sexta-feira, 15 de março de 2013

Eu, pecador…


 Um texto do blog “A Bem da Nação”, onde Henrique Salles da Fonseca uma vez mais empunha a sua espada, tal como o cavaleiro manchego, contra moinhos de vento, que tais se podem equiparar, no vento das suas vociferações de sofisma, àqueles, reais, que Dom Quixote confundiu com gigantes.

Estes de hoje, não sendo gigantes, mais próximos de anões – não, certamente, os que acolheram a Branca de Neve na sua casinha de simpáticos mineiros, na floresta – revelam o espírito de arrogância ambiciosa, na falsa solidariedade com que defendem os realmente mais prejudicados – quais sejam os desempregados e os empresários falidos – mas que, cerrando os olhos às realidades subentendidas no texto de Salles da Fonseca – do uso e abuso de dinheiros de empréstimo, de má aplicação de verbas, dos processos fraudulentos e morosos numa justiça desterrada dos seus fins, de governos sucessivamente pactuando com os desmandos de uma corrupção inaudita – fingem ignorar a tarefa gigantesca do actual governo, de pôr em andamento uma engrenagem que tem que enfrentar primeiro o resgate de dívida monstruosa, e vão gritando o bota-abaixo da sua demagogia e do seu desamor pátrio.

É mais um texto de coragem, este de Salles da Fonseca, a coragem de quem sabe que está lutando contra moinhos de vento reais, que o ignorarão ou o lançarão ao chão, tal como pretendem fazer com o governo pagador. Um texto de alguém que trabalha e honestamente se confessa partidário não da Troika mas do seu dinheiro, que só esse poderá fazer funcionar uma nação perdida no desrespeito pelo trabalho e no gozo do que não produziu:

 «TROIKIANOS, CONFESSEMO-NOS!»

«Como Nietzsche poderia ter dito, «nós, os que somos donos da verdade, não nos conhecemos a nós próprios» e tendemos a exigir aos troikófagos que nos compreendam sem que nos dignemos explicar-lhes por que somos troikianos. E o pior é que nem sempre temos plena consciência das nossas razões.

E porque – começando pelas nossas – as explicações primam pela ausência, logo saltam impropérios de lado a lado com ofensas graves às honestas mães da nossa banda. Não é esse o nosso estilo, procuremos pôr-lhe um fim.

Confessemos, pois, esta nossa falta e tentemos que os troikófagos entendam as nossas razões. Mais: façamo-lo com humildade e ponhamo-nos em posição de polir as arestas que os nossos raciocínios possam apresentar.

Expliquemos-lhes que a nossa aceitação dos troikistas resulta apenas do facto de eles serem os detentores das «massas» que nós não temos e de que precisamos como de pão para a boca. E isto, no sentido literal.

Expliquemos-lhes que não somos traidores à Pátria e é com enorme pesar que os vemos entrar pela nossa «casa» dentro “amandando bitaites” sobre o modo como devemos resolver os problemas que eles nos apontam. E essas são condições «sine qua, non» para que nos forrem a tesouraria, essa que esvaziámos ao longo de algumas décadas.

 Sim, já depois de em 1975 os EUA nos terem abonado com um monte de divisas para então não cessarmos pagamentos externos e depois das visitas de Teresa Ter-Minassian, a Técnica do FMI que nos habilitou à toma de algum juízo para podermos ter o aval daquela instituição por duas vezes, em 1977 e 1983.

Expliquemos-lhes que desde 1974 esta já é a quarta vez que a nossa banca vai à glória e que isso se deve aos descaminhos por que gostamos de andar.

Expliquemos-lhes que esta insistência do FMI na ajuda ao nosso país se deve não ao erro das políticas que eles preconizam para Portugal mas sim ao nosso desvario logo que eles voltam costas.

Expliquemos-lhes que o «modelo de desenvolvimento» que alguém se entreteve a construir destruindo o tecido produtivo nacional, promovendo o consumo e dando prioridade aos bens não transaccionáveis, era insustentável pois não se pode imaginar uma sociedade quase inteira a consumir sem produzir. E era isso que acontecia até ao momento em que os meios de pagamento ao dispor dos consumidores foram há pouco tempo reduzidos com alguma severidade.

Expliquemos-lhes que o novo modelo de desenvolvimento não tem que ser determinado pelo Governo – este ou outro que lhe suceda – mas sim por nós, os que estamos a passar por dificuldades.

Expliquemos-lhes que o fim da crise depende de cada um de nós e que aos governantes apenas cabe impedir o desastre.

Expliquemos-lhes que também nós não queremos ser tutelados por estrangeiros ou nacionais e que quanto mais tempo demorarmos a produzir o que queremos consumir, mais difícil será sairmos do entorpecimento a que anos de aconchego nos conduziram.

Expliquemos-lhes que está na hora de cada um dar a volta por cima e que não é tarde para aprender a fazer alguma coisa de útil.

Expliquemos-lhes que não é indo para o jardim público jogar à batota, chorar no ombro dos amigos ou blasfemar na tasca da esquina que se consegue dar essa volta por cima; há que ir ao biscate e o Gaspar que se lixe!

 Sim, essa é conversa que talvez os troikófagos entendam: «o Gaspar que se lixe, vamos todos ao biscate!».

Amigos troikianos, conheçamo-nos a nós próprios e confessemos a nossa grande falta. Qual? O silêncio, amigos!»

Março de 2013,

Henrique Salles da Fonseca

          O meu comentário no ”A Bem da Nação”:
 
«Pois, não nos conhecemos bem, não, o argueiro é mais visível no olho alheio, e os troikianos têm o cisco dilatado enxergado pelas lentes poderosas dos troikófagos, que não querem confessar que comem da troika mas que comem a troika em linhas gerais, mandando-a lixar-se depois, para ficarem bem vistos na vila, enquanto bradam e clamam "aqui d'el-rei contra a troika da contenção, nós não somos o Cristo que não precisa de se alimentar no deserto, nós precisamos de alimento e só os troikas o podem fornecer, mas os pagamentos, como o de Cristo, que nos redimiu os pecados mas não no-los corrigiu, não são connosco, e o governo é parvo (= pequeno, na etimologia latina), a pretender resgatar a dívida aos troikos". Os troikianos acreditam na remissão do governo, e prestam-se à colheita, não sazonal mas mensal e anual, feita por aquele, para darem o seu contributo e se remirem em parte não do pecado original, mas do pecado "tout court". Mas os esforços dos troikófagos, que só atacam ferozmente, sem contextualizarem, são mesmo capazes de lixar governo e nação, que a troika é quem menos se rala nisto tudo, com a sua faca e o seu queijo na sua mão. Os troikófagos são de tal modo míopes que nem querem reconhecer que se não fosse o governo dos pagamentos, não assumiríamos as vantagens que a Troika nos concedeu, quais sejam as de continuarmos a mamar por mais tempo e com menos custo, talvez.»

 

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