- Ouviu ontem o Cavaco? - pergunto, ainda impressionada com a nova proposta do nosso esbelto Presidente, ontem, num discurso televisionado.
A minha amiga também ouvira, e também se impressionara:
- O Cavaco acordou. Viu que há mar. Que há muito mar para aproveitar. Olha como ele descobriu!
- Acha que é p’r’ó peixe?
- Não é p’r’ó peixe. É p’ra transportes. Viajar por mar, em vez do T.G.V., que foi ao ar. Agora vamos todos apanhar o barquinho. Vou ali, já venho. Vou de barco.
- Isto nem em Veneza! O que eu vejo é que cada um dos maiorais quer deixar o seu nome ligado a uma via. O Cavaco já tratou da rodoviária, em tempos, já tem assegurada a fama histórica, mas agora quer a da via marítima. O outro preferiu a ferrovia de alto gabarito, mas teve que desistir, como há muito lho aconselhavam. A história lembrará as suas ventoinhas das energias alternativas, além dos Magalhães, para pôr as cabeças dos meninos a girar também. O Cavaco veio agora com esta de nos virarmos p’ró mar, o que deixou toda a gente, julgo eu, meio esquinada. Não há para o comboio e vai haver para o barco? Não estamos definitivamente afundados com os submarinos importados, e outras coisas mais que até parecem por demais?
- Parece que não, que não estamos. Mas agora até podemos combinar as nossas próximas férias.
- Aonde quer ir? - pergunto, já na retranca. Eu não posso passar das Berlengas, que tenho o meu dinheiro guardado no banco.
- Guardado no banco? Ora, ora! Se o guardou no banco já anda a girar, que o banco é como os moinhos e as cabeças dos meninos.
- Gira que gira… Bem, vou então a pé, subindo a minha calçada…
- Mas como raio é que ele se lembrou dessa do mar, sem ser para peixe?
- Deve ter sido na praia lá do Algarve, aonde passa as férias. Sentado na areia, ter-se-á lembrado da pose do Infante D. Henrique em Sagres, com que se iniciou a volta? Digo, pelos continentes? Deve ter sido numa de sonho, de evasão, de saudosismo do nosso Presidente, como português genuíno que é.
- Da tolice, largou a minha amiga implacável. E quem vai custear as naus de agora?
– O défice tem vida própria, e a gente paga. Sempre pagou. Mas os nossos governantes sonhadores têm um companheirão no António Nobre, não julgue que estão sós! Há um soneto de 1887 que um dia encontrei transcrito num rochedo sobre a praia lá da Boa-Nova, como homenagem ao autor do “SÓ” e à dita praia. Bem merecem os nossos governantes que o dedique a eles, almas gémeas no fabrico de “castelos no ar”, “châteaux en Espagne”, francofonamente falando, lusofonamente definhando:
A minha amiga também ouvira, e também se impressionara:
- O Cavaco acordou. Viu que há mar. Que há muito mar para aproveitar. Olha como ele descobriu!
- Acha que é p’r’ó peixe?
- Não é p’r’ó peixe. É p’ra transportes. Viajar por mar, em vez do T.G.V., que foi ao ar. Agora vamos todos apanhar o barquinho. Vou ali, já venho. Vou de barco.
- Isto nem em Veneza! O que eu vejo é que cada um dos maiorais quer deixar o seu nome ligado a uma via. O Cavaco já tratou da rodoviária, em tempos, já tem assegurada a fama histórica, mas agora quer a da via marítima. O outro preferiu a ferrovia de alto gabarito, mas teve que desistir, como há muito lho aconselhavam. A história lembrará as suas ventoinhas das energias alternativas, além dos Magalhães, para pôr as cabeças dos meninos a girar também. O Cavaco veio agora com esta de nos virarmos p’ró mar, o que deixou toda a gente, julgo eu, meio esquinada. Não há para o comboio e vai haver para o barco? Não estamos definitivamente afundados com os submarinos importados, e outras coisas mais que até parecem por demais?
- Parece que não, que não estamos. Mas agora até podemos combinar as nossas próximas férias.
- Aonde quer ir? - pergunto, já na retranca. Eu não posso passar das Berlengas, que tenho o meu dinheiro guardado no banco.
- Guardado no banco? Ora, ora! Se o guardou no banco já anda a girar, que o banco é como os moinhos e as cabeças dos meninos.
- Gira que gira… Bem, vou então a pé, subindo a minha calçada…
- Mas como raio é que ele se lembrou dessa do mar, sem ser para peixe?
- Deve ter sido na praia lá do Algarve, aonde passa as férias. Sentado na areia, ter-se-á lembrado da pose do Infante D. Henrique em Sagres, com que se iniciou a volta? Digo, pelos continentes? Deve ter sido numa de sonho, de evasão, de saudosismo do nosso Presidente, como português genuíno que é.
- Da tolice, largou a minha amiga implacável. E quem vai custear as naus de agora?
– O défice tem vida própria, e a gente paga. Sempre pagou. Mas os nossos governantes sonhadores têm um companheirão no António Nobre, não julgue que estão sós! Há um soneto de 1887 que um dia encontrei transcrito num rochedo sobre a praia lá da Boa-Nova, como homenagem ao autor do “SÓ” e à dita praia. Bem merecem os nossos governantes que o dedique a eles, almas gémeas no fabrico de “castelos no ar”, “châteaux en Espagne”, francofonamente falando, lusofonamente definhando:
Na praia lá da Boa Nova, um dia,
Edifiquei (foi esse o grande mal)
Alto castelo, o que é a fantasia,
Todo de lápis-lazúli e coral!
Naquelas redondezas não havia
Quem se gabasse dum domínio igual:
Oh, castelo tão alto! parecia
O território dum senhor feudal.
Um dia, (não sei quando, nem sei donde)
Um vento seco de deserto e spleen
Deitou por terra, ao pó que tudo esconde,
O meu condado, o meu condado, sim!
Porque eu já fui um poderoso conde
Naquela idade em que se é conde assim …
"Alma de Afonso Henriques, retoma o teu gládio e vem salvar o nosso condado! Do vento do deserto... "
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