terça-feira, 13 de novembro de 2012

«Almas sem lares»


Falámos de Isabel Jonet , do que ela disse a respeito de nos termos habituado ultimamente a “viver acima das nossas possibilidades” e até concordámos e apresentámos exemplos fortes, de jovens estudantes que vão para as universidades de automóvel pessoal, de concertos caros abarrotando de assistência, de automóveis topo de gama que encontramos por aí, de férias passadas em locais paradisíacos… e tudo isso possibilitado por slogans do tipo “viaje agora e pague depois” e por cartões de débito que permitem compras sem crédito imediato, etc. Tudo isso, pois, num assalto urgente a uma banca facilitadora de dinheiros que a adesão em tempos a uma Comunidade Económica Europeia proporcionou, sem grande critério de ponderação no respeito pelo alheio e na salvaguarda da própria autonomia económica, apenas numa orientação sloganística apoiada em chavões de democracia defensora dos direitos próprios, omissa na questão dos deveres.

Ficámos interditas com a reacção de muitos reaccionários contra tudo o que pareça imbuído de bom senso e honestidade e destituído de uma ideologia pró-democracia, e esses são os que espumam simpatia pelos desfavorecidos, tentando trazê-los a qualquer preço para o grupo dos favorecidos, embora as actuais medidas económicas  revelem um desfavorecimento generalizado que nos abrange na maioria, consequência desse despejar de facilidades que tão enganador se revelou.

Por isso criticámos os tais e defendemos Isabel Jonet  na honestidade do seu parecer, não isento de igual dedicação pela causa da pobreza, presidente que é do Banco Alimentar contra a Fome, admirando simultaneamente inúmeras pessoas que se revezam diariamente, sob a égide da Igreja, distribuindo alimentos e roupas, bem como os que o fazem nas carrinhas para os sem abrigo, embora nos pareça uma forma de alimentar muito do parasitismo de que enferma a nossa sociedade mendigadora, que preza o “coitadinho” da nossa simpatia resultante da nossa afectividade inquebrantável e que Guerra Junqueiro tão bem expressou no seu poema “Os pobrezinhos”.

No jornal “Correio da Manhã” de 12/11 encontrei um texto de Eduardo Dâmaso que comecei a ler com interesse, não fora a referência desprezadora às tais Jonats que até, nestes tempos carentes, têm preenchido tanto das falhas a que a má condução governativa conduziu a sociedade:

«A caridade purificadora foi sempre fuga das almas angustiadas com a sua própria riqueza. Os pobres são incapazes de tratar de si próprios, têm de ser ajudados com uma esmola. Na monarquia, a caridade expiava a má consciência de uns quantos nobres. No Estado Novo a caridade alimentava as conversas no chá das “tias”. A democracia é uma grande criação humana precisamente para que a dignidade de todas as pessoas seja respeitada, para que os pobres não sejam mero objecto dos donos da caridade. É isso que as senhoras Jonets deste mundo não entenderam. Fica-lhes bem a caridade, mas do que precisam é de verdadeiros direitos e não de prédicas idiotas.»

Um texto correcto, não fora a acintosa perversão interpretativa do bom senso de Isabel Jonat ao considerar o tal consumismo que nos tramou. Não há volta a dar-lhes, aos nossos demagogos de trazer por casa.

 

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