Fui de peito feito para demonstrar o meu apreço e orgulho pelo nosso Engenheiro José Sócrates pelo recitativo que fez sobre as crianças, depois de ter pegado numa ao colo, estavam a inaugurar mais uma creche, como enalteceu, em apoio à procriação:
“Mas o melhor do mundo são as crianças, flores, música, o luar e o sol que peca só quando em vez de criar seca”.
O Pessoa não ficaria escamado pela singeleza do recitativo, que o seu poema é todo ele um apelo à preguiça mental e à anarquia comportamental, embora o faça ironicamente, coisa que os anarcas não topam, que até lhes convém não cumprir o tal dever e esperar pelo D. Sebastião.
Infelizmente a minha amiga não me acompanhou no meu elogio, pois não ouviu o recitativo socrático-pessoano, só reparou na criança ao colo socrático, eu creio que eles retiraram o registo cultural ministerial, só deixaram a menina ao colo, segundo vi no noticiário a seguir.
O que ela logo considerou, com a sua agilidade mental habitual, foi a superioridade do nosso Engenheiro relativamente ao nosso Presidente na questão das criancinhas, pois o Dr. Cavaco não memorizou poemas para recitar nem pegou em meninos para a sua campanha eleitoral, no Refúgio do Ascensão Amboim, ao contrário do nosso Primeiro, que joga a todos os carrinhos e por isso pegou e disse, na inauguração da creche. O que ela apontou ainda, foi o paralelismo nas actuações governamentais, de iniciarem os respectivos programas de retoma com as manifestações afectuosas nos lares com criancinhas, causadoras de natural empatia popular, para as candidaturas que se seguirão.
Mas a minha amiga estava mais voltada para as terras donde voltámos, há quase trinta e seis anos:
- Não falámos na revolta do Maputo. Os coitados já estão abafados. Não têm mais para dizer? Isto é à pressão. Eu só sei que eles têm razão.
- E disse o seu amigo há dias: “Aquilo agora é que está bom! Como nunca esteve!”
- Ah! Mas esse é mesmo por amor àquilo, à terra e à família que lá tem! Amor à terra, como muita gente! O que eu digo é que os branquinhos que lá ficaram e outros que para lá foram, muito ricos, muito ricos, vivem com uma ostentação que brada aos céus. E porque não se revoltaram mais cedo os negros? E revoltaram-se ontem, 1 de Setembro, eles só têm fósforos, não têm mais nada. Aqueles pretos são muito boa gente mesmo. Veja que se passaram mais de trinta anos. Houve uma manifestação ontem e outra aqui há uns anos. E eles têm razão. Acusaram-nos a nós de os explorarmos! Mas nós não vivíamos com tanta ostentação, era tudo p’r’ó normalzinho. Isto agora é ostentação demais, autênticos bunkers dos brancos ricos, com tudo o que há de melhor, à prova de todos os fósforos. Os pretos têm razão, que é criminoso o aumento do custo de vida, nas suas vidas miseráveis que tão bem contrastam com as dos “bunkers” dos brancos. Mas são abafados. À bastonada, talvez com bolas de borracha, metidos nas cadeias…
- Pois! O normal, nas democracias que semeámos.
“Mas o melhor do mundo são as crianças, flores, música, o luar e o sol que peca só quando em vez de criar seca”.
O Pessoa não ficaria escamado pela singeleza do recitativo, que o seu poema é todo ele um apelo à preguiça mental e à anarquia comportamental, embora o faça ironicamente, coisa que os anarcas não topam, que até lhes convém não cumprir o tal dever e esperar pelo D. Sebastião.
Infelizmente a minha amiga não me acompanhou no meu elogio, pois não ouviu o recitativo socrático-pessoano, só reparou na criança ao colo socrático, eu creio que eles retiraram o registo cultural ministerial, só deixaram a menina ao colo, segundo vi no noticiário a seguir.
O que ela logo considerou, com a sua agilidade mental habitual, foi a superioridade do nosso Engenheiro relativamente ao nosso Presidente na questão das criancinhas, pois o Dr. Cavaco não memorizou poemas para recitar nem pegou em meninos para a sua campanha eleitoral, no Refúgio do Ascensão Amboim, ao contrário do nosso Primeiro, que joga a todos os carrinhos e por isso pegou e disse, na inauguração da creche. O que ela apontou ainda, foi o paralelismo nas actuações governamentais, de iniciarem os respectivos programas de retoma com as manifestações afectuosas nos lares com criancinhas, causadoras de natural empatia popular, para as candidaturas que se seguirão.
Mas a minha amiga estava mais voltada para as terras donde voltámos, há quase trinta e seis anos:
- Não falámos na revolta do Maputo. Os coitados já estão abafados. Não têm mais para dizer? Isto é à pressão. Eu só sei que eles têm razão.
- E disse o seu amigo há dias: “Aquilo agora é que está bom! Como nunca esteve!”
- Ah! Mas esse é mesmo por amor àquilo, à terra e à família que lá tem! Amor à terra, como muita gente! O que eu digo é que os branquinhos que lá ficaram e outros que para lá foram, muito ricos, muito ricos, vivem com uma ostentação que brada aos céus. E porque não se revoltaram mais cedo os negros? E revoltaram-se ontem, 1 de Setembro, eles só têm fósforos, não têm mais nada. Aqueles pretos são muito boa gente mesmo. Veja que se passaram mais de trinta anos. Houve uma manifestação ontem e outra aqui há uns anos. E eles têm razão. Acusaram-nos a nós de os explorarmos! Mas nós não vivíamos com tanta ostentação, era tudo p’r’ó normalzinho. Isto agora é ostentação demais, autênticos bunkers dos brancos ricos, com tudo o que há de melhor, à prova de todos os fósforos. Os pretos têm razão, que é criminoso o aumento do custo de vida, nas suas vidas miseráveis que tão bem contrastam com as dos “bunkers” dos brancos. Mas são abafados. À bastonada, talvez com bolas de borracha, metidos nas cadeias…
- Pois! O normal, nas democracias que semeámos.
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