domingo, 6 de abril de 2025

Depende

 

Do sítio onde se respira. Se assim fosse, não haveria tantos mortos quer por asfixia, quer por poluição dos ares, quer pela falta de ar, mesmo metaforicamente falando... Não, mesmo em democracia, o ar não é nunca igual – nem, de resto, são iguais os humanos virtuosamente defendidos por palavras, há até quem respire com mais ruído, de acordo com a sua maior potência respiratória. Deus nos livre de tendências tão exclusivistas, que, em plena democracia só admitissem o estudo das Ciências e rejeitassem o das Letras! O Dr. Salles está a ser muito tendencioso. O estudo literário é imprescindível para o conhecimento do Homem e das suas criações, desde os seus primórdios… E por muitas outras razões, é claro, entre as quais a da criatividade. Nunca o Dr. Salles poderia afirmar o que escreve, se se limitasse à decifração e avanços científicos, que servem para modernizar, é certo, mas também para contribuir para a destruição, o que é bem visível por estes tempos de drones e de viagens espaciais. Nem o Homem viveria feliz sem poder exprimir o seu “Alma minha”, ou criar os heróis das suas histórias imaginárias, bonitas ou feias, ou mesmo das suas experiências reais… por falta de um discurso competente, ainda que ínfimo em valores, se comparado com os estudos científicos, de rigor e objectividade tantas vezes áridos, não dando hipótese à criatividade pessoal…

Quanto à lebre dormindo ao relento, será porque tem excesso de calor, pois poderá sempre ocupar uma toca alheia, desde que saiba procurar alguma cujo dono é compincha, ou apenas medroso para a querer disputar... Com os humanos o mesmo acontece, mas com mais drones para a disputa.

Não, o ar nunca é igual para todos, há muitos que se intimidam com os ares alheios, chegando mesmo a entorpecer… E a definhar. Apesar dos drones…

 

O AR QUE RESPIRAMOS É IGUAL PARA TODOS…

HENRIQUE SALLES DA FONSECA

A BEM DA NAÇÃO, 04.04.25

… MAS AS LEBRES DORMEM AO RELENTO

Em República, todos temos os mesmos direitos e as mesmas obrigações – metaforicamente, o ar que respiramos é igual para todos.

Em Democracia, ao Governo cumpre promover a igualdade de oportunidades mas nem todos querem delas usufruir (em especial na Educação) – metaforicamente, as lebres dormem ao relento.

* * * Para que servirão as terras raras se o homem não lhes souber dar outro uso para além da produção de mandioca ou erva para o gado? E mesmo a actual corrida às terras raras parecerá uma infantilidade quando a síntese industrial desses elementos tão cobiçados estiver economicamente viabilizada. Ou seja, é a pessoa que mede o valor das coisas e estas de nada valem se não houver conhecimento humano que as valorize. Metaforicamente, a lebre dorme ao relento porque não sabe escavar uma toca.

* * * De regresso à realidade humana, reconheçamos que a pessoa é o cerne do desenvolvimento e que elevados índices de formação bruta de capital fixo tão ao gosto do cavaquismo-keynesianismo de pouco valeriam se não se fizessem acompanhar por políticas de educação e formação profissional.

Colhe, assim, perguntar o que fazer para deixarmos a velha modorra em que ciclicamente caímos após poucas mas voluntariosas chicotadas desenvolvimentistas. E, para poupar o enfado de quem me lê, cito apenas essa briosa iniciativa da Rainha D. Maria II que é a Academia das Ciências de Lisboa, hoje em pleníssima letargia e merecedora de epitáfio lacrimoso. Apareça quem a salve! Então, como minha PRIMEIRA SUGESTÃO AO GOVERNO, deixo a ideia de que se salve a Academia das Ciências de Lisboa da inutilidade em que se encontra mergulhada expurgando-a da Secção das Letras e relançando-a nas Ciências, promovendo o estudo das Ciências junto da juventude por via equiparável à Telescola. Tarefa fácil, basta querer.

Na esperança de que alguém com poder de decisão as chegue a ler, sigo com mais SUGESTÕES AO GOVERNO…

(continua)

COMENTÁRIOS

 A P MACHADO 04.04.2025 17:01: Pois é. Mas as mentes políticas vivem obcecadas com a desigualdade na distribuição dos rendimentos individuais. Cismas...

ANTÓNIO PINHO CARDÃO  04.04.2025 19:02: Acontece por uma vez estar em desacordo com o meu amigo. O conhecimento humanístico, da filosofia à história e à ética, é essencial para conceber e enquadrar o desenvolvimento. Pois que se acentue o estudo das ciências e das tecnologias, mas sem prescindir das humanidades.

Anónimo 04.04.2025 23:32: Separar Ciências de Letras não parece ser difícil. Porque não a Academia das Letras?

Adriano Miranda Lima 04.04.2025 19:53: Antes de mais, este texto seduz logo pela beleza da metáfora da "lebre que dorme ao relento por não saber escavar uma toca", mas o seu significado vai a uma profundidade superior à que a lebre consegue imprimir à sua toca. Encerra noções e conceitos que nos dizem da frequência com que dormimos ao relento só porque as mais das vezes preferimos o facilitismo da lebre que não se dá ao trabalho de cavar bem a sua toca. Sim, concordo que a Academia das Ciências tem de ser uma realidade pujante por si só, expurgada das Letras, porque não lhe faltará sarna para se coçar, e mesmo assim terá de contar com a prioridade e a atenção dos governos que o Dr. Salles da Fonseca sugere. Não quer dizer que as Letras não devam merecer, por seu turno, o devido cuidado, porque uma visão alargada, e também profunda (como a toca da lebre) do mundo, advém do conhecimento da condição humana e do mundo que o cerca, implicando fundamentalmente a História e a Geografia. Basta olhar para o actual inquilino da Casa Branca para concluir que ele é pouco mais que um analfabeto naquelas disciplinas.

ANÓNIMO 04.04.2025 23:25: Magnífico. Gostei muito

Henrique Salles da Fonseca 05.04.2025 11:29: Muito bom! ANTÓNIO JUSTO

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