«O
castelo de cartas»
É um conto de
Florian que me deu no gotoPor o achar um tanto roto
Não só porque já nem se encontram famílias assim,
Amantes de um viver tão feito de elevação sem fim,
Como se lia nas histórias infantis de antigamente,
Mas porque há nele um ponto de discordância fulcral
No entendimento da gente,
Embora não geral:
«Um marido excelente, sua mulher e os dois lindos filhos
Passavam em paz os seus dias, numa modesta casinha,
Onde tinham vivido os pais, tal como eles,
Em harmonia.
Os esposos, partilhando os arranjos da casinha,
Cultivavam a sua horta, faziam a ceifa,
Com valentia,
E à noite, no verão, comendo sob a parreira,
No inverno, frente à lareira,
Ensinavam aos filhos a virtude, a sabedoria,
Falavam-lhes da felicidade que sempre se obtém
Com o Bem:
O pai, com um conto, alegrava os seus dizeres,
A mãe, numa carícia, os seus olhares.
O filho mais velho, de feitio sério, aplicado
Lia e meditava sem cessar;
O mais novo vivo, gentil, um pouco estouvado,
Saltava, ria, só feliz nos seus jogos, a brincar.
Uma noite, segundo o costume, ao lado do pai,
Sentado a uma mesa onde se apoiava a mãe,
O mais velho lia Rollin, o mais novo, pouco interessado
Em aprender os altos feitos dos romanos ou dos partas,
Empregava a sua arte, a sua concentração,
A erguer, a unir pelos quatro lados,
Um frágil castelo de cartas.
Ele mal respirava, no seu medo, na sua preocupação
De o castelo de cartas destruir.
De repente, eis o mano leitor
Que se interrompe: “papá, diz-me cá:
Porque é que certos guerreiros se chamam conquistadores
E outros fundadores de impérios?
Estes nomes são assim tão diferentes?”
O pai, mente aberta,
Meditava uma resposta certa,
Quando o filho mais novo, radiante de alegria
Por ter conseguido depois de tanta canseira
Colocar no seu castelo o segundo andar,
Exclamou: Acabou!,
E o irmão, resmungando, se zangara,
E de um só golpe a sua obra destruíra,
E o mais novo chorara.
“Meu filho, o pai então respondeu.
O teu irmão é o fundador,
Tu, o conquistador.”»
Informa que muitas vezes os fundadores
Se confundem com os conquistadores.
O próprio Cristo conquistou as almas
Embora com outras armas,
Sendo um extraordinário Fundador.
Sempre os impérios
se fundaram
Por conta
dos que os conquistaram.
Ou vice-versa,
embora os destruidoresTambém sejam considerados fundadores
De outros manes e de outros lares,
Juntamente com os seus pares.
Veja-se a quantidade de fundadores
De Fundações não dependentes
De conquistadores de coisa alguma,
Mas de angariadores de bens próprios
Por aproveitadores que se lançaram
Na derrocada do império
Que os antepassados conquistaram
E fundaram!
Fundação, a grande conquista da nação,
Após a sua destruição,
Sem que ninguém lhes venha à mão
Por especial consideração
Que, em minha opinião,
Não tem razão.
Nem perdão.
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