terça-feira, 12 de março de 2013

Se a Troika “deslargasse”

Mais um texto de Henrique Salles da Fonseca no “A Bem da Nação” de ontem, merecedor de várias adesões de comentaristas concordantes - prova de que o bom senso não morreu totalmente no país, relativamente à falta de gosto de um movimento manhosamente manipulado, sob a aparência de generosidade, por tantos outros cavadores da nossa miséria nacional - a acrescentar aos citados por Salles da Fonseca– os partidários da esquerda demagógica que instiga às greves, no afã não de ajudar o povo “ordenhado”, da expressão de Salles da Fonseca, mas o de arruinar mais depressa o país com a deposição do governo, único causador dos males, na sua visão boçal - e bucal, por encher a boca de espuma altissonante e vilipendiosa contra as práticas de um governo manipulado do exterior e orientado no escrúpulo de salvar o país de uma hecatombe há muito e sucessivamente perpetrada pelos ditos ordenhadores da nação.

O texto, encimado de uma imagem de uma manifestação recente, com gente empunhando um cartaz com os dizeres – QUE SE LIXE A TROIKA / QUEREMOS AS NOSSAS VIDAS - não necessita de desenvolvimento, na objectividade e ponderação dos referentes, e na coragem indignada de quem os cita, lembrando o despropósito da troikofagia bloqueadora do nosso desenvolvimento, caso a Troika nos desse o pontapé de saída – para fora do campo - que mereceríamos, pela arrogância da provocação para o incumprimento.

Todos sabemos isso e fingimos ignorá-lo, e António José Seguro vai granjeando votos na astúcia de um discurso empenhado e empunhado com galhardia altruística de quem se sente o flautista de Hamelin a levar os ratos, submissos à magia musical, para fora da cidade, até se afundarem no mar. A música de Seguro é igualmente mágica, sem desvios na eloquência monocórdica e não deixará de levar os ratos ao mar.

Eis o texto de Salles da Fonseca:

«TROIKÓFAGOS, OIÇAM!»

 «Que se lixe a Troika? Pelo contrário, oxalá a Troika cumpra a missão de que está incumbida!

A mentira está nessas manifestações que têm percorrido as nossas ruas, as de Atenas e as Madrid. As mesmas mentiras já se preparam para marchar pelas ruas de Nikosia, Roma, etc.

Quanto a nós e começando pela frase «o povo é quem mais ordena», já a deveríamos há muito ter substituído por «o povo é quem mais ordenha» nos impostos que o contribuinte paga até à exaustão.

Sim, todas as arengas que se ouvem nesses comícios são falácias puras. Os oradores sabem que mentem e, se não sabem, é porque são ignorantes. E como isso eu sei que não são, concluo que agem dolosamente.

O que aconteceria se a Troika nos abandonasse?

Cessávamos pagamentos sobre o exterior para acedermos a tudo o que consumimos e não produzimos na sequência directa da falta de crédito do sistema bancário nacional para poder financiar essas importações. Para além da ruptura nos abastecimentos alimentares, faltariam os medicamentos importados e os sobressalentes para os equipamentos hospitalares; o comércio automóvel cessaria de imediato e passaríamos a imitar Cuba nos seus «vintage» canibalizados sucessivamente de roubo em roubo para aproveitamento de peças e isso enquanto houvesse combustível; vencia-se TODA a dívida, interna e externa, independentemente dos prazos antes previstos; regressaríamos ao Escudo o que significaria um tsunami nos preços para níveis inimagináveis por efeito conjugado da desvalorização monetária e da escassez da oferta.

Quererão os troikófagos que continue ou basta-lhes o cenário até aqui descrito?

Eis por que não vou a essas manifestações e, quando muito, patrocinarei outras que se lhes oponham.

A Troika está em Portugal por causa dos desmandos a que a demagogia dos políticos, a voracidade dos ordenhadores e o dolo de meia dúzia de facínoras (ainda por aí à solta) conduziu o país.

BASTA de desmandos, chegou a hora de pagar o dinheiro que nos emprestaram porque nós, o país, o pedimos.

E porque não há empregos, chegou a hora de criarmos os nossos próprios postos de trabalho. Sim, bem sei que o problema está em que muitos de nós nada sabemos fazer e que fomos educados para sermos comandados, não para termos iniciativa, para querermos um emprego para toda a vida, para odiarmos o risco.

Que maçada!»

Março de 2013

 E o meu comentário:

«É, de facto, extraordinário que os que sabem a verdade não queiram saber do contexto dos factos que vivemos, e prefiram a demagogia falaciosa, mas que inspira o povo desordeiro nos seus pequenos saberes, que se limita a vibrar com essas falácias da sua conveniência. Hoje ouvi uma dama em altos brados contra um Cavaco indeciso, considerando-o o pior da lista. Mas quando Cavaco aumentou vencimentos e construiu estradas aceitou ser aumentada, e aceitou as estradas do dinheiro a jorros. Tal como eu, como nós. A oposição devia ter sido feita na altura desse desmantelamento, em que todos participámos, sem o termos pedido. Mas continua tudo a berrar, que é um desaforo - PS, BE, PC, Verdes... Uma vergonha, ao som da musiquinha elevadora, com que o governo colabora, até para não ficar mal visto. Mas fica. Uma vez mais, Salles da Fonseca eleva o seu brado corajoso de homem honrado. Inutilmente, mas consola.»

Na busca do termo “deslargar” que as crianças usam e os dicionários não, nem mesmo o da Academia, o que é bué preconceituoso e desmotivante, encontrei o poema seguinte confirmativo, de Miguel Carvalhais Gama, postado em 8/8/2012, não com idêntico intuito crítico, é certo, embarcado que esteve o seu autor na estrada das banalidades temáticas de um passado que, pela foto jovem, nem sequer viveu, mas que bem define certo tipo de mentalidades muito nossas, que a musiquinha “Somos livres” como a gaivota e a papoila etc, dos anos setenta também exprime – ou espreme, que tudo isso viceja de suco, assim como também a “Grândola” da nossa falácia:
DESLARGAR»
 «A estrada dos anos de fome cessou!

Soltaram-se das grilhetas do presente

Abrem-se as pétalas da esperança

A sede de conquistar o desconhecido e o impossível

De tudo abraçar

O poder de concretizarmos a mudança

Vindo da era do conhecimento e da partilha

Chega a paixão de desbravar o futuro

O desejo de voar

Procurar um sentido, a existência

Caminhar no limiar do horizonte

Abrir a terra para a possibilidade

Regá-la de sonho

E colher realidade.»

 
Esperemos que a Troika não boicote as esperanças do nosso poeta e de todos os outros, no sentido do desbravamento, mesmo que este não atinja o limiar do horizonte, que isso é longe.

Nenhum comentário: