Era a nossa
Rita Hayworth, a nossa Elisabeth Taylor, a nossa Marilyn Monroe, a nossa
Brigitte Bardot, a sex symbol à nossa medida lusa - a ousadia langorosa,
comedida e doce, a voz do seu canto, de modulação discreta, numa letra popular
aconchegada ao lar português, de atávica modéstia. Era a nossa Vénus bem comportada,
por vezes mais ambiciosa ou mais caprichosa, nada, em todo o caso, que os
sensatos pais de família não pudessem revelar às suas filhas nos cinemas de
sábado à noite. Uma mulher bela, a nossa Milú, que os filmes de Arthur Duarte
revelaram em casto mas gentil enredo, que a graça irresistível de António Silva
salvaria da banalidade.
Outros filmes fez, fez teatro, obteve
medalhas, no final da vida, em simpáticas homenagens provando que a sua aura se
mantinha nos nossos corações, numa altura em que já não fazia sombra a ninguém
e que era preciso que embarcasse para o além contente connosco. Como se fez a
tantos dos nossos artistas à beira da morte. Entretanto, dos artistas que
fizeram o nosso encanto, no humor ou na seriedade dos seus papéis, poucos são
os que se mantêm no palco das nossas referências televisivas, a época pertence
à juventude radiosa na graça do seu brilho, que terá que se precaver por seu turno, contra a
efémera passagem.
Milú
manteve a sua elegância, vimo-la nos anos oitenta, num dos excelentes
espectáculos de “E o Resto são Cantigas” de Carlos Cruz, Fialho e
Solnado, recordámo-la recentemente , nesse espectáculo reposto no Canal
Memória.
Morreu em
2008, com 82 anos. Discretamente. O Estado que a agraciou ainda em vida,
abandonou-a na morte. Não, nem todos são Amália, a merecerem, muito justamente,
a eternidade do seu Panteão.
Mas Milú está
nos nossos corações, várias vezes é recordada nos filmes repostos, merecia algo
mais que a campa rasa, onde um particular generoso colocou a moldura com a sua foto
da escolha da filha, que não tem possibilidades materiais para lhe cobrir a
campa com o mármore da sua e da nossa veneração, arriscando-se a ter que enfiar
os ossos da mãe, dentro de um ano, num soturno gavetão da nossa feroz e
mesquinha indiferença ou ingratidão.
Milú
merecia que os seus ossos permanecessem no seu lugar distinto, em campa de
mármore bela, como homenagem à personagem distinta que figurou para nós, e
permanecerá ao longo dos tempos, para as gerações que lhe sentirão a magia,
apesar das transformações que a arte cinéfila vai sofrendo.
O Estado
devia proteger a campa da nossa Milú, mandando construir marmórea lápide que
lhe eternizasse a memória.
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