quarta-feira, 2 de abril de 2025

Trump e a frustração

 

Em duplicado. Mas Putin não desarma. Nem Trump, de resto, que acham a Ucrânia uma mina. De minérios importantes, naturalmente. Esperemos que a Europa não pense na mina, quando se propõe ajudar. Se é que não haverá por aí, por essa Europa, mais minas para a fome mineral dos ditos aparentes opositores.

Guerra na Ucrânia

Alertas activos

Em directo/ Casa Branca diz que Trump está "frustrado" tanto com Putin como com Zelensky

Moscovo diz que proposta de Trump para cessar-fogo não tem em conta "causas principais" da guerra. Kallas diz provas de "crimes de guerra horrorosos" cometidos pela Rússia são "esmagadoras".

MIGUEL PEREIRA SANTOS: Texto

Actualizado há 8h

Momentos-chave

Há 36mChantagear a Ucrânia com "acordo de paz" é inaceitável

Há 1hCasa Branca diz que Trump está "frustrado" tanto com Putin como com Zelensky

Há 1hEncontrado morto o quarto e último soldado norte-americano desaparecido na Lituânia

Há 2hEUA não se devem deixar enganar pelas "tácticas russas para empatar"

Há 3hRússia diz que não "pode" aceitar versão actual do acordo proposto pelos EUA para cessar-fogo

Há 3hRússia diz que se mantém líder nos mercados energéticos apesar das sanções

Há 4hKallas diz provas de "crimes de guerra horrorosos" cometidos pela Rússia são "esmagadoras". "Não há como negar"

Há 7hUcrânia recebeu nova proposta dos EUA para acordo de minerais durante negociações da semana passada

Há 8hO que se passou até agora

Há 9hMarco Rubio vai reunir-se com aliados da NATO em Bruxelas

Há 10hChefes da diplomacia da Alemanha e Lituânia chegam a Kiev

Há 10hMike Waltz também terá criado grupos sobre guerra da Ucrânia no Signal

Há 11hUcrânia teve primeira noite sem ataques desde acordo para trégua energética

Há 11hTrump "não apreciou" proposta russa para substituir Zelensky

Há 11hAntónio Costa: "Escolha entre investir em defesa e coesão social é errada"

Actualizações em direto

O que se passou até agora

António Costa afirmou em entrevista à Renascença que a escolha entre investir em defesa e em coesão social na Europa é errado, destacando a importância de reforçar a coesão social para sustentar a defesa colectiva. Salientou ainda que as medidas da Comissão Europeia procuram dar margem orçamental para os Estados investirem mais em defesa sem sacrificarem outros investimentos.

Marco Rubio, secretário de Estado norte-americano, estará presente numa reunião em Bruxelas com ministros dos Negócios Estrangeiros de membros da NATO, focando-se nas prioridades de segurança, como a busca pela paz na Ucrânia, e o aumento do investimento em defesa por parte dos aliados.

A Ucrânia registou a primeira noite sem ataques de drones russos desde o acordo para proibir ataques a instalações energéticas. As autoridades de Kiev continuam vigilantes, mas vêem o cessar dos ataques como um passo positivo em direcção a uma trégua energética.

Os chefes da diplomacia da Alemanha e da Lituânia visitaram Kiev como forma de demonstrar apoio à Ucrânia num momento de impasse entre os EUA e a Rússia. Annalena Baerbock, da Alemanha, anunciou um pacote adicional de ajuda humanitária, enquanto Kestutis Budrys, da Lituânia, reafirmou o desejo de apoiar a Ucrânia na sua integração na UE.

Há 36m18:05 Carolina Sobral

Chantagear a Ucrânia com "acordo de paz" é inaceitável

O presidente da Comissão dos Negócios Estrangeiros, David McAllister, considerou que qualquer tentativa de chantagear a Ucrânia com “acordos de paz” para forçar a nação a render-se é inaceitável, uma vez que apenas servirão os interesses do Estado agressor.

“Em primeiro lugar [a prioridade da política externa da UE é] enfrentar as consequências da guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia. Permitam-me que seja muito claro: qualquer tentativa de chantagear a Ucrânia para que se renda em nome de um “acordo de paz” só daria poder ao agressor. Putin não pode conseguir através de negociações o que não conseguiu no campo de batalha”, sublinhou, citado no Ukrinform.

“Nas próximas semanas e meses, continuaremos a manter-nos unidos como parceiros firmes da Ucrânia. Vamos garantir que a Ucrânia dispõe dos meios para libertar o seu povo e impedir novas agressões russas”, acrescentou David McAllister.

Há 1h17:53 Carolina Sobral

Casa Branca diz que Trump está "frustrado" tanto com Putin como com Zelensky

A Casa Branca anunciou que Donald Trump está “frustrado com os líderes de ambos os lados” do conflito na Ucrânia depois de ontem, numa entrevista à Sky News, o líder da Finlândia ter revelado que o Presidente dos EUA está cada vez mais “frustrado” e “impaciente” pela forma como o Presidente russo está a atrasar a assinatura de um acordo que leve a um cessar-fogo.

Há 1h17:41 Agência Lusa

Bruxelas avança com mais 3,5 mil milhões de euros para apoiar a Ucrânia

A Comissão Europeia desembolsou esta terça-feira um terceiro pagamento de 3,5 mil milhões de euros à Ucrânia, ao abrigo do mecanismo criado para o país, elevando o total para quase 20 mil milhões num ano para despesas e reformas.

A Comissão Europeia continua a apoiar a Ucrânia com o desembolso de um terceiro pagamento regular de quase 3,5 mil milhões de euros no âmbito do Mecanismo de Apoio à Ucrânia. Este financiamento (…) permitirá reforçar a estabilidade macrofinanceira do país, apoiar a sua administração pública e fazer avançar reformas fundamentais a longo prazo”, anuncia a instituição em comunicado de imprensa.

O desembolso desta terça-feira eleva o apoio total da União Europeia (UE) à Ucrânia ao abrigo do mecanismo para cerca de 19,6 mil milhões de euros desde o início do programa, a 1 de março de 2024.

Há 1h17:21 Carolina Sobral

Encontrado morto o quarto e último soldado norte-americano desaparecido na Lituânia

Foi encontrado sem vida o quarto soldado desaparecido na Lituânia desde a semana passada, avançou a Casa Branca.

Ontem, o Presidente da Lituânia, Gitanas Nausėda, anunciou a morte de três dos quatro soldados norte-americanos. Em comunicado, o Exército dos Estados Unidos da América também confirmou a informação.

Na semana passada, as forças armadas da Lituânia deram início às buscas por quatro soldados norte-americanos que foram dados como desaparecidos em território lituano, nas proximidades da fronteira com a Bielorrússia, onde se encontravam a fazer treinos tácticos.

Há 1h17:14 Agência Lusa

Avanços russos na Ucrânia abrandam em março pelo quarto mês consecutivo

O avanço das forças russas na Ucrânia abrandou pelo quarto mês consecutivo, com 240 quilómetros conquistados em março, segundo dados do Instituto Americano para o Estudo da Guerra (ISW).

Os dados do ISW, um ‘think tank’ com sede em Washington que monitoriza a situação no terreno desde o começo do conflito, em fevereiro de 2022, revelam por outro lado que a presença das tropas ucranianas na província russa de Kursk está agora reduzida a apenas 80 quilómetros quadrados.

No seu ponto máximo, a ocupação ucraniana em Kursk, iniciada em agosto do ano passado, atingiu 1.300 quilómetros quadrados, o que significa que a contraofensiva russa produziu uma redução de 80% apenas em março.

As forças russas conquistaram menos quase 150 quilómetros de território na Ucrânia em março em comparação com fevereiro, o que indica que a sua progressão tem diminuído todos os meses desde o pico de 725 quilómetros quadrados em novembro de 2024.

Há 2h16:42 Miguel Cordeiro

Investimento na Defesa. "Precisamos de militares e não há"

O Major-General João Vieira Borges afirma que é preciso investir no recrutamento militar em toda a Europa. Garante que é necessária maior pressão diplomática para acabar com o conflito na Ucrânia.

Há 2h16:33 Carolina Sobral

EUA não se devem deixar enganar pelas "tácticas russas para empatar"

Ainda em Kiev, Annalena Baerbock afirmou que os EUA não se devem deixar enganar por quaisquer tácticas do Presidente russo, Vladimir Putin, para empatar citou o The Guardian.

“Na próxima reunião dos ministros dos Negócios Estrangeiros da NATO, vamos deixar claro para os Estados Unidos que não devemos aceitar as tácticas de empatar de Putin”, disse a chefe da diplomacia alemã.

“Só haverá uma paz real e duradoura quando o presidente russo perceber que não pode ganhar esta guerra, que a sua destruição não é bem-sucedida”, afirmou, acrescentando que a Ucrânia tinha de “conduzir as negociações de paz a partir de uma posição de força”.

Há 3h15:45 Mariana Lima Cunha

Rússia diz que não "pode" aceitar versão actual do acordo proposto pelos EUA para cessar-fogo

A Rússia leva as propostas dos Estados Unidos para um cessar-fogo na Ucrânia “a sério”, mas não pode aceitá-las “da forma como estão agora”, disse o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergei Ryabkov, numa entrevista à revista International Affairs Journal, citada pelo Kyiv Independent.

O mesmo responsável diz ainda não ter ouvido um sinal de Trump, dirigido a Kiev, para que “acabe com a guerra” — apesar de a Rússia ter invadido o país. “O que existe hoje é uma tentativa de encontrar uma espécie de esquema que permitisse primeiro chegar a um cessar-fogo”, comentou.

A Ucrânia chegou a aceitar uma proposta dos EUA para um cessar-fogo de 30 dias, mas a Rússia rejeitou-a.

Há 3h15:30 Mariana Lima Cunha

Rússia diz que se mantém líder nos mercados energéticos apesar das sanções

A Rússia mantém uma posição de liderança nos mercados de energia globais apesar das sanções a que está sujeita, assegura o primeiro-ministro russo, Mikhail Mishustin.

De acordo com a agência TASS, Mishustin veio garantir que a Rússia está “proactivamente a expandir” rotas logísticas, “especialmente em direcção a países amigos”, e a financiar infraestruturas adequadas.

Além disso, acrescentou o responsável russo, o país é capaz de suportar de forma “confiável” as suas próprias necessidades.

Há 4h14:57 Mariana Lima Cunha

Kallas diz provas de "crimes de guerra horrorosos" cometidos pela Rússia são "esmagadoras". "Não há como negar"

A chefe da diplomacia Europeia, Kaja Kallas, falou dos crimes de guerra que a Rússia terá cometido na Ucrânia, defendendo que “as provas são esmagadoras” e apontam para crimes “horrorosos”.

Em Estrasburgo, Kallas disse esta terça-feira, num debate do Parlamento Europeu, que “não há forma de negar” provas que se encontram em registos telefónicos usados por comandantes dos canais de rádio russos: “Sabemos exactamente quem são os criminosos”, cita o The Guardian. “Com a tecnologia que temos à mão hoje em dia, a impunidade por crimes de guerra é francamente impossível, desde que investiguemos. E é isso que temos de fazer, porque o número de possíveis crimes cometidos nesta guerra é “simplesmente inacreditável”. Segundo o The Guardian, a responsável europeia condenou a deportação de crianças ucranianas, que considera um dos crimes mais graves e uma violação extrema dos direitos humanos.

Kallas disse ainda que cerca de 170 mil casos criminais foram abertos pelas autoridades ucranianas, que estão a receber o apoio da UE. E acrescentou que a recuperação da Ucrânia virá não só da reconstrução de infraestruturas, mas também da “justiça e responsabilização pelos crimes horríveis cometidos pela Rússia”, porque só isso trará às famílias ucranianas “a paz de espírito” de que precisarão.

Há 5h14:09 Miguel Pereira Santos

Quatro caças F-16 portugueses vão patrulhar espaço aéreo dos países bálticos

Um contingente da Força Aérea Portuguesa com quatro caças F-16 e até 95 militares vai patrulhar o espaço aéreo da região dos países bálticos. Nesta missão de policiamento aéreo da NATO, as aeronaves portuguesas vão ter em Amari, na Estónia, a sua base aérea de operações

“Durante este período, os F-16M portugueses estarão em alerta de forma permanente para identificar, monitorizar e intervir, sempre que determinado, no espaço aéreo da região do Báltico. A missão passa também pela vigilância de aeronaves militares e civis que não cumpram os regulamentos internacionais de voo”, explica o comunicado do gabinete do Chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas.

Esta é a oitava vez que uma força militar portuguesa participa numa missão de vigilância daquele espaço do nordeste da Europa, a primeira realizada com base na Estónia.

Há 5h14:02Miguel Pereira Santos

Moscovo diz que proposta de Trump para cessar-fogo não tem em conta "causas principais" da guerra

A Rússia “leva a sério” as propostas norte-americanas para um cessar-fogo na Ucrânia, mas não as pode aceitar “como actualmente são”, afirmou hoje o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros Sergei Ryabkov. Segundo o governante, as propostas de Washington têm falhado a ter em conta as “causas principais deste conflito”.

Não temos ouvido sinais de Trump para que Kiev acabe com a guerra”, disse Ryabkov. “Tudo o que hoje existe é uma tentativa de encontrar um género de esquema que nos levaria a chegar a um cessar-fogo, na forma como os americanos o vêm”, acrescentou.

Há 5h13:26 Miguel Pereira Santos

Operadora estatal da ferrovia russa foi alvo de ciberataque de larga escala

A empresa pública que opera a ferrovia na Rússia foi alvo de um ciberataque de larga escala hoje que tornaram inacessível o website e aplicação.

Um ataque “DDoS massivo” — um tipo de ataque que visa sobrecarregar um servidor com tráfego malicioso — foi como a empresa estatal russa descreveu o incidente que provocou os problemas que estavam a ser sentidos pelos utilizadores dos seus serviços digitais, admitindo que os esforços para os restaurar estão em curso.

Há 6h13:09 Miguel Pereira Santos

Marcelo sobre rearmamento europeu: "É preciso definir a missão e depois as capacidades"

Marcelo Rebelo de Sousa disse que, no processo de rearmamento dos países da Europa, “primeiro, é preciso definir a missão e depois as capacidades”. Ainda assim, o Presidente da República não tem dúvidas que “a Europa precisa de maior pujança, particularmente se os estados unidos se afastarem”.

Marcelo diz que devem ser respondidas várias questões antes de se começar a investir de forma mais intensa na Defesa. Por exemplo, se os países europeus devem enviar tropas para o território ucraniano, se devem enviar tropas para os países à volta da Ucrânia, que funções devem desempenhar e durante quanto tempo. “Depois daí é que se passa aos instrumentos e as capacidades”, conclui.

Há 7h12:11 Miguel Pereira Santos

Detido ucraniano suspeito de espiar exército polaco e pertencer À Rússia

Os serviços de segurança interna da Polónia detiveram um cidadão ucraniano suspeito de espiar infraestruturas militares polacas, ao serviço dos serviços de informação russos, de acordo com a imprensa.

O suspeito foi acusado de espionagem que pode ser sancionada com entre cinco a 30 anos de prisão. O detido declarou-se culpado e confessou que trabalhava pela Rússia por convicções ideológicas, de acordo com as autoridades polacas.

Há 7h11:43 Miguel Pereira Santos

45 mil pessoas sem electricidade em Kherson, após ataque russo que viola cessar-fogo parcial

Cerca de 45 mil habitantes de Kherson ficaram sem electricidade esta manhã, após um ataque aéreo russo contra um das infraestruturas energéticas da cidade ucraniana, de acordo com o ministro dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia Andrii Sybiha, noticia o The Kyiv Independent.

Este ataque acontece após a Rússia ter anunciado um cessar-fogo parcial, depois de negociações com os EUA na Arábia Saudita, que interditava ataques a estruturas energéticas. Esta manhã, antes da notícia do ataque a Kherson, foi noticiado que, pela primeira vez em muito tempo, a Rússia não tinha feito um ataque aéreo de larga escala contra a Ucrânia, durante a noite.

Há 7h11:23 Miguel Pereira Santos

Ucrânia recebeu nova proposta dos EUA para acordo de minerais durante negociações da semana passada

A Ucrânia recebeu uma nova proposta dos EUA para o acordo de exploração de minerais, na sexta-feira passada, enquanto estavam em curso negociações entre delegações dos dois países.

Hoje, o chefe da diplomacia ucraniana disse numa conferência de imprensa que “a Ucrânia estava pronta para assinar o esboço anteriormente desenvolvido para o antigo acordo. Agora recebemos uma proposta para o desenvolvimento de uma novo texto para o acordo”, de acordo com o The Kyiv Independent.

“Posso confirmar que começámos as negociações com os EUA sobre o texto do acordo. A Ucrânia está determinada a chegar a um texto que represente os interesses dois países”, acrescentou.

Há 8h10:59 Miguel Pereira Santos

Líder parlamentar do partido de Zelensky confirma que não há preparativos para eleições na Ucrânia

Davyd Arakhamia, o líder parlamentar do partido de Zelensky Servidores do Povo, rejeitou estarem em curso quaisquer preparativos para eleições na Ucrânia, de acordo com a imprensa ucraniana.

Arakhamia veio desmentir as notícias que davam conta que Zelensky teria recentemente convocado uma reunião para discutir a questão. “Não há eleições a ser preparadas, não há preparações em curso. Todos os partidos e grupos parlamentares concordaram que as eleições podem ser realizadas seis meses depois da lei marcial ser levantada”, disse.

Há 8h10:46 Agência Lusa

MNE defende que Europa aprofunde integração política e diversifique dependências

O ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel, defendeu hoje que a Europa deve aprofundar a integração política e diversificar as suas dependências como forma de reagir à mudança da ordem mundial e manter a autonomia estratégica.

Chegou o momento da afirmação política europeia”, afirmou Paulo Rangel, durante a sua intervenção no Foro La Toja, que decorre hoje em Lisboa. “É tempo de autonomia estratégica e daquilo que, de forma polémica, o Presidente francês, Emmanuel Macron, chama de soberania europeia”, defendeu o ministro.

Considerando que a crise da covid-19 revelou as vulnerabilidades da saúde na Europa e que a invasão da Ucrânia mostrou as vulnerabilidades energéticas e de segurança, Rangel afirmou que a União Europeia precisa de “um grande ‘kit’ de sobrevivência: na saúde, na segurança, na economia e na defesa”.

A defesa da integridade territorial da Ucrânia tem de ser um objectivo da Europa, referiu Paulo Rangel, avançando com a necessidade de criar “um novo quadro regulador para a relação entre a Europa e a Federação Russa”. “Sim, os europeus, os ibéricos devem dizer ‘sim’ à paz e ao cessar-fogo [da guerra na Ucrânia], mas numa base sustentável”, sublinhou.

Obrigado por assinar o jornalismo que faz a diferença.

“Anime” sem Alma?


Parecem bem lógicos e sensatos os considerandos sobre a despersonalização criativa, no caso da aplicação da IA às obras pessoais. Todavia, não podemos deixar de pensar que a criatividade humana também se recria com o desenvolvimento cultural e tecnológico, de cedências e contributos mútuos, no decorrer dos tempos.

 

“Toda a criança é um artista. O problema é saber como nos mantemos artistas à medida que crescemos” – Pablo Picasso.

RODRIGO ADÃO DA FONSECA Colunista

OBSERVADOR, 01 abr. 2025, 00:175

Nas últimas semanas assistimos a uma invasão das redes sociais por imagens ao estilo “anime”, produzidas através da mais recente funcionalidade do Chat GPT (versão 4.0). Este fenómeno não se limitou a ser um epifenómeno de massas, ao estilo das “modas” da internet. Por exemplo, em Portugal, vários políticos aderiram rapidamente a esta tendência, partilhando versões animadas das suas próprias imagens em redes sociais, numa clara tentativa de explorar o fascínio pela novidade tecnológica.

Esta súbita popularidade evidencia um aspeto recorrente da nossa relação com a tecnologia: o deslumbramento imediato por aquilo que é novo e aparentemente simples, muitas vezes sem reflexão sobre as suas implicações mais profundas.

Desde logo, fazendo tábua rasa a um dos maiores problemas associado à IA: a utilização não autorizada de informação proprietária no pré-treino de modelos de IA de finalidade geral. Estes modelos, como o Chat GPT, são frequentemente treinados com enormes quantidades de dados, muitos deles protegidos por direitos de autor. E se, como indica Ethan Mollick, existem diferenças jurídicas substanciais entre países (por exemplo, o Japão considera que treinar modelos de IA não constitui uma violação dos direitos de autor, não sendo por isso inocente que a moda viral utilize o estilo do nipónico “Studio Ghibli”), vale a pena reflectir além da lei, e perguntar até onde queremos sacrificar, em prol de modas e de um suposto facilitismo, os princípios fundamentais da propriedade intelectual. A discussão está já na ordem do dia, tendo havido vários artistas que resgataram afirmações antigas de Hayao Miyazaki, onde o fundador do “Studio Ghibli” manifesta uma profunda rejeição ao uso da IA na criação artística, considerando que o que daí resulte carecerá de empatia, humanidade e compreensão verdadeira do sofrimento e das emoções humanas. Para Miyazaki, utilizar IA em contextos criativos não é apenas inadequado, mas constitui um verdadeiro insulto à própria essência da vida e à dignidade humana, desprovido que é de sensibilidade e respeito pela experiência real. Este posicionamento é particularmente relevante quando se discute a ética e os limites da utilização da IA, sobretudo em áreas artísticas que exigem uma compreensão profunda e genuína da condição humana.

Picasso, que tanto pintou antes de haver o fascínio pelos oráculos do novo “Deus ex machina” da IA, remete-nos, avant la lettre, para o risco associado à utilização acrítica da IA em contextos criativos: se na nossa génese somos naturalmente criativos, tal como as crianças, essa capacidade pode ser condicionada ou mesmo anulada se recorrermos de forma aditiva às soluções rápidas e imediatas que a IA proporciona. A IA poderá vir a ser valiosa como ferramenta de co-criação, incentivando e acelerando a criatividade num processo colaborativo que expanda as nossas capacidades. Porém, se a utilizarmos apenas como fonte de receitas fáceis, estaremos a perder gradualmente a nossa capacidade genuína de criar algo verdadeiramente novo e significativo, trocando a liberdade criativa por aquilo que é simplesmente cómodo. Como referi numa crónica já antiga inspirada na obra de Kazuo Ishiguro, “Klara and the Sun”, apesar da crescente presença da IA nas nossas vidas, é desejável salvaguardar que características exclusivamente humanas, como a gestão emocional, a empatia e o pensamento crítico, essenciais para interpretar e orientar o uso ético e criativo destas tecnologias, não sejam degradadas, sob risco de, como temos vindo a assistir em “Adolescência”, despojarmos crescentemente as pessoas da sua própria humanidade.

Não tenhamos ilusões: embora a IA consiga replicar estilos e optimizar processos, o verdadeiro ato criativo permanece um processo inerentemente humano e irrepetível, sendo tudo o que é imediato, instantâneo e fácil – como o que temos assistido na geração de imagens –meros fogachos de ego facilitados por uma máquina. A criatividade humana não reside na reprodução de padrões ou estilos, mas na capacidade única de criar algo genuinamente novo, reflexo da nossa experiência, emoções e pensamento crítico. E isso implica esforço, nem que seja a utilização colaborativa com as novas ferramentas da IA.

Sim: a IA apresenta desafios, também, para a exploração das novas fronteiras da criatividade e da Arte (não estivéssemos perante uma ferramenta, e não perante um sujeito pensante), mas é fundamental que todos os que temos mais responsabilidade (neles incluindo, a esforço, políticos e figuras públicas) compreendamos que, mais do que seguir modas passageiras, precisamos perceber como usamos a IA de uma forma consciente, útil, e não fútil.

E foi no uso fútil e viral desta funcionalidade que reside a grande lição do que vimos nos últimos dias, já que a adesão massiva a esta funcionalidade trouxe consequências técnicas inesperadas. A sobrecarga dos servidores da Open AI foi de tal ordem que provocou limitações temporárias no acesso ao serviço. Este efeito secundário aparentemente ignorado pelos utilizadores demonstra que pouco faltará para que tenhamos mesmo de ser selectivos no uso da IA, sem proibições legais ou regulamentares, dadas as limitações objectivas, energéticas e ambientais que um uso indiscriminado e exponencial acabará por provocar.

Sim: porque se há a prazo, como já percebemos, tantas utilizações úteis para a IA, não vamos poder desperdiçar recursos em futilidades. E, não tenhamos dúvidas, não há nada mais sustentável que a criatividade e o pensamento nascidos da energia do cérebro e do génio humanos.

REDES SOCIAIS     INTERNET     TECNOLOGIA     INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL     SÉRIES     CULTURA     COMPORTAMENTO     SOCIEDADE

COMENTÁRIOS
João Queiroz e Lima: Sem a fotografia não teria aparecido o impressionismo, o surrealismo, a arte abstracta... Sem a IA não aparecerá o...                  Jose Leal: O aparecimento destas ferramentas pode também ajudar a perceber melhor o que é criatividade. A verdade é que ao longo dos séculos os artistas sempre foram incorporando avanços tecnológicos que os ajudavam a corporizar a sua criatividade. Nesse sentido é interessante o ChatGPT, pode levar a um aprofundamento da importância da Criatividade. A Criatividade terá sempre a sua importância, e será sempre reconhecida. Espero.                   Maria Paula Silva: Muito bem, como sempre RAF mostra-nos os dois lados da questão. É por isso que, normalmente, estou de acordo com as suas crónicas que muito aprecio. A verdade é que, desde que o Homem existe, desde a Pedra e o Fogo, tudo o que o homem tem inventado pode ser utilizado para o bem e para o mal. Depende sempre do nível de consciência de quem utiliza. São apenas ferramentas, se e quando utilizadas com parcimónia, muito úteis. Se ficarmos grudados nos écrans 24h/dia (há pessoas que atravessam ruas a olhar atentamente para o tlm, há pessoas que dormem com o tlm debaixo da almofada, etc), estu pi di fi camos. A demasiada exposição nas redes sociais, por ex., voluntária, também me parece muito pouco saudável e na maior parte das vezes inútil. Todas estas ferramentas são, ou podem ser, muito úteis, mas também nos fazem perder muito tempo.            António Alberto Barbosa Pinho: Muito bem.               José Piçarra: Não tenhamos ilusões: embora a IA consiga replicar estilos e optimizar processos, o verdadeiro acto criativo permanece um processo inerentemente humano e irrepetível, sendo tudo o que é imediato, instantâneo e fácil – como o que temos assistido na geração de imagens –meros fogachos de ego facilitados por uma máquina. A criatividade humana não reside na reprodução de padrões ou estilos, mas na capacidade única de criar algo genuinamente novo, reflexo da nossa experiência, emoções e pensamento crítico. E isso implica esforço, nem que seja a utilização colaborativa com as novas ferramentas da IA. Sinceramente, não entendo o drama disto. Eu nunca considerei "arte" a replicação que a IA faz a gerar imagens ou textos. É uma curiosidade, uma brincadeira. Obviamente que isto abre portas a abusos e a novos pseudo-artistas que vão achar-se artistas ao usarem estas ferramentas. Aqui a humanidade terá de trilhar o seu caminho enquanto se adapta a esta tecnologia. Mas aqui há vários pontos a considerar. Hoje há n artistas que, com as suas próprias mãos, dedica a sua arte na replicação de estilos artísticos já existentes. Quem nunca ouviu falar de "fanart", em que artistas usam o estilo visual de Miyazaki ou Toriyama, ou o estilo Disney para criarem personagens e cenários? Aí nunca se colocou a questão dos direitos de autor. Tal como nunca se colocou em causa o valor artístico dessas pessoas. Sim, a arte deles não é novidade, é uma dedicatória, um tributo. Mas reconhecemos esse valor e jamais nos passaria pela cabeça vir cobrar-lhes os direitos de autor só porque o desenho faz lembrar o Son Goku ou uma princesa Disney. Ou colocar em causa o seu mérito. Não vejo por que motivo aqui se faria o mesmo relativamente à IA porque, lá está, o que as ferramentas IA estão aqui a fazer não é criar arte. É uma replicação, uma brincadeira. Que não devemos subestimar. Temos é de não ser tontos e chamar as coisas pelos nomes. E saber reconhecer o que tem mérito ou não, nem que esse mérito seja apenas pelo facto de algo ter sido feito pelas próprias mãos de alguém, mesmo que o resultado final não seja nada de especial. Mas queria falar precisamente sobre isso, o mérito artístico. E o que as tecnologias IA vieram expor. Vamos tomar o seguinte exemplo. Eu pego numa imagem conhecida e pago a um artista para a replicar usando um determinado estilo. Depois uso uma ferramenta IA para fazer o mesmo. No fim, tenho duas imagens, uma feita por um artista. Outra por uma máquina. Se eu mostrar ambas as imagens e perguntar a desconhecidos na rua qual delas foi feita por um artista e qual foi feita por uma máquina, saberão responder? A parte pertinente é esta: hoje talvez. Mas e daqui a uns anos, quando a IA estiver mais aperfeiçoada? Quando, por exemplo, for possível gerar filmes de animação inteiramente por IA, tão tecnicamente aperfeiçoados que será muito difícil diferenciar-se de outro filme feito por humanos? Outro exemplo. Um texto, imagem ou música são gerados por IA (sem que isso seja imediatamente revelado) e são colocados à disposição de todos. Esse texto, imagem ou música produzem  efeitos positivos em algumas pessoas, seja uma reacção emocional, seja uma reflexão, etc. Mais tarde é revelado que foi gerado por IA. O efeito positivo que o texto, imagem ou música tiveram deve ser imediatamente desvalorizado só porque foram gerados por máquina? Podemos não reconhecer o dito mérito artístico. Mas podemos, ou devemos, retirar qualquer mérito? O ponto que quero aqui fazer é: o que é que consideramos como mérito artístico? O facto de ter sido feita por humanos? É esse o critério? Porque se for, não é muito forte. Basta olhar para a arte moderna hoje em dia. Tudo é arte. E por ser considerada arte, tem imediatamente valor. Mesmo que seja literalmente uma banana colada numa parede, uma cama desfeita, um quadro com uma linha ao meio, uma sanita de ouro ou um quadro feio sem qualquer mérito artístico. Não só essas porcarias foram colocadas ao mesmo nível de peças históricas e de verdadeiro valor artístico (pelo simples facto de terem sido denominados de "arte"), como elevou socialmente quem as "produziu". Hoje, ser artista é um estatuto e qualquer badameco pode ser considerado artista. Com todas as vantagens sociais que isso implica. Deitaram por terra noções de beleza, proporções, contrastes, Verdade... Hoje o mérito artístico reside na mensagem política e social. Daí que faço aqui a seguinte pergunta: se o que verdadeiramente está em causa aqui não será o "artista", a pessoa com o dito estatuto social e que se sente ameaçado pelas tecnologias IA? Não pelo facto de IA produzir arte. Reitero que não considero o que as ferramentas produzem seja "arte". Mas aquilo que os ditos "artistas" hoje produzem conseguirá brevemente ser produzido, melhor e em massa pelas ferramentas IA. Não serão arte, mas terão o mesmo valor que as peças que estes ditos artistas de hoje produzem. E sim, com isto estou a dizer que grande parte dos ditos "artistas" de hoje faz, para mim, não é arte. É mediocridade e propaganda. Mas, como é "artista", tem imediatamente valor. E sendo maioritariamente de esquerda, estes ditos artistas queixam-se muito da comoditização da sua arte pelas grandes companhias, mas quando eles o fazem apenas para auto-promoção social, aí já não se importam que a sua arte seja apenas uma mera comodidade? Curioso, não é? Mas voltando ao ponto que o Miyazaki fez. Eu concordo em absoluto com o que ele diz. A questão é que não só as palavras dele estão, a meu ver, descontextualizadas - porque, novamente, as imagens ao estilo Ghibli feitas pelo Chatgpt não são arte - como aquilo que ele disse deveria ser uma reflexão mais profunda que agora as ferramentas AI podem, ironicamente, ajudar-nos a perceber. O processo artístico é, sobretudo, um processo pessoal. Na minha opinião, os artistas, os verdadeiros, a pessoa de essência artística, têm a necessidade de reinterpretar o mundo usando a sua arte. Não o fazem por reconhecimento alheio. Fazem-no porque sentem essa necessidade, porque sentem que há uma Verdade mais profunda que deve ser trazida à luz. E, não surpreendentemente, o resultado final consegue tocar no âmago de muita gente, porque, lá está, há uma Verdade subjacente ali que nos é comum e que reconhecemos. Cada um de sua maneira. Isto para dizer, os verdadeiros artistas, a meu ver, continuarão a produzir a sua arte, brindando-nos com a sua visão de beleza e verdade. Mas agora, com a introdução das ferramentas IA, talvez devêssemos aproveitar a oportunidade para fazer uma reflexão filosófica sobre aquilo que tem sido o pretensiosismo, falsidade e vaidade dos ditos artistas modernos, que estão só interessados em propaganda e estatuto social e mover as massas - e que as ferramentas AI, por conseguirem fazer o mesmo e até melhor, revelam a farsa que esses ditos "artistas" são. E assim, talvez, podemos começar a valorizar mais a verdadeira arte, feita por aqueles que não estão preocupados com reconhecimento alheio nem com vaidade mas apenas em transmitir a sua verdade e beleza, desprendida de pretensiosismos e segundas intenções. Mas sim com humildade. Pode ser um romantismo meu, mas acho que temos aqui uma bela oportunidade para fazer essa reflexão. E meter estes pseudo-artistas no seu devido lugar na História: na irrelevância.                      GateKeeper: Top 10. E nem são necessários comentários adicionais. Só não vê quem está com a cara, os olhos e os ouvidos exclusivamente centrados nos ecrãs.

 

terça-feira, 1 de abril de 2025

Bom seria


Que os que têm poder matutassem em textos como este, que termina com a referência a um dos grandes governantes passados, que por isso durou pouco. A época está para os pequenos governantes, sujeitos aos arrazoados lorpas ou torpes dos que distorceram o discurso em nova doutrina que os alcandorou, a esses, aos postos das suas expectativas ambiciosas, a pretexto das novas ideologias de uma fraternidade envolta em baixa intriga.

De 1988 a 2025: um Portugal adiado

O nosso fado não tem de ser este — um país lateralizado, incapaz de assegurar um presente digno aos seus idosos e um futuro promissor aos seus filhos.

MÁRIO AMORIM LOPES Professor universitário e investigador. Membro da Comissão Executiva da Iniciativa Liberal e deputado na Assembleia da República

OBSERVADOR, 31 mar. 2025, 00:1710

Se fizéssemos um plano para a década, a primeira prioridade — na área da política económica — seria a clarificação do regime económico.

Portugal precisa de um regime económico simples, claro e eficaz. Numa democracia pluralista, não há alternativa ao regime económico baseado na iniciativa privada, na afectação de recursos pelos mecanismos de mercado, na força inovadora e disciplinadora da concorrência. O controle da economia pelo Estado, a planificação da actividade económica, a remuneração independente da contribuição para a riqueza colectiva são incompatíveis com a liberdade de decisão e de escolha dos cidadãos, não se coadunam com a complexidade e a mudança rápida da vida económica de hoje, e geram as maiores e mais flagrantes injustiças.

No entanto, Portugal tem tido um regime caracterizado pela presença asfixiante do Estado. Como proprietário, como gestor, como regulamentador, como árbitro, o Estado omnipresente interfere em todos os aspectos da vida económica, é responsável em grande parte pelo caos e improdutividade na afectação de recursos e é o maior obstáculo à melhoria da justiça e à correcção de desigualdades. Inevitavelmente, o Estado acaba por se ver incapaz de conduzir eficazmente as tarefas que, em Portugal como em toda a parte, lhe devem necessariamente caber.

Ao Estado competem, em qualquer sociedade, tarefas políticas e administrativas que deve executar cabalmente. Só o Estado pode garantir os serviços de defesa, justiça e segurança. Ao Estado cabe também um papel importante, em colaboração harmoniosa com a iniciativa privada, na criação de infraestruturas, na segurança social, na educação, na saúde. Só pela limitação do papel do Estado às áreas em que a sua intervenção é indispensável se conseguirá garantir a cabal execução das tarefas do Estado.

Já a melhoria da justiça social implica que se corrijam as desigualdades resultantes da concentração da riqueza e da determinação de rendimentos pelos mecanismos de mercado. Mas a correcção tem de ser prudente e eficaz. A experiência portuguesa mostra bem como, em nome da justiça social e da redistribuição de rendimentos, se generaliza a pobreza, impedindo o desenvolvimento e se praticam as maiores injustiças, pela intervenção contraproducente.

É sobretudo pelo corte das despesas que se deverá reduzir o défice público. É igualmente indispensável inverter o crescimento desenfreado das despesas com o funcionalismo público. A administração pública eficaz exige funcionários competentes e motivados. Os vencimentos terão de subir em termos reais, acompanhando o crescimento económico. É particularmente importante que se remunerem correctamente as funções de chefia e de responsabilidade, por forma a atrair e promover profissionais sérios e com capacidade de gestão. Pelo contrário, é fundamental reduzir o número de efectivos. Em primeiro lugar, é possível obter ganhos de produtividade na administração pública. Depois, haverá que eliminar serviços, racionalizar e fundir departamentos, impedir a criação de novas estruturas.

Quanto ao Sector Empresarial do Estado, o sector público dito produtivo, convém relembrá-lo, é o resultado de um conjunto de nacionalizações levadas a cabo em 1975, sem outro critério que não o de passar para o controlo do Estado as grandes empresas de então. Empresas que, tendo sido criadas ou desenvolvidas antes de 1973, correspondiam a um mercado diferente, a uma situação económica sem comparação com a de hoje, a um tipo de estrutura industrial hoje impensável. A desadaptação destas empresas e a obstinação com que se pretende mantê-las ao arrepio de todas as regras da economia transformam-nas em enormes pesos mortos, travões poderosíssimos do crescimento. A grande generalidade das empresas hoje na posse do Estado [terá] de ser encerrada ou privatizada. As que ficarem não poderão ser protegidas da concorrência, não terão acesso privilegiado ao capital, terão sempre de obter resultados positivos, que representam remuneração adequada dos recursos que lhes estão entregues. Para tal, é necessário restabelecer critérios de profissionalismo e de competência, garantir a independência política, responsabilizar pelos resultados. A tutela governamental deverá limitar-se à definição de objectivos económicos e resultados financeiros a atingir.

Com excepção de duas ou três palavras e advérbios, os sete parágrafos anteriores foram ostensivamente copiados do documento No Caminho da Sociedade Aberta — Objectivo 92. O diagnóstico e os problemas apontados a Portugal, assim como as oportunidades e o plano de acção, são não só actuais, mas críticos para que Portugal se possa finalmente afirmar como um país que ombreia com os seus pares europeus. O nosso fado não tem de ser este — um país lateralizado, incapaz de assegurar um presente digno aos seus idosos e um futuro promissor aos seus filhos.

O documento é de 1988, do Grupo de Ofir, liderado por Francisco Lucas Pires. Ideias inovadoras que surgiram antes do seu tempo, sem o caldo social e cultural pronto para as absorver. Talvez tenha sido esse o caso. E talvez, por isso, Lucas Pires não tenha vivido tempo suficiente para as poder ver implementadas. Mas agora, quase quarenta anos depois, temos novas gerações ambiciosas, inquietas, desassossegadas, que querem um país melhor. Estamos diante de um nova e talvez derradeira oportunidade de fazermos essa transformação. Como escreveu Lucas Pires, «sempre fomos mais dados ao situacionismo, por um lado, ou à ruptura, por outro. Ora, a alternativa é o conceito que está no meio entre situacionismo e ruptura». A alternativa é o reformismo liberal e chegou a sua hora.

POLÍ TICA       LIBERALISMO       ECONOMIA

Comentários (de 11)

GateKeeper: Lixo. Não, nunca pelo copy paste de um extraordinário texto premonitório do F.L. Pires, mas sim pelo arrazoado aproveitamento lorpa à volta dele, deste I woke.

João Floriano: E já lá vão 37 anos desde a publicação deste manifesto de Lucas Pires. Li-o, como acontecerá a muitos outros leitores, como um texto actual que tivesse sido escrito este fim de semana por Mário Amorim Lopes. Quando o texto se referiu à mudança do paradigma económico, eu pensei imediatamente que antes de mexer a sério na Economia, há que reorganizar o Estado e o Poder Judicial. Posteriormente Lucas Pires aponta ao Estado os defeitos que ainda todos lhe reconhecemos passados 37 anos: excesso de funcionários públicos, excesso de intervencionismo, falta de colaboração com o sector privado, digamos que a esquerda diaboliza e abomina o sector privado que quer legitimamente ter lucro, o sector empresarial do Estado. Entre 1988 e 2025 acentuou-se a degradação dos serviços públicos na Saúde, na Educação, nos transportes porque Portugal não se pode preparar para as mudanças que hoje vivemos, sobretudo estar a receber uma grande massa de imigrantes de baixas qualificações enquanto os nossos jovens emigram. Demasiado tempo a ver «passar os comboios», como se costuma dizer. E não me parece que se consigam fazer mudanças de fundo. Para as fazer, o PSD coligado com o CDS e com a IL como se prevê, teriam de ir contra interesses tanto de gente graúda como de arraia miúda. Vimos o que aconteceu com Pedro Passos Coelho, mesmo dentro do seu próprio partido. Quando muito far-se-ão remendos.