terça-feira, 8 de abril de 2025

Estratégias eleitorais


Que só importam aos próprios, no sentido de um suspense por vezes propício. Também eu gostava que Portas concorresse. E ganhasse, está visto. Mas não será fácil, ante a hipótese de um militar governando, a dar seriedade a um país com, por vezes excesso de riso, na opinião dos sérios...

Paulo Portas só deve decidir se avança para Belém a partir do verão

TOMÁS SILVA/OBERVADOR

Portistas analisam calendário, defendendo que decisões não devem acontecer antes das legislativas ou até autárquicas. Portas teria pouco espaço na direita, mas outros candidatos podem sofrer desgaste.

MARIANA LIMA CUNHA: Texto

OBSERVADOR, 06 abr. 2025, 22:0225

Paulo Portas continua a ser uma opção para as eleições presidenciais do próximo ano, mas não dará novidades tão cedo. Longe de ter pressa ou de querer, caso decida aventurar-se numa corrida a Belém, marcar território o mais cedo possível, a ideia é esperar. Pelo menos, até ao verão — só a partir de junho ou julho é que o antigo presidente do CDS decidirá se há espaço e vontade para uma corrida a Belém. No limite, a decisão até pode ser tomada ainda mais tarde.

Em análise, apurou o Observador, estão sobretudo questões que têm a ver com o (intenso) calendário político nacional. Há muito que os apoiantes de Portas têm uma tese: uma decisão anunciada antes de tempo, quando as presidenciais ainda estão longe, traria um desgaste desnecessário aos candidatos mais apressados. Por maioria de razão, antes das eleições de 18 de maio não faria sentido que Portas avançasse num ou noutro sentido.

Mas há até quem admita que o calendário pode ser esticado: como a análise é feita ao calendário deste ano, as eleições legislativas não são o único factor de decisão, uma vez que em setembro ainda há eleições autárquicas. De qualquer forma, o verão será o limite mínimo para fechar uma decisão — até lá, gelo nos pulsos e atenção aos nomes que, do lado direito do espectro político, vão fazendo caminho (e podem ajudar ou limitar as ambições de Paulo Portas).

Portistas torcem por desgaste precoce de Marques Mendes (e colagem ao PSD)

Os portistas comentam, de resto, a pressa dos candidatos que estão a marcar terreno “ fora de tempo”.Marques Mendes é o mais prejudicado pela antecipação”, ouve o Observador. A ideia é que o antigo presidente do PSD, vendo que Henrique Gouveia e Melo dava cada vez mais sinais de se começar a mexer e preparar uma provável candidatura presidencial, se precipitou e quis avançar e marcar território — mas pode agora ser prejudicado pelo desgaste de um ano inteiro em campanha.

Para mais, recorda-se deste lado, havendo eleições legislativas pelo meio, Luís Marques Mendes terá de responder a perguntas sobre Luís Montenegro durante a campanha; se a ideia dos candidatos é alargar o seu potencial eleitoral e ir além das fronteiras dos respetivos partidos, Mendes, que já é muito associado ao PSD, pode ter aqui novo obstáculo.

O antigo presidente do PSD tem levantado a bandeira da éticacomo fez, de resto, durante boa parte do seu percurso político, incluindo quando liderava o partido — e chegou a exigir esclarecimentos de Luís Montenegro, mas depois de este ter dado explicações no Parlamento disse ter ficado “esclarecido” (“eu talvez não tivesse tantas dúvidas quanto outros porque o conheço”, acrescentou).

O argumento — que pode ter a sua dose de wishful thinking — é natural entre portistas, uma vez que a esperança de quem ainda espera ver Portas em Belém, tendo em conta que o espaço à direita é curto e que o espaço do CDS ainda mais curto será, é que o democrata-cristão seja um candidato que alargue essas fronteiras. Até porque há muito que não está publicamente próximo do partido, embora dê o seu apoio durante as campanhas, e com o comentário sobre temas internacionais na TVI tem-se esforçado para atingir um estatuto de senador.

O exemplo de Marcelo e um CDS sem pressa

Por agora, quem apoia Portas mantém-se atento às movimentações da direita, esperando que o desgaste dos primeiros candidatos possa dar-lhe uma oportunidade de última hora para entrar na corrida. Esta semana, a tensão tornava-se evidente, com Marques Mendes a atacar directamente Gouveia e Melo por “andar a fingir e a fazer de conta” que não é candidato, enquanto vai publicando artigos de opinião e faz aparições públicas mas sempre sem responder directamente sobre Belém. Gouveia e Melo acabou por responder, dizendo que já tomou uma decisão mas que só a tornará pública após as eleições de maio. Ora, do lado dos portistas, e existindo a noção de que Portas entraria numa corrida renhida e com o espaço à direita muito marcado, a esperança é que esse calendário seja ainda mais alargado e permita ao antigo líder dos democratas-cristãos aparecer como uma espécie de terceira via, para os eleitores que não se revejam em nenhuma das outras duas opções. Para já, recorda-se que o país ainda vai atravessar uma campanha, com as respectivas complicações do day after — perceber quem consegue formar maioria, se o Presidente da República exige condições específicas, se o programa passa no Parlamento… — a ocuparem o país bem para lá da ida às urnas.

E também se recorda que decidir sobre uma candidatura depois disso, ou até depois das autárquicas, não seria propriamente uma opção de estranhar — Marcelo Rebelo de Sousa desfez o frágil tabu da sua candidatura em outubro de 2015, três meses antes de ir a votos pela primeira vez.

O calendário mais alargado também faz com que no CDS se adie uma decisão sobre um possível apoio.O ciclo das eleições presidenciais ainda não se abriu no CDS”, diz ao Observador uma fonte da direcção do partido. Só depois de esclarecida a vontade de Portas é que os democratas-cristãos poderão decidir se podem enveredar pelo seu rumo natural, que seria um apoio ao antigo presidente; se — opção mais admitida no partido — cedem, mesmo que sem particular entusiasmo, à opção Marques Mendes, uma vez que no contexto da coligação com o PSD essa seria a segunda opção mais lógica e mais pacificadora à direita; ou se, como defendem alguns elementos do partido, há espaço para olharem para Gouveia e Melo como uma alternativa viável     

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COMENTÁRIOS (de 25):

Liberales Semper Erexitque: Está muito acima do panorama que se apresenta. No entanto, os tugas nunca o apreciaram realmente.

Pertinaz: Pobre Marques Mentes… 😂😂😂

unknown unknown: Olhe que o Almirante é entendido em submarinos!

Lupus Maris: A verdade é que após a derrota de hoje, os portistas não têm grande calendário!...

 

segunda-feira, 7 de abril de 2025

Na realidade


Putin, um homem de realização bem explícita, pese embora o irrealismo monstruoso de tanta fealdade moral, Polifemo de atalaia na cadeira do seu covil, que um “Ninguém” de passagem, engana com a coragem da sua perseverança. Mas Polifemo continua de atalaia, na irredutibilidade da sua embriaguez de glória e vã cobiça. Até quando?

Mundo / Guerra na Ucrânia

Alertas activos

Em directo/Zelensky manda ministros intensificar contactos com parceiros em matéria de defesa aérea"

Zelensky deu "instruções ao ministro da Defesa e ao ministro dos Negócios Estrangeiros para intensificarem os contactos com os parceiros em matéria de defesa aérea”, escreveu no Telegram.

MARIANA MARQUES TIAGO:Texto

Actualizado Há 9h

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

OBSERVADOR, 7/4/25

Momentos-chave

Há 12hNúmero de mortos no ataque de ontem em Kryvyi Rih sobe para 20

Há 13hMacron defende “acção forte” se a Rússia continuar a “recusar a paz”

Há 14hZelensky afirma que Moscovo quer manter capacidades de ataque no mar Negro

Há 15hKiev vai enviar equipa aos EUA para negociar novo esboço do acordo sobre minerais

Há 16hZelensky mandou ministros "intensificar contactos com parceiros em matéria de defesa aérea"

Há 16hNovas negociações entre Rússia e EUA poderão acontecer "já na próxima semana"

Há 17hReino Unido encontra sensores russos usados para espiar submarinos

Há 17hEdifício de canais públicos ucranianos ficou destruído com ataque russo

Há 21hAtaques russos "são resposta de Putin aos esforços diplomáticos internacionais", diz Zelensky

Há 21hRússia ataca capital ucraniana durante a madrugada

Actualizações em direto

Entrada em destaque

MADALENA MOREIRA

O que aconteceu até agora:

Volodymyr Zelensky, Presidente da Ucrânia, anunciou novos ataques com mísseis russos a partir do mar Negro, acusando Moscovo de bloquear deliberadamente um cessar-fogo e de distorcer a diplomacia para manter a capacidade de atacar cidades e portos ucranianos. Zelensky destacou que há duas prioridades principais: a defesa aérea e o reforço dos contingentes militares, o que levou a instruções para intensificar contactos com parceiros internacionais nesta matéria.

O Presidente francês, Emmanuel Macron, condenou os ataques russos recentes sobre várias cidades ucranianas, incluindo Kiev, e pediu uma acção forte se a Rússia continuar a recusar um cessar-fogo. Macron sublinhou a necessidade urgente de alcançar um cessar-fogo e lamentou que a Rússia continue as hostilidades, mesmo após a Ucrânia ter aceite uma oferta de cessar-fogo total e incondicional mediada pelos Estados Unidos.

Um ataque de míssil russo a Kiev resultou na destruição parcial de um edifício que albergava os escritórios de canais públicos ucranianos que transmitem em línguas estrangeiras, embora sem causar feridos. Este é um dos vários ataques registados durante a madrugada, afectando distritos da capital como Darnitsa, Obolon e Solomiansk, e causando incêndios em vários edifícios.

Sensores alegadamente russos foram encontrados no fundo do mar da Grã-Bretanha, aparentemente destinados a espiar os submarinos nucleares britânicos. A Royal Navy britânica localizou alguns destes dispositivos, enquanto outros foram acidentalmente levados para a costa. Esta situação foi revelada por uma investigação do Sunday Times, que apontou Moscovo como responsável por colocar tais dispositivos nas águas britânicas.

Há 12h19:05 Madalena Moreira

Número de mortos no ataque de ontem em Kryvyi Rih sobe para 20

O número de mortos no ataque russo de ontem à cidade natal do Presidente ucraniano subiu para 20, avançou o responsável pela administração militar da cidade, citado pelo Kyiv Independent.

Um homem de 57 anos morreu hoje no hospital. Entre as restantes vítimas mortais do ataque russo com mísseis balísticos estão nove crianças. O ataque feriu ainda 75 pessoas, entre as quais 15 continuam hospitalizadas. Outras duas crianças estão em estado crítico.

Há 13h18:01 Agência Lusa

Macron defende “ação forte” se a Rússia continuar a “recusar a paz”

O Presidente francês, Emmanuel Macron, lamentou hoje os novos “ataques mortais” da Rússia na Ucrânia e apelou a uma “acção forte” se Moscovo continuar a “recusar a paz”.

“Estes ataques russos têm de acabar. Precisamos de um cessar-fogo o mais rapidamente possível. E de uma acção forte se a Rússia continuar a procurar ganhar tempo e a recusar a paz”, defendeu o chefe de Estado francês na rede social X.

Nesta publicação, Macron denunciou que, no sábado à noite, “vários ataques russos tiveram como alvo áreas residenciais” na capital Kiev e em várias outras cidades ucranianas.

“Enquanto a Ucrânia aceitou a oferta do Presidente Trump de um cessar-fogo total e incondicional de 30 dias há quase um mês, e enquanto trabalhamos com todos os nossos parceiros em maneiras de alcançar a paz, a Rússia continua a guerra com intensidade crescente, ignorando os civis”, salientou o Presidente de França.

Há 14h16:51 Madalena Moreira

Zelensky afirma que Moscovo quer manter capacidades de ataque no mar Negro

Volodymyr Zelensky afirmou que a Rússia lançou hoje novos ataques com mísseis a partir do mar Negro e acusou novamente Moscovo de bloquear um cessar-fogo de forma consciente — os Estados Unidos têm estado a mediar uma trégua marítima que impede estes ataques.

“Esta é uma das razões por que a Rússia está a distorcer a diplomacia, por que está a recusar um cessar-fogo incondicional — eles querem preservar a sua capacidade de atacar as nossas cidades e portos a partir do mar”, acusou o Presidente ucraniano no seu habitual discurso diário.

Há 15h16:45 Agência Lusa 

Kiev vai enviar equipa aos EUA para negociar novo esboço do acordo sobre minerais

Kiev vai enviar uma equipa a Washington na próxima semana para iniciar as negociações sobre um novo esboço de acordo que daria aos EUA acesso aos recursos minerais da Ucrânia, anunciou hoje a ministra da Economia ucraniana.

“O novo esboço do acordo dos EUA mostra que a intenção de criar um fundo ou investir em conjunto se mantém”, afirmou Yuliia Svyrydenko à agência Associated Press, durante uma viagem ao norte do país.

A delegação de Kiev incluirá representantes dos ministérios da Economia, dos Negócios Estrangeiros, da Justiça e das Finanças.

“O que temos agora é um documento que reflecte a posição da equipa jurídica do Tesouro dos EUA”, disse Svyrydenko, para quem “esta não é uma versão final, não é uma posição conjunta.”

“É evidente que os parâmetros completos deste acordo não podem ser discutidos ‘online’”, adiantou a ministra, salientando a necessidade de os dois lados se encontrarem presencialmente para avançar com as negociações.

Há 16h15:05 Mariana Marques Tiago

Zelensky mandou ministros "intensificar contactos com parceiros em matéria de defesa aérea"

“Está a ser preparada uma reunião. Dei instruções ao ministro da Defesa e ao ministro dos Negócios Estrangeiros para intensificarem os contactos com os parceiros em matéria de defesa aérea”, detalhou o líder ucraniano no seu canal do Telegram.

Segundo Volodymyr Zelensky, “há duas tarefas principais: a primeira é a defesa aérea e a segunda são os contingentes, aproximando o mais possível todas as decisões, trabalhando todos os pormenores.

Há 16h14:53 Mariana Marques Tiago

Novas negociações entre Rússia e EUA poderão acontecer "já na próxima semana"

Novas conversas entre Rússia e EUA para atingir um cessar-fogo na Ucrânia poderão acontecer “já na próxima semana”.

A hipótese foi colocada em cima da mesa por Kirill Dmitriyev, presidente do Fundo Russo de Investimento Directo (RDIF) e enviado especial de Putin, em entrevista ao Channel One citada pela agência noticiosa TASS.

No entanto, até ao momento não há nenhuma confirmação oficial de que tal vá acontecer.

Há 17h14:42 Mariana Marques Tiago

Reino Unido encontra sensores russos usados para espiar submarinos

Nas profundezas do mar da Grã-Bretanha estavam escondidos sensores alegadamente russos, que teriam como objectivo espiar os submarinos nucleares do Reino Unido, avança o Sunday Times.

Alguns destes aparelhos foram localizados pela Marina Real britânica, enquanto outros terão dado, acidentalmente, à costa.

O Sunday Times levou a cabo uma investigação jornalística de três meses, na qual falou com mais de 12 antigos ministros da Defesa, assim como membros das forças armadas britânicas.

Segundo o jornal — que não cita fontes e não quis detalhar em que locais terão sido colocados os sensores — Moscovo terá sido responsável por colocar os dispositivos nas águas, com o objectivo de obter informações sobre os quatro submarinos britânicos Vanguard, que têm a capacidade de transportar mísseis nucleares.

Há 17h14:07 Agência Lusa

Edifício de canais públicos ucranianos ficou destruído com ataque russo

Um ataque de míssil russo sobre Kiev destruiu parcialmente, durante a noite, um edifício que albergava os escritórios de canais públicos ucranianos que transmitiam programas em línguas estrangeiras, sem causar feridos, noticiou este domingo uma cadeia de televisão.

“Durante a noite de 6 de abril, um ataque de míssil balístico russo sobre Kiev causou uma destruição significativa nos escritórios que albergam espaços editoriais da empresa de difusão estrangeira do Estado da Ucrânia”, anunciou a cadeia de televisão Freedom, em comunicado, acrescentando que a sala da redacção ficou destruída.

Nenhum funcionário ficou ferido neste ataque, segundo a mesma fonte.

Os três últimos andares do centro empresarial onde estavam instalados os canais de televisão ficaram completamente destruídos, existindo uma grande cratera nas imediações, referiu aquele meio de comunicação social.

Há 21h10:09 Mariana Marques Tiago

Ataques russos "são resposta de Putin aos esforços diplomáticos internacionais", diz Zelensky

“O número de ataques aéreos está a aumentar… Durante a última semana, lançaram mais de 1460 bombas aéreas guiadas, quase 670 drones de ataque e mais de 30 mísseis de vários tipos contra cidades e aldeias ucranianas”, escreveu Volodymyr Zelensky no seu canal de Telegram.

O primeiro-ministro ucraniano aproveitou a publicação para confirmar os ataques desta madrugada: “Esta noite usaram mísseis balísticos contra Kiev e drones de ataque na região. Também foram efectuados ataques nas regiões de Mykolaiv, Sumy, Kharkiv, Khmelnytskyi e Cherkasy.”

Para o líder ucraniano, “estes ataques são a resposta de Putin a todos os esforços diplomáticos internacionais”, até porque “cada um dos países parceiros percebeu que a Rússia ia continuar a lutar e a matar”. “Não pode haver um abrandamento da pressão”, rematou.

Há 21h09:53 Agência Lusa

Rússia ataca capital ucraniana durante a madrugada

A Rússia atacou, durante a madrugada, a capital da Ucrânia com mísseis balísticos. Foram registados pelo menos três feridos e vários incêndios em edifícios e lojas, informou hoje o Serviço Estatal de Emergência.

As sirenes antiaéreas começaram a soar depois da meia-noite, em Kiev, e só pararam por volta das 6h (hora local).

No total, três pessoas ficaram feridas, como consequência dos bombardeamentos, duas das quais foram hospitalizadas, disse o Serviço Estatal de Emergência, no Telegram.

No ataque, foram afectados os distritos de Darnitsa, Obolon e Solomiansk, da capital ucraniana.

Ocorreram incêndios num edifício não residencial no primeiro dos três bairros, numa loja de móveis e num armazém, segundo a mesma fonte, e numa fachada de um armazém no terceiro. Houve ainda destruição parcial de três andares de um centro comercial de cinco pisos.

Os sistemas antiaéreos russos derrubaram, durante a noite passada 11 drones ucranianos sobre três regiões russas.

Há 22h09:49 Mariana Marques Tiago Bom dia. Retomamos aqui a cobertura da guerra entre a Rússia e a Ucrânia. Pode rever o que aconteceu no passado sábado no liveblogque agora encerramos. Obrigada por 

Questões pertinentes


Postas por AAA, dos desafios que a conjectura política actual, com uns States glutões e antieuropeístas ou até antihumanistas selváticos sob o comando do seu chefe de brinquedo, a querer alargar o tamanho do seu espaço governativo, desafios que a ausência de escrúpulos desse novo chefe de governo tem revelado pateticamente temerários: não seria de estranhar que os Açores fizessem parte dessas suas ambições de absorção territorial, com a sua Base das Lajes que também a NATO não iria disputar-lhe, com os actuais desafios de ajuda à Ucrânia. De resto, Portugal está habituado a render-se, de há uns tempos a esta parte, não irá disputar com os States, nem talvez os Açores se preocupassem grandemente com mudar de patrono, para mais oferecendo melhores condições de sobrevivência. Quanto à federação europeia… pois é! Tem pouco para participar, Portugal. A menos que a Madeira fique como moeda de troca. De trocos.

Os dois desafios de Portugal

Como é que Portugal vai reagir se os EUA quiserem falar dos Açores? Se a UE contrair dívida para pagar a defesa, como é que Portugal se vai inserir numa possível federação europeia?

ANDRÉ ABRANTES AMARAL Colunista do Observador

OBSERVADOR, 06 abr. 2025, 00:2029

As alterações ao sistema internacional e ao equilíbrio que até há pouco dávamos como certo obrigam a que nos preparemos para o pior dos cenários. Não por pessimismo, mas por cautela. O afastamento dos EUA da Europa altera a posição de Portugal no mapa dos blocos. Se até Janeiro nos encontrávamos no centro do Ocidente, agora estamos na ponta do bloco europeu. E isso pode ter consequências.

Nos anos de 1940 e 1941, enquanto Hitler hesitava em lançar por terra a Operação Félix de tomada de Gibraltar, a invasão da Península Ibérica e a eventual conquista de Portugal. A pretensão germânica era a de dividir o mundo em esferas de influência com os EUA a dominarem o continente americano enquanto o europeu se submeteria a Berlim. Para levar a cabo esta divisão, Hitler teria de derrotar a Grã-Bretanha, tomar a Islândia, os Açores, a Madeira, as Canárias, Cabo Verde e Gibraltar. Só dessa forma garantia a liberdade de navegação no Atlântico, o acesso ao Mediterrâneo e o controlo do Norte de África. Os EUA sabiam o que estava em jogo. Os Açores ficam mais perto da costa leste dos EUA que o Hawai da Califórnia. Roosevelt, que conhecia os Açores, chegou a dar instruções para que se preparasse um plano de ocupação do arquipélago. Se o Atlântico era a fronteira entre os blocos, as ilhas Açores teriam de ficar do lado de lá.

Hitler é uma personagem do passado, mas os interesses mantêm-se. O que referi acima serve apenas para ilustrar como alterações nas alianças ou na confiança entre estados podem mudar fronteiras de zona de influência. Por alguma razão, Trump fala tanto da Gronelândia. Até ao presente não temos quaisquer garantias que, resolvido este problema, o presidente norte-americano não se lembre dos Açores. Até porque os EUA precisam de ter debaixo de olho quaisquer navios que a China e a Rússia tenham no Atlântico. A China já tem um pé em São Tomé e Príncipe e em Janeiro assinou um Acordo de Cooperação Económica e Técnica com Cabo Verde. Se os norte-americanos não confiarem em Portugal, e se sentirem necessidade de agir, não vão pensar duas vezes.

O objectivo primordial de qualquer política externa é garantir a integralidade do território. No que nos diz respeito é que finda esta turbulência, que é a reorganização do equilíbrio mundial, Portugal continue a ser do Minho ao Algarve e a incluir os Açores e a Madeira. É o nosso dever básico enquanto cidadãos: que os que vêm depois de nós recebam o que nos foi entregue.

Portugal é um pequeno país escasso em recursos e com um mercado diminuto. Fosse através das descobertas, pela conquista ou por via da procura e abertura a novos mercados, a expansão foi uma obsessão permanente ao longo dos séculos. Tivéssemos ficado aqui e dificilmente estaríamos à beira dos 900 anos. Portugal acabou por ser uma invenção permanente com vista a se manter vivo. Como salienta João Paulo Oliveira e Costa, em “Portugal na História – Uma Identidade”, o nosso país adaptou-se aos locais onde esteve. Foi peninsular, tornou-se atlântico, asiático, brasileiro, africano e agora é europeu. Renovou-se constantemente e, apesar de ser o mesmo, não é igual ao que foi no passado. Daí que seja natural que se pergunte: como é que vai ser Portugal daqui a 50 anos? E daqui a 100? Continuamos de pedra e cal no projecto europeu? E a União Europeia? Ter-se-á dissolvido ou transformado numa federação?

A necessidade em investir em defesa pode forçar a UE a endividar-se. A margem para a dívida conjunta não é grande porque a União ainda está a pagar a resposta à pandemia. O certo é que dos 800 mil milhões de euros que Ursula von der Leyen disse serem necessários para gastar em defesa, 150 mil milhões serão suportados por empréstimos contraídos pela Comissão Europeia. Aos poucos, a dívida europeia vai crescer e a pressão para uma política fiscal única irá aumentar com ela. Normalmente uma só política fiscal é meio caminho andado para uma federação, ou algo muito parecido. Uma federação tem como consequência os estados federados perderem a sua soberania externa. Será que isso é viável para Portugal? E se for, como é que o espaço e os interesses comuns que partilhamos com outros povos se vai manter?

Não perder território e a nova identidade que vamos ter de forjar são dois dos grandes desafios para os próximos anos. Como sucedeu noutros momentos de transição, a maioria das pessoas está mais preocupada com assuntos mais imediatos. Mas daqui a uns anos, que podem não ser assim tantos, o que vai ser discutido é a resposta que dermos a estas duas questões. Não vai ser Luís Montenegro nem a Spinumviva.

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COMENTÁRIOS (de 29)

Américo Silva: Ninguém conhece o futuro, nem o que vai acontecer à economia com as tarifas, mas sabemos que quem o seu não cuida, o diabo o leva: a União tem andado preocupada com a Sérvia, a Líbia, a Síria, o Irão, a Ucrânia, e alheia de si própria, a factura pode chegar a conta-gotas, mas chega.

Luis Figueiredo > João Floriano: e com estes líderes na Europa e em Portugal, nós nunca estaremos preparados para grandes desafios. A solução é ficar permanentemente dependente das vontades e humores das grandes potências. Seria um pouco sempre assim, mas nunca como agora temos diante dos nossos olhos a perfeita inutilidade de toda esta cam(b)ada de politiqueiros, ou melhor, de verdadeiros ilusionistas.               Francisco Almeida: Tantos, tantos comentários que este artigo me suscita. Mas vou cingir-me aos Açores. Os Açores são um arquipélago de origem vulcânica, povoada maioritariamente por imigrantes originários de fora de Portugal continental. Tal como Cabo Verde. Claro que há diferenças. Um fica a Norte do Trópico de Capricórnio outro a Sul. Um é de população branca outro de população negra (segundo os critérios americanos). Reportando a 1974 nos Açores havia muito mais desejo de independência do que em Cabo Verde. Para refrear a FLA foram enviados meios de marinha e presos numa fragata os principais dirigentes. Para entusiasmar a independência de Cabo Verde, foi desarmada a polícia e entregues as armas a militantes do PAIGC, a maioria vinda da Guiné. À cautela, foram deportados cerca de 300 pessoas que poderiam encabeçar um movimento ou partido político e o MFA - sempre ele! - replicou em Cabo Verde as célebres sessões de esclarecimento (=sessões de intimidação). É verdade que o desejo de independência dos Açores era alavancado, se não motivado, pela perspectiva da instalação de um governo comunista em Lisboa. E agora? Imaginemos uma nova geringonça com PNS e o agravamento da crise atlântica. Depois das brilhantes alterações à lei da nacionalidade - o que seria de nós, portugueses sem o dr. Mamadu Ba! - podem votar até netos de portugueses. Isto é. Com elegibilidade eleitoral há hoje o dobro dos açorianos a viver nos EUA do que nos Açores.              João Floriano: «Se os norte-americanos não confiarem em Portugal, e se sentirem necessidade de agir, não vão pensar duas vezes.» Sem dúvida. E Portugal não terá recursos de defesa para impedir a acção americana, assim como não os terá para impedir a acção russa. Costuma-se dizer que não se deve sofrer por antecipação, nem planear sobre cenários hipotéticos que poderão nem sequer vir a ser concretizados. Mas na presente conjuntura é melhor estar preparado para tudo. A Europa não está e Portugal ainda menos.              António Costa e Silva: Na segunda guerra Salazar lidou com essa questão. Hoje os tempos são outros e os políticos portugueses estão muito baratos.                 Jorge Tavares: Quero este indivíduo para deputado!         Ruço Cascais: Os Açores já são suficientemente norte-americanos para virem a ser reclamados pelos Estados Unidos, a não ser que Trump tenha interesses imobiliários no território. Mesmo assim, os Estados Unidos ainda continuam uma democracia e a possibilidade de os Estados Unidos mudarem de política dentro de 4 anos é muito grande. Quanto à federação, nós, enquanto país mais dependente financeiramente da UE e dos fundos europeus já estamos mais ou menos federados economicamente, tanto, que o OE também tem que ter uma avaliação de Bruxelas. Se queremos financiamento temos que nos sujeitar. A Federação política vai ser mais difícil de engolir. Deixamos de ter um presidente e um primeiro-ministro locais e passamos a ter um presidente eleito para a União Europeia e um primeiro ministro eleito para a Comissão Europeia. Por cá votaríamos para um governador. A Federação política da UE teria que passar por eleições e os governadores da União terem mandatos dados por sufrágio eleitoral. Quanto à estrutura poderia ter muitas variantes, mas, sempre um governo com um presidente ou primeiro-ministro à cabeça. Mais 25 anos no máximo para a Federação da Europa. Uma grande prenda para as gerações pós 25 de Abril que poderão morrer descansadas sabendo que garantiram para os netos um futuro mais risonho nos Estados Unidos da Europa.                    Carlos Chaves: Caro André Abrantes Amaral, agradeço-lhe mais esta excelente crónica onde nos alerta para questões verdadeiramente importantes para a nossa nação, quase a completar novecentos anos. É mais que certo que a União Europeia se quer continuar a ter uma palavra na geopolítica mundial, e continuar a manter o nível de vida dos Europeus e em segurança, terá que evoluir no sentido do federalismo. Esta questão é de crucial importância especialmente para um pequeno e periférico país, como é o nosso caso. Queremos ser uma “roda suplente” de uma União federalizada? Se não o formos teremos futuro fora da União? Conseguiremos manter os Açores e a Madeira, ou a Dinamarca a Gronelândia, sem termos uma verdadeira defesa Europeia? Especialmente quando um membro da NATO promete atacar outro membro (exceptuando o conflito entre os Turcos e os Gregos e Cipriotas)?