domingo, 27 de fevereiro de 2011

“Fedra” de Jean Racine

Trata-se de uma tragédia (psicológica) sobre um tema colhido em Eurípedes, (tragediógrafo grego, conjuntamente com Ésquilo e Sófocles) sobre a paixão pecaminosa de Fedra, (casada com Teseu), pelo seu enteado Hipólito, (filho daquele), maltratado sempre por Fedra, como forma capciosa e virtuosa de ocultação do seu sentimento de amor por ele.
Tragédia em 5 actos, com as seguintes personagens:
Teseu, filho de Egeu, rei de Atenas.
Fedra, mulher de Teseu, filha de Minos e de Pasiphaé, irmã de Ariana, abandonada por Teseu depois de lhe ter dado o fio condutor que o libertou do labirinto de Creta, após ter morto o Minotauro).
Hipólito, filho de Teseu e de Antíope, rainha das Amazonas.
Aricia, princesa do sangue real de Atenas, amada por Hipólito.
Enone, ama e confidente de Fedra.
Teramène, aio de Hipólito.
Isménia, confidente de Aricia.
Panope, mulher do séquito de Fedra.
Guardas.
A cena passa-se em Trezena, cidade do Peloponeso.

Acto I:
Cena I
: Hipólito e Teramène dialogam sobre a decisão de Hipólito de partir em busca do pai, há muito em aventuras pelo mundo. Hipólito dispõe-se a despedir-se de Fedra, apesar da severidade desta para com ele.
Cena II: Enone conta que a rainha Fedra tem um desgosto íntimo que a vai destruindo. Hipólito decide não se despedir de Fedra.
Cena III: Diálogo de Fedra e Enone, sobre o sofrimento daquela, e o seu desejo de renunciar à vida, silenciando o motivo, inicialmente - paixão por Hipólito - mas denunciando-o por fim:
………..
Fedra: Céus! Que lhe direi eu, e por onde começar?
Enone: Com esses vãos receios, deixai de me ofender.
Fedra: Ó ódio de Vénus! Ó cólera fatal!
Que lançaste a minha mãe em tal desvario de amor!
(*)
* (Vénus inspirou a Pasiphaé um amor insensato por um touro branco de quem esta teve o Minotauro).
Enone: Esqueçamo-lo, Senhora; e que para sempre
Um eterno silêncio esconda essa lembrança.
Fedra: Ariane, minha irmã, de quanto amor ferido
Vós morrestes nas margens onde abandonada fostes!
(*)
* (Na ilha de Naxos, por Teseu)
Enone: Que fazeis, Senhora? E que dor mortal
Vos anima hoje contra a vossa família?
Fedra: Visto que Vénus o manda, deste sangue deplorável
Sou a última a morrer e a mais miserável.
Enone: Amais alguém?
Fedra: Do amor tenho todo o furor.
Enone: Por quem?
Fedra: Tu vais ouvir o cúmulo do horror.
Amo… Eu tremo, eu estremeço a este nome fatal.
Amo…
Enone: Quem?
Fedra: Conheces esse filho da Amazona,
Esse príncipe tanto tempo por mim rejeitado?
Enone: Hipólito? Deuses grandes!
Fedra: Tu o disseste.
Enone: Justo céu! Todo o meu sangue gela nas minhas veias.
Ó desespero! Ó crime! Ó raça deplorável!.....
Fedra: O meu mal vem de mais longe. Apenas ao filho de Egeu
Sob as leis do himeneu eu me ligara,
A minha felicidade parecia que se firmara;
Atenas mostrou-me o meu soberbo inimigo.
Vi-o, corei, empalideci à vista dele
Na minha alma perdida, uma perturbação se ergueu;
Os meus olhos não viam, eu não podia falar;
Senti todo o meu corpo tremer e arder….
A minha mão sobre os altares em vão queimava incenso:
Quando a minha boca implorava o nome da Deusa
(Vénus)
Era Hipólito que eu adorava…..
Em todo o lugar eu o evitava. Ó cúmulo da miséria!
Os meus olhos nos traços de seu pai o encontravam.
Contra mim própria ousei revoltar-me;
Forcei o meu coração a persegui-lo.
Para banir o inimigo que eu idolatrava
De uma injusta madrasta a severidade afectei …..

Cena IV: Panone vem informar que Teseu morreu.
Cena V: Enone convence Fedra sobre a legitimidade actual dos seus amores, com a morte de Teseu.

Acto II:
Cena I:
Diálogo entre Aricia e Ismena sobre a morte de Teseu e a perspectiva do amor de Hipólito por Aricia.
Cena II: Hipólito confirma o seu amor por Aricia, em inflamada declaração, oferecendo-lhe a liberdade, considerando-a tão possível herdeira do trono, quanto ele próprio e o filho de Fedra.
Cena III: Teramène informa que Fedra procura Hipólito.
Cena IV: Hipólito pressiona Teramène para a partida, que o liberte de um diálogo importuno.
Cena V: Fedra pede a protecção de Hipólito para o seu próprio filho e pouco a pouco revela-lhe os motivos da sua aspereza para com ele, que escondia uma imensa paixão:

“….Hipólito: “Vejo do vosso amor o efeito prodigioso.
Por muito morto que esteja, Teseu vive nos vossos olhos;
Sempre do amor por ele a vossa alma está abrasada.”
Fedra: Sim, Príncipe, eu ardo por Teseu
Amo-o, não como o viram os infernos….
Mas jovem, encantador, arrastando atrás de si todos os corações,
Tal como eu vos vejo a vós.
Ele tinha o vosso porte, os vossos olhos, a vossa fala
Esse nobre pudor coloria o seu rosto….”
Cena VI: Teramène informa Hipólito que o filho de Fedra foi escolhido para rei de Atenas e conta-lhe sobre o boato que dá conta que o seu pai está vivo.

Acto III:
Cena I:
O remorso de se ter declarado a um indiferente Hipólito, a vergonha e o medo, no diálogo entre Fedra e Enone.
Cena II: Fedra dirige-se a Vénus, horrorizada consigo própria, raivosa contra o indiferente Hipólito.
Cena III: Diálogo entre Fedra e Enone, que avisa Fedra do regresso de Teseu. Fedra decide morrer – de vergonha, de receio de que Hipólito conte ao pai dos seus amores desonrosos:
«… Fedra: O meu esposo está vivo, Enone, isso me basta.
Eu fiz a indigna confissão dum amor que o ultraja;
Ele vive: nada mais quero saber.
Enone: O quê?
Fedra: Eu tinha-te dito; mas não quiseste ouvir.
Sobre os meus justos remorsos as tuas lágrimas foram prevalecer.
Esta manhã eu morria digna de ser chorada;
Segui os teus conselhos, morro desonrada.»
Cena IV: Teseu dirige-se efusivamente para Fedra, mas é repelido por esta.
Cena V: Desgosto e estranheza de Teseu, Hipólito decide partir, sem acusar Fedra, Teseu procura Fedra, para saber a verdade.
Cena VI: Hipólito confidencia a Teramène todos os seus receios, mas considerando-se inocente, vai procurar convencer o pai do seu amor por ele.
Acto IV:
Cena I:
Enganado por Enone que falseou a verdade, atribuindo a Hipólito o amor por Fedra, Teseu ruge ameaças contra seu filho.
Cena II: Hipólito indigna-se contra as acusações do pai e informa-o do seu amor por Aricia.
…«Hipólito: Vós falais-me sempre de incesto e de adultério?
Eu calo-me. Todavia, Fedra sai de uma mãe,
Fedra é dum sangue, Senhor, bem o sabeis,
De todos esses horrores mais cheio do que o meu.
Teseu: O quê? A tua raiva aos meus olhos perde toda a contenção?
Pela última vez, sai da minha vista:
Sai, traidor. Não esperes que um pai furioso
Te faça arrancar com opróbio a estes lugares.»

Cena III: Raiva e desgosto de Teseu contra seu filho que ele sabe que vai morrer, às mãos de Neptuno.
Cena IV: Fedra tenta convencer Teseu a poupar o filho, mas é informada dos amores deste por Aricia.
Cena V: Dor, raiva e ciúme no monólogo de Fedra, contra Hipólito, que ama outra.
Cena VI: Diálogo com Enone, a quem expulsa, porque a orientou mal:
Fedra: «Os teus pedidos fizeram-me esquecer o meu dever.
Eu evitava Hipólito e tu fizeste-mo ver.
Com que direito te encarregaste disso?
Porque é que a tua boca ímpia
Acusando-o, ousou denegrir a sua vida?
Ele morrerá, talvez, e o voto sacrílego
Dum pai exaltado, será realizado.
Eu não te escuto mais. Vai-te, monstro execrável:
Vai, deixa-me o cuidado do meu destino deplorável….»

Acto V
Cena I:
Aricia aconselha Hipólito a defender-se das acusações do pai, Hipólito, nobremente, recusa levar o opróbio ao leito do pai, acusando Fedra. Incita Aricia a fugir com ele, esta responde que não é fácil deixar a tutela de Teseu, mas promete ir ter com ele.
Cena II: Teseu pede aos deuses o esclarecimento da verdade, Aricia pede a Isménia que prepare tudo para partirem.
Cena III: Diálogo entre Teseu e Aricia sobre Hipólito, Aricia defende Hipólito, deixa a dúvida no espírito de Teseu.
Cena IV: Teseu lamenta-se pela sorte do filho, que ele condenou, pede para ver Enone, para ser esclarecido sobre a verdade.
Cena V: Panope esclarece o Rei de que Enone se lançou ao mar, conta-lhe das marcas de sofrimento e insensatez de Fedra, querendo matar-se, e pede-lhe socorro.
Cena VI: Teramène informa da morte de Hipólito por um monstro marinho. Exclamações de dor de Teseu. Téramène conta a chegada e morte de Aricia, junto do amado.
Cena VII: Teseu dirige ironias raivosas contra Fedra, esta explica como tudo se passou, antes de morrer com o veneno que tomara. Teseu dispõe-se a chorar e a honrar o seu filho amado.
…«Fedra: Os momentos são-me preciosos, escutai, Teseu.
Fui eu que sobre esse filho casto e respeitoso
Ousei lançar um olhar profano, incestuoso.
O céu pôs em meu peito um amor funesto;
A detestável Enone conduziu tudo o resto….»

7 comentários:

Anônimo disse...

Olá, boa noite. Sou aluno da professora Paula. Excelente obra essa "Fedra". Assim como todas as outras obras de teatro. Muito bom trabalho. Wenderson Cardoso.

Anônimo disse...

Wendersen, obrigada pelo teu comentário, que prova a tua sensibilidade. A tua professora bem me disse que a tua turma é muito interessada. Nem sabes como fico feliz com isso, pois as notícias actuais sobre o comportamento estudantil são muito negativas. Portugal é um país pequeno, mas é nosso, devemos respeitá-lo, a mocidade deve ser respeitadora dos valores pátrios - e outros, claro. Um abraço. Berta Brás

Anônimo disse...

Ola boa tarde, sou mais um aluno da professora Paula Lacerda. Excelente obra sem dúvida!Gostaria de lhe pedir o favor de publicar a caracterização de cada personagem da "Fedra" para que se possa perceber melhor como são as mesmas.

Anônimo disse...

Caro "Anónimo"
Podias ter assinado. Não sei se o texto que acabei de postar te serve, mas talvez mesmo na Internet te esclareçam melhor, se não tiveres acesso à peça do Racine. Bom trabalho para ti e os teus colegas. Para mim foi um prazer, a breve análise.
Um abraço
Berta Brás

Anônimo disse...

ameiiii, estou no curso de teatro licenciatura e precisava de um resumo assim mesmo pra me situar ^^ obrigada! perfeito!

Unknown disse...

Poha que texto chato

Unknown disse...

Ótimo, essa peça é mais requintada do Racine. Texto chave do teatro clássico francês.