Falámos de
Isabel Jonet , do que ela disse a respeito de nos termos habituado ultimamente
a “viver acima das nossas possibilidades” e até concordámos e
apresentámos exemplos fortes, de jovens estudantes que vão para as
universidades de automóvel pessoal, de concertos caros abarrotando de
assistência, de automóveis topo de gama que encontramos por aí, de férias
passadas em locais paradisíacos… e tudo isso possibilitado por slogans do tipo
“viaje agora e pague depois” e por cartões de débito que permitem
compras sem crédito imediato, etc. Tudo isso, pois, num assalto urgente a uma
banca facilitadora de dinheiros que a adesão em tempos a uma Comunidade
Económica Europeia proporcionou, sem grande critério de ponderação no respeito
pelo alheio e na salvaguarda da própria autonomia económica, apenas numa
orientação sloganística apoiada em chavões de democracia defensora dos direitos
próprios, omissa na questão dos deveres.
Ficámos
interditas com a reacção de muitos reaccionários contra tudo o que pareça
imbuído de bom senso e honestidade e destituído de uma ideologia
pró-democracia, e esses são os que espumam simpatia pelos desfavorecidos, tentando
trazê-los a qualquer preço para o grupo dos favorecidos, embora as actuais
medidas económicas revelem um
desfavorecimento generalizado que nos abrange na maioria, consequência desse
despejar de facilidades que tão enganador se revelou.
Por isso
criticámos os tais e defendemos Isabel Jonet
na honestidade do seu parecer, não isento de igual dedicação pela causa
da pobreza, presidente que é do Banco Alimentar contra a Fome, admirando
simultaneamente inúmeras pessoas que se revezam diariamente, sob a égide da
Igreja, distribuindo alimentos e roupas, bem como os que o fazem nas carrinhas
para os sem abrigo, embora nos pareça uma forma de alimentar muito do
parasitismo de que enferma a nossa sociedade mendigadora, que preza o “coitadinho”
da nossa simpatia resultante da nossa afectividade inquebrantável e que Guerra
Junqueiro tão bem expressou no seu poema “Os pobrezinhos”.
No jornal “Correio
da Manhã” de 12/11 encontrei um texto de Eduardo Dâmaso que comecei a ler com interesse,
não fora a referência desprezadora às tais Jonats que até, nestes tempos carentes,
têm preenchido tanto das falhas a que a má condução governativa conduziu a
sociedade:
«A
caridade purificadora foi sempre fuga das almas angustiadas com a sua própria
riqueza. Os pobres são incapazes de tratar de si próprios, têm de ser ajudados
com uma esmola. Na monarquia, a caridade expiava a má consciência de uns
quantos nobres. No Estado Novo a caridade alimentava as conversas no chá das “tias”.
A democracia é uma grande criação humana precisamente para que a dignidade de
todas as pessoas seja respeitada, para que os pobres não sejam mero objecto dos
donos da caridade. É isso que as senhoras Jonets deste mundo não entenderam.
Fica-lhes bem a caridade, mas do que precisam é de verdadeiros direitos e não
de prédicas idiotas.»
Um texto
correcto, não fora a acintosa perversão interpretativa do bom senso de Isabel
Jonat ao considerar o tal consumismo que nos tramou. Não há volta a dar-lhes,
aos nossos demagogos de trazer por casa.
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