Li num Correio
da Manhã que estava pousado sobre uma cadeira do café e que pouco depois foi
requisitado pelo dono, um senhor chinês perante quem eu me desdobrei em vénias
e pedidos de desculpa da usurpação, por ter julgado que o C. M. pertencia ao
dono do café, pouco habituada a que os chineses pousem o que quer que
seja, em ar de desleixo ou desperdício, que é mais característico da nossa
maneira de ser de abandono, mas o senhor chinês retribuiu a vénia mudamente
embora sorridente, e levou o jornal, quase sem me dar tempo a tomar nota da
noticiazinha que vinha num cantinho da última página, expondo que “Mário Soares
sempre foi contra a austeridade”.
A minha
amiga ainda estava a arrumar os seus aprestos, ou seja, apenas o saco do Pingo
Doce para não ter que comprar outro, uma medida de poupança que eu muito
admiro, pois, na ânsia de me escapulir para os breves minutos de liberdade fora
de casa, longe das requisições e atribulações, enquadro-me na mesma linha de
pensamento de M. S., esquecendo de me prevenir com os sacos da minha
austeridade habitual.
Mas divagámos sobre o registo do C. M. a respeito do não enquadramento de M.S. na
linha austera do Primeiro Ministro P. C. e sobre a importância que a esse facto
atribui o prestimoso jornal e todos os demais jornais do nosso burgo, que
também atribuem, na mesma linha de pensamento e sensibilidade que os faz debruçarem-se
sobre a tristeza de Ronaldo, não sei se por motivos de serviço público, pois
todos gostamos que nos fartamos desses rumores de saias das Elvirinhas, para
não lhes chamarmos Donas Elviras, que estas já estão fora de rodagem.
Soubemos
assim, graças ao serviço público do C.M., que M.S. continua em forma, inimigo
da austeridade, lembrando os belos tempos das suas belas viagens à Índia e a mais
espaços terráqueos, sempre com alta comitiva, a abrir pistas económicas e de
passagem passear-se nos animais de grande envergadura, elefantes ou tartarugas
da sua destreza e diversão enternecedoras daquela época juvenil, viagens que
também contribuíram para cavar os buracos que a austeridade de P. C. quer tapar
sem mais aquelas, com a inimizade de todos os da linha de M. S., que são
muitos, embora alguns deles também já tenham chamado a M. S. coveiro – um dos
muitos – da Pátria, mas num sentido mais sepulcral, pois que os buracos actuais têm
um sentido de negrume de galáxia, apesar de tudo, mais temível, por falta dos
santos óleos da Extrema-Unção.
E ali ficámos,
a minha amiga e eu, presas em tristes congeminações sobre as eternas falácias
de uns humanos que, na cegueira das lavagens ao cérebro que uma falsa
ilustração provoca, na superficialidade e sofisma das suas premissas, mantêm eternamente
a aura, concedida, é certo, igualmente, neste nosso país de calor e combustão –
de matas incendiadas - com idêntico impacto, às tristezazinhas do nosso craque
futebolístico.
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