Postas por AAA, dos desafios que a
conjectura política actual, com uns States glutões e antieuropeístas ou até
antihumanistas selváticos sob o comando do seu chefe de brinquedo, a querer
alargar o tamanho do seu espaço governativo, desafios que a ausência de
escrúpulos desse novo chefe de governo tem revelado pateticamente temerários:
não seria de estranhar que os Açores fizessem parte dessas suas ambições de absorção
territorial, com a sua Base das Lajes que também a NATO não iria disputar-lhe,
com os actuais desafios de ajuda à Ucrânia. De resto, Portugal está habituado a
render-se, de há uns tempos a esta parte, não irá disputar com os States, nem
talvez os Açores se preocupassem grandemente com mudar de patrono, para mais
oferecendo melhores condições de sobrevivência. Quanto à federação europeia…
pois é! Tem pouco para participar, Portugal. A menos que a Madeira fique como
moeda de troca. De trocos.
Os dois desafios de Portugal
Como é que Portugal vai reagir se os EUA quiserem falar dos Açores?
Se a UE contrair dívida para pagar a defesa, como é que Portugal se vai inserir
numa possível federação europeia?
ANDRÉ ABRANTES AMARAL Colunista
do Observador
OBSERVADOR, 06 abr. 2025, 00:2029
As alterações ao sistema internacional e
ao equilíbrio que até há pouco dávamos
como certo obrigam a que nos preparemos para o pior dos cenários. Não por pessimismo, mas por cautela. O
afastamento dos EUA da Europa altera a posição de Portugal no mapa dos blocos. Se até Janeiro nos encontrávamos no centro
do Ocidente, agora estamos na ponta do bloco europeu. E isso pode
ter consequências.
Nos anos de 1940 e 1941, enquanto Hitler hesitava em lançar por
terra a Operação Félix de tomada de Gibraltar, a invasão da Península Ibérica e
a eventual conquista de Portugal. A pretensão germânica era a de
dividir o mundo em esferas de influência com os EUA a dominarem o continente
americano enquanto o europeu se submeteria a Berlim. Para levar
a cabo esta divisão, Hitler teria de derrotar a Grã-Bretanha, tomar a Islândia,
os Açores, a Madeira, as Canárias, Cabo Verde e Gibraltar. Só dessa
forma garantia a liberdade de navegação no Atlântico, o acesso ao Mediterrâneo
e o controlo do Norte de África. Os EUA sabiam o que estava em jogo. Os Açores ficam mais perto da costa leste dos EUA
que o Hawai da Califórnia. Roosevelt, que conhecia os Açores, chegou a dar
instruções para que se preparasse um plano de ocupação do arquipélago. Se o
Atlântico era a fronteira entre os blocos, as ilhas Açores teriam de ficar do
lado de lá.
Hitler é uma personagem do passado, mas os interesses mantêm-se. O que referi acima serve apenas para
ilustrar como alterações nas alianças ou na confiança entre estados podem mudar
fronteiras de zona de influência.
Por
alguma razão, Trump fala tanto da Gronelândia. Até ao presente não temos quaisquer
garantias que, resolvido este
problema, o presidente norte-americano não se lembre dos Açores. Até porque os EUA precisam de ter debaixo
de olho quaisquer navios que a China e a Rússia tenham no Atlântico. A China já tem um pé em São Tomé e Príncipe
e em Janeiro assinou um Acordo de Cooperação Económica e Técnica com Cabo
Verde. Se os norte-americanos não confiarem em Portugal, e se sentirem
necessidade de agir, não vão pensar duas vezes.
O objectivo primordial de qualquer
política externa é garantir a integralidade do território. No que nos diz respeito é que finda esta
turbulência, que é a reorganização do equilíbrio mundial, Portugal continue a
ser do Minho ao Algarve e a incluir os Açores e a Madeira. É o nosso
dever básico enquanto cidadãos: que os que vêm depois de nós recebam o que
nos foi entregue.
Portugal é um pequeno país escasso em
recursos e com um mercado diminuto. Fosse
através das descobertas, pela conquista ou por via da procura e abertura a novos
mercados, a expansão foi uma obsessão permanente ao longo dos séculos.
Tivéssemos ficado aqui e dificilmente estaríamos à beira dos 900 anos. Portugal
acabou por ser uma invenção permanente com vista a se manter vivo. Como
salienta João Paulo Oliveira e Costa, em “Portugal na História – Uma Identidade”, o nosso
país adaptou-se aos locais onde esteve. Foi peninsular, tornou-se
atlântico, asiático, brasileiro, africano e agora é europeu. Renovou-se constantemente e, apesar de
ser o mesmo, não é igual ao que foi no passado. Daí que seja natural
que se pergunte: como é que vai ser Portugal daqui a 50 anos? E daqui a
100? Continuamos de pedra e cal no projecto europeu? E a União Europeia?
Ter-se-á dissolvido ou transformado numa federação?
A necessidade em investir em
defesa pode forçar a UE a endividar-se. A margem para a dívida conjunta não é
grande porque a União ainda está a pagar a resposta à pandemia. O certo é que
dos 800 mil milhões de euros que Ursula von der Leyen disse serem necessários
para gastar em defesa, 150 mil milhões serão suportados por empréstimos
contraídos pela Comissão Europeia. Aos poucos, a dívida europeia vai crescer e a pressão
para uma política fiscal única irá aumentar com ela. Normalmente uma só
política fiscal é meio caminho andado para uma federação, ou algo muito
parecido. Uma federação tem como consequência os estados federados perderem a
sua soberania externa. Será que
isso é viável para Portugal? E se for, como é que o espaço e os interesses
comuns que partilhamos com outros povos se vai manter?
Não perder território e a nova
identidade que vamos ter de forjar são dois dos grandes desafios para os
próximos anos. Como sucedeu noutros momentos de transição, a maioria
das pessoas está mais preocupada com assuntos mais imediatos. Mas daqui a uns
anos, que podem não ser assim tantos, o que vai ser discutido é a resposta que
dermos a estas duas questões. Não vai
ser Luís Montenegro nem a Spinumviva.
POLÍTICA ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA AMÉRICA MUNDO UNIÃO EUROPEIA EUROPA
COMENTÁRIOS (de 29)
Américo Silva: Ninguém conhece
o futuro, nem o que vai acontecer à economia com as tarifas, mas sabemos que
quem o seu não cuida, o diabo o leva: a União tem andado preocupada com a
Sérvia, a Líbia, a Síria, o Irão, a Ucrânia, e alheia de si própria, a factura
pode chegar a conta-gotas, mas chega.
Luis Figueiredo > João Floriano: e com estes líderes na Europa
e em Portugal, nós nunca estaremos preparados para grandes desafios. A solução
é ficar permanentemente dependente das vontades e humores das grandes potências.
Seria um pouco sempre assim, mas nunca como agora temos diante dos nossos olhos
a perfeita inutilidade de toda esta cam(b)ada de politiqueiros, ou melhor, de
verdadeiros ilusionistas. Francisco
Almeida: Tantos, tantos comentários que este artigo me suscita. Mas vou cingir-me
aos Açores. Os Açores são um arquipélago
de origem vulcânica, povoada maioritariamente por imigrantes originários de
fora de Portugal continental. Tal como Cabo Verde. Claro que há diferenças. Um fica a Norte do Trópico de
Capricórnio outro a Sul. Um é de população branca outro de população negra
(segundo os critérios americanos). Reportando a 1974 nos Açores havia muito
mais desejo de independência do que em Cabo Verde. Para refrear a FLA foram
enviados meios de marinha e presos numa fragata os principais dirigentes. Para
entusiasmar a independência de Cabo Verde, foi desarmada a polícia e entregues
as armas a militantes do PAIGC, a maioria vinda da Guiné. À cautela,
foram deportados cerca de 300 pessoas que poderiam encabeçar um movimento ou
partido político e o MFA - sempre ele! - replicou em Cabo Verde as célebres
sessões de esclarecimento (=sessões de intimidação). É verdade que o desejo de
independência dos Açores era alavancado, se não motivado, pela perspectiva da
instalação de um governo comunista em Lisboa. E agora? Imaginemos uma nova geringonça
com PNS e o agravamento da crise atlântica. Depois das brilhantes alterações à
lei da nacionalidade - o que seria de nós, portugueses sem o dr. Mamadu Ba! -
podem votar até netos de portugueses. Isto é. Com elegibilidade eleitoral há
hoje o dobro dos açorianos a viver nos EUA do que nos Açores. João Floriano: «Se
os norte-americanos não confiarem em Portugal, e se sentirem necessidade de
agir, não vão pensar duas vezes.» Sem dúvida. E Portugal não terá recursos de defesa
para impedir a acção americana, assim como não os terá para impedir a acção
russa. Costuma-se dizer que não se deve sofrer por antecipação, nem planear
sobre cenários hipotéticos que poderão nem sequer vir a ser concretizados. Mas
na presente conjuntura é melhor estar preparado para tudo. A Europa não está e
Portugal ainda menos. António
Costa e Silva: Na segunda guerra Salazar lidou com essa questão. Hoje os tempos são outros
e os políticos portugueses estão muito baratos. Jorge Tavares: Quero este indivíduo para
deputado! Ruço Cascais: Os Açores já são
suficientemente norte-americanos para virem a ser reclamados pelos Estados
Unidos, a não ser que Trump tenha interesses imobiliários no território. Mesmo
assim, os Estados Unidos ainda continuam uma democracia e a possibilidade de os
Estados Unidos mudarem de política dentro de 4 anos é muito grande. Quanto à
federação, nós, enquanto país mais dependente financeiramente da UE e dos
fundos europeus já estamos mais ou menos federados economicamente, tanto, que o
OE também tem que ter uma avaliação de Bruxelas. Se queremos financiamento
temos que nos sujeitar. A Federação política vai ser mais difícil de engolir.
Deixamos de ter um presidente e um primeiro-ministro locais e passamos a ter um
presidente eleito para a União Europeia e um primeiro ministro eleito para a
Comissão Europeia. Por cá votaríamos para um governador. A Federação política da UE
teria que passar por eleições e os governadores da União terem mandatos dados
por sufrágio eleitoral. Quanto à estrutura poderia ter muitas variantes, mas,
sempre um governo com um presidente ou primeiro-ministro à cabeça. Mais 25 anos no máximo para a
Federação da Europa. Uma grande prenda para as gerações pós 25 de Abril que
poderão morrer descansadas sabendo que garantiram para os netos um futuro mais
risonho nos Estados Unidos da Europa.
Carlos Chaves: Caro André Abrantes Amaral, agradeço-lhe mais esta excelente crónica onde
nos alerta para questões verdadeiramente importantes para a nossa nação, quase
a completar novecentos anos. É mais que certo que a União Europeia se quer
continuar a ter uma palavra na geopolítica mundial, e continuar a manter o
nível de vida dos Europeus e em segurança, terá que evoluir no sentido do
federalismo. Esta questão é de crucial importância especialmente para um
pequeno e periférico país, como é o nosso caso. Queremos ser uma “roda
suplente” de uma União federalizada? Se não o formos teremos futuro fora da
União? Conseguiremos manter os Açores e a Madeira, ou a Dinamarca a
Gronelândia, sem termos uma verdadeira defesa Europeia? Especialmente
quando um membro da NATO promete atacar outro membro (exceptuando o conflito entre
os Turcos e os Gregos e Cipriotas)?
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