terça-feira, 14 de junho de 2011

Mesmice

- Eu só gostava de saber o que os troikas estão a comentar nesta semana de feriados e casamentos. Mas aquela câmara é rica, por ventura? Sempre foi.
Formalizei-me, no meu orgulho nacional, que não aceita peias impostas lá de fora, mas perguntei com curiosidade se os homossexuais já se viam nos casamentos do Santo António, abençoados por António Costa, já que a minha amiga está sempre a par dos acontecimentos importantes que implicam gastos vultosos dos dinheiros do nosso empréstimo e das fofocas da nossa vida social.
- O Santo António acho que não autoriza. Lá irão. Não vi as marchas. Hoje é feriado, não se trabalha. Uma semana de férias para os que partiram na véspera.
Achei que a minha amiga exagerava, é seu costume exagerar. As férias foram de quinta ao fim do dia a segunda, durante o dia. Dois dias reais, de facto, o dia de Camões e o de Santo António. Além de que tínhamos mesmo que distinguir o dia de Santo António, que se tivesse vindo morrer a Lisboa, no seu naufrágio marroquino, e não em Itália para onde foi desviado, não teria tido a projecção que teve, pregando em Pádua, o que lhe deu mais prestígio do que se tivesse vindo pregar ao seu país natal, que não vai em pregações de espécie alguma, nem nunca foi.
Foi até por esse motivo que a minha amiga falou do professor Cavaco, a propósito das nossas actuais licenciaturas:
- Licenciados aos molhinhos não arranjam emprego. Toda a gente vai para Direito, não sei se sabe. Têm que tirar doutoramento para terem alguma utilidade. O coiso já os distribuiu p’rà terra, p’ra terem alguma utilidade. Parece que agora já não precisamos do mar para nada. O gajo calou-se com o mar de repente, porque seria?
Eu também não sabia. Tudo tão utópico naquele discurso orientador, mas no improviso costumeiro, sem apontar estruturações implicando mais gastos… Da outra vez falou da necessidade do mar, desta vez da necessidade da terra, para nos safarmos… Será que ele não se lembra de como tudo fora feito, no seu tempo de ministro, de canalização de massas alheias, mal paradas muitas delas, para sabotar as nossas fontes de economia, mesquinhas que fossem, mas nossas… Temos um país de supermercados cheios de produtos estrangeiros, mas os troikas vão exigir travão no regabofe, embora disso nada se veja ainda, e só as ajudas das Misericórdias, com os usuais peditórios, revelam o caos em que estamos transformados.
De gente a viver da caridade. Destituída de autonomia provinda do seu trabalho, sem direito a participar em actividades do seu país, desrespeitada na sua condição humana.
País sem alma? A alma de sempre.

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