Estes de hoje, não sendo gigantes, mais próximos de anões –
não, certamente, os que acolheram a Branca de Neve na sua casinha de simpáticos
mineiros, na floresta – revelam o espírito de arrogância ambiciosa, na falsa
solidariedade com que defendem os realmente mais prejudicados – quais sejam os
desempregados e os empresários falidos – mas que, cerrando os olhos às
realidades subentendidas no texto de Salles da Fonseca – do uso e abuso de
dinheiros de empréstimo, de má aplicação de verbas, dos processos fraudulentos
e morosos numa justiça desterrada dos seus fins, de governos sucessivamente
pactuando com os desmandos de uma corrupção inaudita – fingem ignorar a tarefa
gigantesca do actual governo, de pôr em andamento uma engrenagem que tem que enfrentar
primeiro o resgate de dívida monstruosa, e vão gritando o bota-abaixo da sua
demagogia e do seu desamor pátrio.
É mais um texto de coragem, este de Salles da Fonseca, a
coragem de quem sabe que está lutando contra moinhos de vento reais, que o ignorarão
ou o lançarão ao chão, tal como pretendem fazer com o governo pagador. Um texto
de alguém que trabalha e honestamente se confessa partidário não da Troika mas
do seu dinheiro, que só esse poderá fazer funcionar uma nação perdida no
desrespeito pelo trabalho e no gozo do que não produziu:
«Como Nietzsche poderia ter dito, «nós, os que
somos donos da verdade, não nos conhecemos a nós próprios» e tendemos a exigir
aos troikófagos que nos compreendam sem que nos dignemos explicar-lhes por que
somos troikianos. E o pior é que nem sempre temos plena consciência das nossas
razões.
E porque – começando pelas nossas – as
explicações primam pela ausência, logo saltam impropérios de lado a lado com
ofensas graves às honestas mães da nossa banda. Não é esse o nosso estilo,
procuremos pôr-lhe um fim.
Confessemos, pois, esta nossa falta e tentemos
que os troikófagos entendam as nossas razões. Mais: façamo-lo com humildade e
ponhamo-nos em posição de polir as arestas que os nossos raciocínios possam
apresentar.
Expliquemos-lhes que a nossa aceitação dos
troikistas resulta apenas do facto de eles serem os detentores das «massas» que
nós não temos e de que precisamos como de pão para a boca. E isto, no sentido
literal.
Expliquemos-lhes que não somos traidores à
Pátria e é com enorme pesar que os vemos entrar pela nossa «casa» dentro
“amandando bitaites” sobre o modo como devemos resolver os problemas que eles
nos apontam. E essas são condições «sine qua, non» para que nos forrem a
tesouraria, essa que esvaziámos ao longo de algumas décadas.
Expliquemos-lhes que desde 1974 esta já é a
quarta vez que a nossa banca vai à glória e que isso se deve aos descaminhos
por que gostamos de andar.
Expliquemos-lhes que esta insistência do FMI
na ajuda ao nosso país se deve não ao erro das políticas que eles preconizam para
Portugal mas sim ao nosso desvario logo que eles voltam costas.
Expliquemos-lhes que o «modelo de
desenvolvimento» que alguém se entreteve a construir destruindo o tecido
produtivo nacional, promovendo o consumo e dando prioridade aos bens não
transaccionáveis, era insustentável pois não se pode imaginar uma sociedade
quase inteira a consumir sem produzir. E era isso que acontecia até ao momento
em que os meios de pagamento ao dispor dos consumidores foram há pouco tempo
reduzidos com alguma severidade.
Expliquemos-lhes que o novo modelo de
desenvolvimento não tem que ser determinado pelo Governo – este ou outro que
lhe suceda – mas sim por nós, os que estamos a passar por dificuldades.
Expliquemos-lhes que o fim da crise depende de
cada um de nós e que aos governantes apenas cabe impedir o desastre.
Expliquemos-lhes que também nós não queremos
ser tutelados por estrangeiros ou nacionais e que quanto mais tempo demorarmos
a produzir o que queremos consumir, mais difícil será sairmos do entorpecimento
a que anos de aconchego nos conduziram.
Expliquemos-lhes que está na hora de cada um
dar a volta por cima e que não é tarde para aprender a fazer alguma coisa de
útil.
Expliquemos-lhes que não é indo para o jardim
público jogar à batota, chorar no ombro dos amigos ou blasfemar na tasca da
esquina que se consegue dar essa volta por cima; há que ir ao biscate e o
Gaspar que se lixe!
Amigos troikianos, conheçamo-nos a nós
próprios e confessemos a nossa grande falta. Qual? O silêncio, amigos!»
Março de 2013,
Henrique
Salles da Fonseca
O meu comentário no
”A Bem da Nação”:
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