O
governo é mais virado à direita - pelo menos na aparência, tão em bicos de pés anda
essa direita, por essa altura - pois que não só PS e C.ia tudo fazem para o
empurrar – ou emporcalhar – (já que, quando é o PS e C.Ia a dirigir, não há
greves que valham, pois a esquerda só as fabrica quando é a tal direita a
querer impor-se – aliás, esta sempre em delicada vénia à esquerda englobante do
PS, os quais não fazem mais do que atacar, em exaltação de mérito, para a
impedir de governar, tudo tão deprimentemente sem educação - esta definitivamente
arrumada, em várias frentes por cá. NUNO GONÇALO POÇAS assim o conta e mais não
diz por delicadeza, com certeza, prova de que ainda há entre nós quem fuja a
essas regras de pose diminuta, ai de nós, e tente consertar o que parece
definitivamente desarranjado e sem classe.
Greve à sexta-feira
Há uma multidão de revoltados com
situações como esta das greves semanais à sexta-feira e respectivo silêncio e
cumplicidade vindos das elites.
NUNO GONÇALO POÇAS
Colunista do Observador. Advogado, autor de "Presos Por Um Fio – Portugal
e as FP-25 de Abril"
OBSERVADOR, 19 nov. 2024, 00:1839
O tema não tem despertado particular
interesse mediático, salvo uma ou outra excepção – um ou outro texto de opinião
aqui e ali, um apontamento acolá, demonstrando a absoluta regra que é o
escabroso silêncio que paira sobre o que se está a passar nas escolas deste
país.
Entre greves semanais (sempre
coladas ao fim-de-semana), o absentismo (mais generalizado do que eu próprio
imaginaria), o Estado (que lida com um histórico de descentralização de
competências para as autarquias raramente acompanhada de verbas, favorecendo
brilharetes orçamentais para abrir telejornais e esconder desastres sociais
longe dos holofotes), uma guerra surda de sindicatos, e da esquerda em geral,
numa luta por poder interno e por levar para a rua parte do descontentamento,
que pretenderá (?) resgatar a André Ventura, entre tudo isto, dizia,
resplandece a indiferença para com os danos que o país está a impor a uma
geração de crianças e jovens que, já vítimas das medidas draconianas da
pandemia, continuam a ser mártires de greves semanais, que se irão prolongar
sabe-se lá durante quanto tempo mais.
Na escola pública o que vamos ouvindo
é uma espécie de tornado que se forma. Mesmo gente de esquerda, inicialmente
mais paciente e compreensiva para com o movimento grevista dos incontáveis
sindicatos do sector, vai deixando escapar o seu desconforto com aquilo a que
chama – e a que outros dão voz parlamentar – a bandalheira. Há quem já tenha perdido empregos por ter
de faltar tantas vezes para ficar em casa com filhos sem aulas. Há quem já não saiba como explicar que
tem de faltar ao trabalho. Há quem perca valiosa parte do salário graças a
estas faltas forçadas para colmatar greves à sexta-feira. Há quem já não esteja
para aturar isto e esteja a pensar tirar os filhos da escola pública. Em todos, cresce um desconforto: não há
quem não reconheça os baixos salários e as más condições de trabalho de
auxiliares e professores; mas não falta também quem se queixe de não ter melhor
salário ou melhores condições para trabalhar e esteja ainda a ser prejudicado
pelas greves dos outros, e já esteja apenas preocupado com a ordem e a
normalidade.
Enfim, cada família resolverá o assunto
da melhor maneira que conseguir, a menos que o Governo descubra
dinheiro debaixo das pedras ou opere algum outro milagre num sector com um peso
sindical que nunca pretende discutir o sucesso educativo dos alunos, focado
exclusivamente na luta de classes e no combate pelo território político do
campo marxista. No limite, a melhor maneira será aguentar, por falta
de opção financeira, uma escola refém dos sindicatos que discrimina os seus
alunos e os abandona ao insucesso relativo.
Não sei se o fenómeno é transversal, mas
sei que houve pais em agrupamentos de escolas de Lisboa que se envolveram e
deram publicidade a um problema que se vive em várias escolas. Mas, ainda que
não seja um problema que se manifeste pelo país inteiro, não deixa de
surpreender a indiferença jornalística para com o assunto – sobretudo para um
jornalismo que se mobiliza noutras situações menores; sei lá, que é capaz de
fazer directos televisivos se houver meia dúzia de malabaristas no Chiado a
exigir o fim do Estado de Israel ou a defender a honra da «democracia» cubana.
Não sei, embora imagine, se boa parte das vozes públicas, entre partidos e
imprensa, frequenta a escola pública. Mas era útil que, pelo menos, se
importassem.
Percebo que os tempos estão mais para
a sinalização de virtudes e para a demagogia de todos os campos do que para
este género de assuntos. Compreendo perfeitamente que um país que tem,
mediaticamente, um enorme viés de esquerda não queira ver-se em confronto com
os exageros sindicais. Mas saibam, pelo menos, o seguinte: há uma
multidão de revoltados com situações como esta das greves semanais à sexta-feira
e respectivo silêncio e cumplicidade vindos das elites. Como demoraram oito anos a perceber (os
que perceberam) como os Estados Unidos elegem quem elegem, talvez ainda seja
demasiado cedo para compreenderem o que aí vem. O Governo, que tem, neste sector,
as pessoas mais capazes que podia ter, é quem pode cortar o mal pela raiz, ou
atenuá-lo de alguma forma. É, afinal, para isso que servem os Governos. Se o
Primeiro-ministro não estiver, como parece, mais concentrado nas fórmulas
narrativas de que precisa para ganhar eleições mais confortavelmente, é nisto
que deve concentrar-se: na resolução de problemas, e o poder sindical é um
problema. Poderá não parar a avalanche anti-sistémica que aí vem, agora
reforçada pelas eleições norte-americanas, mas pode, pelo menos, mitigar-lhe os
efeitos e preparar o país para dias piores.
COMENTÁRIOS (de 39)
Bruno: Obrigado por ser uma das poucas vozes a trazer algo de
tão evidente para cima da mesa. Durante os anos da Geringonça praticamente não
existiram greves…porque será? Hoje em dia, as greves são o dia-a-dia… nas
escolas é a vergonha instalada… não porque as pessoas não tenham direito a
lutar pelos seus direitos, mas porque o fazem de uma forma desonesta para
com qualquer tipo de negociação… Os professores depois de terem conseguido
aquilo que queriam (tempo de serviço) logo arranjaram mais um ou dois ou três temas
para novas greves… hoje são os auxiliares… amanhã voltam os médicos…e por ai
fora… Infelizmente não existe da parte dos sindicatos qualquer interesse em
melhorar serviços e condições…o objectivo único é criar caos e sacar o mais
possível…. O facto de agora termos greves às 6f, só prova este ponto… Quanto às
esquerdas elitistas que não estão preocupadas com a educação desta geração, não
estão nem nunca vão estar…porque os seus filhinhos estão no privado longe
destas guerras sectárias da plebe… Abram os olhos… Coxinho: Que será preciso acontecer para os
portugueses perceberem que o socialismo nunca passa da destruição sistemática
do tecido social e económico para depois vir fingir que ajuda os mais
desfavorecidos a sobreviver?
Luís CR Cabral: Enquanto os velhos comunistas dominarem os sindicatos
não será possível acabar com esta pouca vergonha e a única hipótese é o
salve-se quem puder e procurar os serviços de saúde e as escolas privadas.
Tenho pena de quem não pode e acreditou no socialismo. Hugo Marinho: Uma pouca vergonha o que esses grevistas
profissionais fazem, com o apoio da comunicação social Cristina Torres: Não deve haver um deputado que tenha os filhos no ensino público,
dou três exemplos dos defensores da escola pública: Pedro Nuno Santos,
Alexandra Leitão, José Luís Carneiro todos têm os filhos nos melhores Colégios
do país! Há anos e anos que é assim, o ensino público é uma bandalheira,
conheço vários professores do ensino publico que tem os filhos no ensino
privado... e muitos e muitos pais que tem os filhos no privado por causa desta
situação e não, não são ricos, fazem um esforço enorme financeiro para o
suportar este custo! Tudo isto porque não há nem vai haver coragem política
para acabar com a bandalheira da utilização excessiva e abusiva das greves. Nuno Abreu: Tem toda, toda a razão. André Pestana e Mário
Nogueira que vivendo à custa do Estado querem derrubar o Estado deviam
ser condenados a trabalhos forçados na limpeza das Escolas. Há anos que
destroem o ensino em Portugal, causando-lhe mais estragos que vinte Covids. João
Floriano: Se Nuno
Poças não estava já na lista de «Fascistas e Inimigos da Democracia», pode ter
a certeza de que já não escapa. A palavra que define tudo isto é acertadamente
bandalheira, uma enorme bandalheira. Admira-me que Nuno Poças afirme que «não
deixa de surpreender a indiferença jornalística para com o assunto....».
Interpreto esta expressão como retórica porque alguém inteligente como Nuno
Poças e que viveu num concelho comunista, percebe perfeitamente como se chegou
a este estado de coisas. A CS sempre foi dominada pela esquerda, a
mesma esquerda que domina os sindicatos da função pública, os tais que exigem
sempre e sempre mais regalias e que estão sempre insatisfeitos com o que
recebem. Logo a CS não vai apontar o dedo a esses sindicatos. Há truques que são
velhos. Um deles é encostar os dias de greve ao fim de semana ou ainda melhor a
um feriado. E se esse feriado por sua vez se encostar ao fim de semana, são
umas mini férias muito gostosas. Quando ainda ensinava, havia uns chamados
artigos quarto que permitiam justificar as faltas de dois dias. Ninguém
está livre de um mal-estar súbito, de um filho que adoece, de um transporte que
não aparece. Muitos dos grevistas jogavam nos dois tabuleiros: para os
sindicatos faziam greve, mas apresentavam o artigo quarto e oficialmente tinham
tido uma indisposição física. Outro estratagema consistia em
aproveitar a greve de dois ou três funcionários essenciais para constatar a
adesão à greve. Por exemplo: a portaria, o serviço de bar, vigilância dos
pátios, não podem ficar desguarnecidos. Na verdade não havia adesão nenhuma. Na
realidade apenas 3 funcionários estavam em greve obrigando a escola a
fechar. Somos de facto um país totalmente adornado para a
esquerda, qual barco que naufragou e cuja colocação na posição certa se está
a revelar tarefa muito difícil. Até 10 de março a esquerda não ia de
modo algum querer reverter a situação das greves nas Escolas e tão pouco iam
fazer greve contra si mesmas. é por isso que os anos da geringonça foram de
acalmia. Agora o governo AD não tem coragem e muito menos força política para
mudar de rumo. Tudo o que faz é correr atrás do PS. Greve e grave começam cada
vez mais a soar ao mesmo. Carlos
Chaves: Caro
Gonçalo Poças os jornalistas estão-se nas tintas para o que se passa nas
escolas e com as inaceitáveis greves políticas que por lá ocorrem a amiúde,
basta ler este jornal! Concordo em absoluto com esta sua opinião, fazer alguma
coisa para acabar com este regabofe nas escolas, ontem já era tarde. GateKeeper: As baixas fraudulentas [com a cumplicidade bem
conhecida dos médicos e afins] contribui com outro tanto para o caos das
greves, das "férias" e das "baixas". Provavelmente e em
média uma/um "trabalhador do 'publicuzinho' deve trabalhar bem menos do
que 150 dias/ano. A legislação existe, mas "não passa do papel e para
Inglês e UE verem". Tugalândia = Banana Republic. Quanto ao "poder
local" nem vale a pena comentar; aqui no UK as/os Portugueses que vivem e
trabalham por cá apelidam -no de "poder regional das famiglias". Fernando ce: Muito bem. O país está em roda livre no
sector público. Não há accountability.
Já li algures que, em alguns serviços públicos, destroem os aparelhos de
controle de assiduidade pouco depois de serem instalados. Palavras para
quê? A culpa não é sobretudo dos governos. Este povo não se deixa governar. afonso moreira: Estes problemas que muito enuncia, não
terão solução enquanto os sindicatos forem braços armados de partidos e
projectos políticos. As carreiras na função pública são um emaranhado e sem
qualquer fio condutor de racionalidade. Quem tem poder reivindicativo safa-se,
os que não têm... como é o caso dos assistentes operacionais. Por alguma razão,
antes desta bagunça, que dá poder a muitos e que não representam quase ninguém,
é que a carreira na função pública era apenas uma, desde os ministros até à
última categoria, com regras claras e bem definidas. A quem convém isto? Roberto Carlos: Tirem os sindicatos das unhas dos
comunistas que o País melhora.