domingo, 27 de fevereiro de 2011

O motivo de um projecto

-Vamos agora falar de coisas boas – diz a minha filha, na esplanada do café, sob um sol reparador.
Mostrei o costumado interesse pelos seus entusiasmos docentes. E logo ela explicou que a professora encarregada da educação sexual de uma turma sua de 11º ano já dera seis das doze horas impostas pelo Ministério, a partir deste ano, e esgotara o tema, recusando-se a continuar. Apelara para um sucessor, mas como ninguém se oferecera, provavelmente no receio da superioridade discente humilhante nesse capítulo de sexologia, a minha filha, com a alegria própria dos esforçados, lembrara aos colegas que poderia ser ela a prosseguir, retomando os temas (contidos no seu programa de Português) em algumas das suas anomalias a que a literatura de todos os tempos dera o necessário relevo - o incesto, o adultério - sendo que a homossexualidade e a pedofilia não estavam ainda grandemente registadas nas literaturas clássicas, tirando o Petrónio e o Marquês de Sade do nosso horizonte mais recuado.
Quanto ao tema do adultério, consciente ou inconsciente, pediu aos alunos que o explorassem no Auto da Índia, na própria Inês Pereira que não se eximira a tornar “cuco” o seu Pero Marques das segundas núpcias, n’ “Os Maias” - os arrebatamentos da condessa Gouvarinho - e provavelmente teriam mesmo ouvido sobre os desvarios da Luísa com o seu Primo Basílio… Quanto à pobre Madalena de Vilhena, do “Frei Luís de Sousa” poderiam sempre recordar o papel do destino na condução das tramas humanas e, eventualmente, relacioná-lo com a própria biografia de Garrett. O tema do incesto seria analisado nos irmãos de “Os Maias”, referido o da “Tragédia da Rua das Flores” entre filho e mãe …
O motivo de um projecto
E veio à baila o Rei Seleuco, a Fedra, o Édipo… Contei do meu livro emprestado para sempre – “La Machine Infernale” de Cocteau - que retomava o tema sofocliano, e logo a minha filha sugeriu que seria um bom título para o seu projecto, a máquina infernal significando esse mesmo destino a que os homens estão infalivelmente sujeitos, embora haja quem contrarie esses dizeres, na assunção dos seus actos, como o Orestes, em “As Moscas” de Sartre.
Temas apaixonantes, de facto, e eu logo alinhei, propondo-lhe, como elementos enriquecedores para os seus alunos, breves sínteses e excertos das ditas peças, como textos de apoio, talvez mais ordenados do que os que poderiam encontrar na Internet. Aceitou e propôs-me que os transcrevesse no blogue, onde poderiam ser úteis a quem quisesse pegar nesses temas, para lhes dar forma dramática, mais ou menos jocosa, como contava que os seus alunos fariam, ou para temas de debate ou expositivos…
Como o mundo do estudo pode ajudar a mocidade a ser mais criativa e alegre, como parece que o são os alunos daquela sua turma empenhada!
Eis os textos que ela lhes foi distribuindo, que não pretendem substituir-se a outras consultas, entre as quais, naturalmente, as da Internet. Textos que tive que separar, em postagens sucessivas -O Rei Édipo, Fedra, El-Rei Seleuco.

2 comentários:

Duarte Soares disse...

Muito obrigado por todo o material aqui colocado!

Duarte Soares - Aluno da Prof.ª Paula

Anônimo disse...

Obrigada, Duarte, por o saberes reconhecer. Um abraço. Berta Brás