domingo, 13 de fevereiro de 2011

Coisas gramaticais e mais

- Isto agora não é para levar a sério, disse a minha amiga à minha sugestão de atirar palavras de sons parecidos, embora não propriamente parónimas, como forma de não atribuirmos importância, blasées que estamos, a nada do que se passa nas nossas paragens terráqueas, sejam elas moções, sejam menções, missões, os próprios mações - mas sem garantia - só mesmo as monções podendo causar, por vezes, prejuízos graves. E apesar das reivindicações do latino Terêncio de não se mostrar indiferente a nada do que seja humano, em resposta, podemos lembrar outras frases das celebridades, como esta do Hamlet às estranhezas do companheiro Horácio, de que há mais coisas na terra e no céu do que as que sonha a filosofia deste, que era descrente de prodígios – no caso concernente, o espectro subterrâneo do pai do príncipe dinamarquês, incitando o filho à vingança contra o cunhado, que lhe roubara o trono, a mulher e a vida.
Por isso, por vezes, a minha amiga e eu tomamos a tal atitude blasée, muito elegante, expressiva de saturação – há dias assim - mostrando-nos contrárias a mergulhar nos ruídos tantas vezes vazios, ou demasiado perfurantes das nossas sensibilidades, que já têm trabalho que chegue com os problemas e dores próprios, mesmo sem espectros a sobrecarregar-nos com esquisitas imposições detectivescas. Além disso, também aprendemos com o Ricardo Reis que, como o rio, passamos, e que mais vale passar tranquilamente, sem amores, nem ódios, etc., etc., embora essa asserção me pareça de atitude muito egoísta, que também nos transforma em seres amorfos, mas pode isso ser por pura ambição de auto-valorização, é certo que sem consequências mutacionais pessoais, com infinita melancolia minha, que sou da raça dos nossos dirigentes, pelo menos na ambição de riquezas, sempre goradas, no meu triste fado. E concordei:
- Tem razão, nada é para levar a sério. Veja a moção de censura que o Louçã, na sua missão revolucionária, embora eu cuide que não de mação, faz menção de executar para o governo PS e que tanta celeuma provocou, quase diria própria da monção lá dos trópicos, mesmo distante, o PSD muito enfiado, sem responder se aderiria, o nosso Primeiro Ministro muito exaltado, a lembrar ao mundo, com imenso estridor, as ambições de Passos Coelho ao posto dele, que também já as tivera mas não precisava mais de se lembrar, limitando-se a chamar a atenção do mundo para esse facto, no seu opositor, notório pela reticência na resposta imediata do PSD à menção da moção do Louçã, na sua missão dura, de monção desvairada, se não de mação secreto, pelo menos de mação pesado.
Mesmo assim, apesar do ar blasé, a minha amiga frisou sobre o turismo em extinção no Algarve, a falta de soluções para o desemprego, para sair da crise, a sociedade portuguesa envelhecida, a falta de condições para o acréscimo da natalidade…
- Portugal tem tanto velho, tanto velho, tanto velho… Já está desproporcionado… Portugal vai subsistir já só com emigrantes, as escolas enchem-se com os filhos dos emigrantes.
Esqueci o ar blasé:
- Pobre da língua portuguesa! Pobres daqueles escritores que fizeram o nosso orgulho! Espectros serão um dia, a gritar, das suas sombras, que foram traídos, tal o ex-rei da Dinamarca...
Mas, afinal, o Ricardo Reis disse bem: “ Quer gozemos, quer não gozemos, passamos, como o rio…”

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