Foi a
propósito do meu texto sobre a peça “Júlio César” de Shakespeare e o
filme de Mankiewicz e as minhas conclusões sobre a morte do nosso César, com os
ratos a abandonar o porão, que a minha amiga falou, uma vez mais, da pergunta
de que se lembra sempre que assiste às entrevistas dos jornalistas aos
entrevistados:
- A
televisão deu várias imagens de entrevistas com a Manuela Ferreira Leite, onde
ela apontou todos os defeitos da actual política governativa. E não houve um
jornalista que lhe fizesse a pergunta: “A senhora, se fosse agora Primeira
Ministra, perante a situação do país, como é que fazia?”
Eu, que
também a ouvi com revolta e indignação, confesso, pois sempre lhe reconheci
elevação moral que esta inesperada performance de falha de solidariedade fez
cair por terra, descobrindo eu nela ocultas mágoas contra um companheiro de
partido que anteriormente a tinha vencido eleitoralmente, mágoas de outros seus
apoiantes, e por tal, não solidários também, não direi com o ministro eleito,
mas com o país que o pede, ressalvei a nobre isenção de alguns comentadores,
entre os quais Lobo Xavier, que, reconhecendo a política suicidária do Primeiro
Ministro, na rigidez de uma intransigência que parece séria mas se afigura de
imatura, lembrou fábulas adequadas, como a dos ratos, seres primeiros a
abandonar o porão do navio em naufrágio, e a do leão revoltado com os coices do
burro à hora da morte, sem o António Costa perceber o porquê da revolta leonina,
provavelmente por não ter complexos contra os burros nem os seus coices. Mas
Pacheco Pereira acusou o toque e concordou com a questão da rataria em fuga,
sem complexos, defendendo, com o brilhantismo da sua filosofia nem sempre proba,
o ponto de vista dos ratos.
Também
Paulo Portas faz um discurso em que os traços de rigor e elegância expositiva
emparelham com a inteligência de argumentação e a nobreza de princípios de amor
pátrio que alguns outros igualmente revelam, entre os quais Marcelo Rebelo de
Sousa, de um rigor e rapidez de discernimento perfeitamente admiráveis, na
precisão das suas respostas de decisiva lucidez a respeito das andanças de uns
e outros, com optimismo, simplicidade e orientação, e não apenas para deslumbrar
por meio de prosas quantas vezes enigmáticas de outros mais, para o impacto
imediato da troça ou da admiração pelos respectivos saberes, sem desejo de
conserto e só de substituição do Governo.
A minha
amiga tem razão. Concorda com as manifestações do povo (eu também, desde que
não deixem passar – mas passam – os slogans revolucionários da desordem, ao
estilo chileno “o povo unido jamais será vencido” que copiámos e adaptámos à
nossa condição de brandura inerme e que há 38 anos nos ferem os tímpanos.
Mas ela tem
razão: Era necessário saber como fariam os tais que só criticam para deslumbrar
ou botar abaixo, varinas saracoteantes apregoando gritadamente o seu peixe,
desinteressadas dos problemas que a pesca traz a quem a pratica.
Se, quem a
pratica o fez mal, é preciso solidariedade para o corrigir. Por amor do bem
comum. Como diz a minha amiga, “se têm uma solução, juntem-se todos para a
solução.”
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