… Esse Pedro, provando que a beleza física também é
factor de rendição, embora por aqui tal pormenor não se verifique assim tanto, outras
mais-valias acabam por definir as devoções, segundo o exemplo da história do
canto que fez o corvo perder o queijo para a raposa, já em tempo antigo. Mas eu
acho que a Espanha sempre foi superior em gente e em queijo, bem pode de vez em
quando ceder um pouco da casca deste, com a arrogância não subserviente,
talvez, dos seus conceitos… Quem se trama sempre, de resto, é o mexilhão, é o
que se diz, pelo menos, neste caso a pobre da Ucrânia. Chegada a altura, outros
mais pequenos Pedros irão aparecer, quem sabe?
Pedro o Pequeno
Numa desamparada Europa ainda à
procura de dar prova de vida e poder, foi Pedro o Pequeno: perdeu a
oportunidade de credibilizar a Espanha como parceira séria.
MARIA JOÃO AVILLEZ Jornalista,
colunista do Observador
OBSERVADORabr. 2025, 00:2243
1O máximo da polarização, o
máximo da indecência, o máximo da solidão? É isso. Talvez o máximo.
Não
que Isabel
Ayuso o diga,
estas palavras são minhas. Mas a Presidente da Comunidade de Madrid – e nesta
ocorrência hoje sentadas ambas, ela e eu, à mesma mesa – olha sem sombra de
compaixão as fracturas expostas de Pedro Sànchez, líder do Governo Espanhol.
Fá-lo sem surpresa para mim: a
“Presidenta” é forte na observação, percebe de política e sabe fazê-la. Já nos
conhecíamos, reencontrámo-nos na capital espanhola, retive o que lhe ouvi – a ela e a outros interlocutores –
sobre a conjuntura política da Espanha, o Partido Popular, o
PSOE, a Catalunha. Mas se esta conversa ficará para mais tarde e noutro
lugar, é dessa mesmíssima conjuntura que pretendo hoje deixar aqui nota por
duas razões: pela destoante atitude do Presidente do Governo espanhol
numa das últimas cimeiras europeias – e
haverá coisa que neste momento mais tenha a ver connosco do que a resposta que
se organiza na UE à nova era geoestratégica em que entramos? E em
segundo lugar porque me espanta a
quase ausência entre nós, aqui mesmo, mesmo ao lado, de informação relativa ao
que tem sido o tão incomum comportamento político do presidente do governo de
Espanha. Bem sei que há
Trump e Trump tudo leva de enxurrada; que há um acordo de paz
Rússia/Ucrânia a (fingir) ser negociado; que há a China, que há Israel; que há
Groenlândias e Taiwans a ser cobiçadas diante de nossos écrans pelos autocratas. Que
há o assalto ao direito internacional vindo de uma geografia de onde não se
esperaria. Mas… há a “Europa”. Desamparada Europa ainda à procura
de acordar de si mesma e dar prova de vida. Cerzindo a vontade política de 27
países, construindo poder político e militar, acreditando na unidade tão
imperativa quanto não garantida.
E é neste puzzle que entra o
Presidente do governo espanhol. Sànchez
foi Pedro o Pequeno: operando em
Bruxelas tão indecentemente que perdeu a oportunidade de credibilizar a Espanha
como parceira indispensável: numa das últimas cimeiras
europeias, uma atónita “UE” foi subitamente informada das pesadas dúvidas e
muito surpreendentes reticências de Sànchez em matéria de Defesa.
2Nas incipientes explicações dadas aos seus pares em Bruxelas, Pedro
hesitou em tudo, não se comprometendo com nada: na forma – vetando o
substantivo “rearmamento”; na substância: reticente com os custos militares,
apesar de ser o país que menos paga em Defesa; duvidoso com os métodos,
discordando de prazos. Consciente da impossibilidade de ter um orçamento
aprovado no parlamento espanhol, e por isso impedido de garantir o apoio do seu
país em custos ou calendários, Sánchez
escolheu a ambiguidade a que está obrigado: a extrema-esquerda que o apoia e os
nacionalistas que lhe são pródigos no amparo político desde que as exigências e
contrapartidas sejam satisfeitas, vetam-lhe ferozmente quaisquer intenções e
decisões em matéria de Defesa.
O choque com a atitude de Sánchez
levou inclusivamente Manfred Weber, líder do Partido Popular Europeu (PPE) a
elevar o tom de voz em Bruxelas. Entre o pasmo e uma crispação indisfarçáveis,
Weber classificou Sánchez como “o” ponto “fraco” da União, comparou-o a Orban,
acusou-o de “estragar” a União.
O
eco negativo não veio porém só dali: o desconforto tocava também noutras
moradas menos conservadoras e obviamente em círculos próximos do próprio Pedro
Sànchez. Mas nem o embaraço crítico dos seus, nem a admoestação de adversários,
nem a comparação – atabalhoada – com Orban incomodaram por aí além o próprio
Sànchez.
3O próprio faz o que tem feito: agarrado ao poder, promete o que não pode
a separatistas, e o que não deve a etarras, negociando-se a si mesmo, sem
pecado, nem remorso. Minoritário
no parlamento, governa com o Orçamento de há dois anos, o mesmo de quando
liderava um Executivo noutras circunstâncias, com outros ministros e outros
parceiros de coligação; frequenta pouco o parlamento, usa o insulto como
argumento, serve-se de alguns juízes e procuradores “muito próximos” para
difamar adversários; é capaz de afastar amigos-camaradas por se lhe oporem (já
o fez).
A
família próxima tem problemas com a Justiça – um irmão e a própria mulher;
Pedro Sánchez não governa, está. É suposto que o seu executivo apresente
um “programa” de Defesa em Junho desde que prescinda de aprovação parlamentar. Se
a tivesse significaria que ele teria sido obrigado a ter negociado com Feijóo e
o Partido Popular e, aí, antes a morte que tal sorte: para Sánchez, Feijóo é da
“fachosfera”…
Alguns cronistas e editores do centro
direita ao centro esquerda – excluo as
plumas dos extremos – indignam-se: como terminará tudo isto se são as forças contrárias á nação que
dirigem a política?
É vox populi que nunca um líder do
Partido Socialista Obrero Espanhol ousou ir tão longe na sobrevivência no poder
usando com uma desenvoltura cinematográfica qualquer “vale
tudo” que lhe apresentem ou ele apresente. Deve ser o
cúmulo da solidão.
4Imagino o espanto, a descrença
ou o ressentimento de alguns, com o que hoje escrevo tão a quente. Mas não sou
eu que o digo, é a realidade das coisas que o expressa assim. Uma realidade
certificada aliás pelo mais credível dos selos: o desgosto público e publicitado de alguns antigos lideres do PSOE -
e tão diferentes entre si como por exemplo, Gonzalez
ou Alfonso Guerra. Estiveram ambos largo tempo sem se falar,
reconciliaram-se há dois ou três anos coincidiram – entre outros ex-líderes e
senadores – nas duríssimas criticas a Pedro Sànchez. Hoje é “vox populi” em
Espanha que nunca um líder do Partido Socialista Obrero Espanhol ousou ir tão
longe na sobrevivência no poder usando com uma desenvoltura fotogénica qualquer
“vale tudo” que lhe apresentem ou ele apresente.
5E no entanto – mas a política é isto
– como a saúde económica da Espanha é boa e se recomenda e há uma
imutável quantidade numérica de fieis do PSOE de norte a sul do país, ilhas,
arquipélagos, comunidades e regiões incluídas, Pedro o Pequeno pode ir durando. O
“sanchismo” e o seu líder, com este ou porventura ainda um outro governo, podem
durar. Mas
até onde irão as suas inimagináveis – indecentes – cedências e alentos aos
separatistas bascos e catalães, a quem repetidamente favorece em detrimento das
outras Comunidades e tudo lhes perdoa?
6A oposição? Não consta que a oposição –
e refiro-me ao Partido Popular (PP) – tenha vindo a descolar muito
afirmativamente: descolar dela própria, do PSOE, do Vox, dos outros, desenhando
o voo da vitória, no céu político.
A Galiza e o seu povo, apesar
um passado recente de extrema pobreza e emigração — para Portugal – mostraram à
Espanha como levantar cabeça: são bons cidadãos, sérios, trabalhadores (um
bocadinho) maçadores. Alberto Nunes Feijóo, líder do PP, é galego. Reservado e sóbrio, não gosta de se
antecipar, não aprecia o confronto. É um estilo político. Foi assim, igual a si
próprio, que conquistou três maiorias absolutas na presidência da Galiza. Um
país não é o mesmo, mas Nunes Feijóo espera. É o que ele tem sabido fazer
melhor. Talvez tenha razão: a política é eximia a fornecer surpresas.
ESPANHA EUROPA MUNDO PEDRO SÁNCHEZ
COMENTÁRIOS (de 43)
Josél Paulo >António Lamas: Tipo Mariana Mortágua ..Isabel Moreira ..
Leitão..Temido..faço ideia. Pobre Espanha. António Lamas: Acompanho diariamente o que se passa em Espanha
através do excelente programa matinal de La Hora de la uno. Sanchez está nas
mãos de uma mão cheia de mulheres histéricas e paranóicas como a Moreno e a
Diaz do Sumar. Há
ministras contra ministras, criticando medidas de umas contra as medidas de
outra. Um perfeito loucura e chamam aquilo uma democracia. Sanchez é de longe o
pior PM de sempre Jorge
Frederico Cardoso > Vieira Barbosa: A
posição do impreparado Sanchez sobre o rearmamento da Europa em geral, e sobre
as contribuições da Espanha para a defesa europeia resulta da agenda que ele
serve, a agenda da esquerda mais radical, agenda que está respeitada pelos
sociais democratas mais politicamente correctos certos que estão de que a
sobrevivência política passará por se adiar quaisquer sacrifícios para os
eleitores, mesmo que saibam que adiar a defesa poderá significar a morte certa. Carlos Chaves: Qual é o espanto? Os socialistas Espanhóis são iguais
aos socialistas Portugueses! Pedro Sánchez, o PSOE e a comunicação social
Espanhola estão a destruir a Espanha tal como a conhecemos! António Costa, o PS
e a comunicação social Portuguesa, destruíram Portugal tal como o conhecíamos!
E o Pedro Nuno Santos quer continuar o trabalho! Em Espanha o Rei Filipe VI não tem nada a
dizer, em Portugal o Presidente Marcelo depois de ter gasto o verbo e as
“selfies”, também não tem nada a dizer! Se não fosse Luís Montenegro
teríamos a Península Ibérica numa jangada, profecia do comuna José Saramago!
António Soares: Costa também se vendeu à extrem-esquerda. É tudo a
mesma escumalha! José Martins de Carvalho: De facto Pedro Sánchez é tão pequeno, tão reles, que
já fez da democracia espanhola uma tirania! E os seus efeitos perniciosos não
vão ficar-se por Espanha. Mas a
oposição tem culpa. Maria João Avilez diz que Feijóo não aprecia o confronto e
que espera. E pode esperar sentado, porque é totalmente inábil. E isso ocorre
quando o PP tem um político genial, que, se fosse líder, sem dúvida
conquistaria os poucos votos que faltam à direita para a maioria absoluta: Isabel Ayuso. GateKeeper: «El pedrito foi sempre pequeno. À semelhança do pedrito de cá. As suas
"agendas" e as do tonyC, são iguais. Mas na ex-Espanha a situação é
mais grave do que muita gente pensa e o pedrito mostra. As
"autonomias" em Por tuga, para já, não são um problema. Mas na
ex-Espanha são um barril de pólvora Histórico. E o pedrito de lá ainda lhe
acrescentou mais pólvora & dinamite, só para se manter no poleiro, recorrendo
à sua "grande amiga" Barbie esquerdola. Fazer comparações entre ambos
só deprime o "pessoal". O vizinho vive DA confusão que cria. O "da casa" vive
NA confusão porque não consegue liderar o seu ninho de vespas. Venha o Diabo e
escolha qual o pior. Manuel
Magalhaes: Muito bem Maria João, o retrato exacto do que é a desfaçatez do tal Pedro o
Pequeno, uma perfeita vergonha para o grande país que é a Espanha, como é que
isto é possível!!!
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