segunda-feira, 17 de setembro de 2012

“Porque não perguntam a Evans?”


Foi a propósito do meu texto sobre a peça “Júlio César” de Shakespeare e o filme de Mankiewicz e as minhas conclusões sobre a morte do nosso César, com os ratos a abandonar o porão, que a minha amiga falou, uma vez mais, da pergunta de que se lembra sempre que assiste às entrevistas dos jornalistas aos entrevistados:

- A televisão deu várias imagens de entrevistas com a Manuela Ferreira Leite, onde ela apontou todos os defeitos da actual política governativa. E não houve um jornalista que lhe fizesse a pergunta: “A senhora, se fosse agora Primeira Ministra, perante a situação do país, como é que fazia?”

Eu, que também a ouvi com revolta e indignação, confesso, pois sempre lhe reconheci elevação moral que esta inesperada performance de falha de solidariedade fez cair por terra, descobrindo eu nela ocultas mágoas contra um companheiro de partido que anteriormente a tinha vencido eleitoralmente, mágoas de outros seus apoiantes, e por tal, não solidários também, não direi com o ministro eleito, mas com o país que o pede, ressalvei a nobre isenção de alguns comentadores, entre os quais Lobo Xavier, que, reconhecendo a política suicidária do Primeiro Ministro, na rigidez de uma intransigência que parece séria mas se afigura de imatura, lembrou fábulas adequadas, como a dos ratos, seres primeiros a abandonar o porão do navio em naufrágio, e a do leão revoltado com os coices do burro à hora da morte, sem o António Costa perceber o porquê da revolta leonina, provavelmente por não ter complexos contra os burros nem os seus coices. Mas Pacheco Pereira acusou o toque e concordou com a questão da rataria em fuga, sem complexos, defendendo, com o brilhantismo da sua filosofia nem sempre proba, o ponto de vista dos ratos.

Também Paulo Portas faz um discurso em que os traços de rigor e elegância expositiva emparelham com a inteligência de argumentação e a nobreza de princípios de amor pátrio que alguns outros igualmente revelam, entre os quais Marcelo Rebelo de Sousa, de um rigor e rapidez de discernimento perfeitamente admiráveis, na precisão das suas respostas de decisiva lucidez a respeito das andanças de uns e outros, com optimismo, simplicidade e orientação, e não apenas para deslumbrar por meio de prosas quantas vezes enigmáticas de outros mais, para o impacto imediato da troça ou da admiração pelos respectivos saberes, sem desejo de conserto e só de substituição do Governo.

A minha amiga tem razão. Concorda com as manifestações do povo (eu também, desde que não deixem passar – mas passam – os slogans revolucionários da desordem, ao estilo chileno “o povo unido jamais será vencido” que copiámos e adaptámos à nossa condição de brandura inerme e que há 38 anos nos ferem os tímpanos.

Mas ela tem razão: Era necessário saber como fariam os tais que só criticam para deslumbrar ou botar abaixo, varinas saracoteantes apregoando gritadamente o seu peixe, desinteressadas dos problemas que a pesca traz a quem a pratica.

Se, quem a pratica o fez mal, é preciso solidariedade para o corrigir. Por amor do bem comum. Como diz a minha amiga, “se têm uma solução, juntem-se todos para a solução.”

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