das nossas demagogias altruísticas desmioladas.

Mas “habemus papam”, o mundo inteiro que nele crê clama por Francisco para que interceda, alumiando.

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