Estamos numa
era de uxoricídios
Um palavrão
de graves vícios
Que implica
má preparação
Cívica e
cultural
Que nos é
muito natural
Como uma condenação
Pouco
abonatória
– Direi mesmo vexatória -
Da nossa condição
social,
Em Portugal.
Ela
justifica outros maus tratos
De crianças
e de velhos, de animais,
E tantos
mais,
O que nos penaliza
em inúteis exaltações
De comoções
Sem
resultados práticos.
O tema dos
conflitos familiares, afinal,
- De
violência doméstica, como consta -
É universal
Já o disse
Florian, um fabulista
Novecentista
A propósito de
pássaros
De oposta
compleição:
«A
pega e a pomba»
«Uma
pomba tinha o seu ninho
Ao pé do
ninho de uma pega.
Chama-se
a isso, sem descortesia,
Arranjar fraca
companhia,
Mas, por ora,
não é
Dessa
anomalia que vos damos fé.
Na casa
da rolinha era tudo
Felicidade
e amor;
No outro
ninho, eram só questões,
Ovos partidos,
discussões,
Rumor.
Quando do
seu esposo ela levava pancada
- Bicada,
para maior precisão -
A casa da
vizinha ela logo vinha,
Falava, chorava,
gritava danada,
Passava
em revista
Os defeitos
do seu esposo sacrista:
“ - Ele é
altivo, exigente, duro, violento,
Ciumento,
Além de
que eu sei muito bem
Que ele
vai visitar umas gralhas
Ao calhas”;
E cem
outras coisas parelhas
Ela dizia na sua raiva despeitada,
Desgraçada…
“ - Mas vós, responde a rolinha,
Sensata e boazinha,
Não tendes também defeitos?”
“- Claro que tenho, isso que fique entre nós.
Em conduta, em propósitos, sou de grande
ligeireza,
Coquete até mais não, irosa, com certeza,
E divertindo-me a valer
A fazê-lo enraivecer.”
“ – Mas isso é um exagero, minha cara,
Começai por vos corrigirdes,
O vosso humor poderá irritá-lo…”
“ –Chamais-me minha cara?
Logo a interrompe a pega bera:
« Eu ? Mau humor?
Como? Conto-vos os meus males
E vós
injuriais-me?
Acho-vos uma graça irritante,
Se não, pedante!
Adeus, impertinente;
Ocupai-vos dos vossos filhotes,
Esses rolinhos franganotes;
Concordámos na questão dos defeitos,
Mas apenas para que sejam desmentidos,
Com todos os preceitos,
Não para que nos sejam criticados
Com tais trejeitos
Atrevidotes.”»
Ninguém gosta, com efeito,
De ser assacado de defeito,
Mesmo que sejamos às vezes os primeiros,
Modestamente,
A levantar a lebre dos nossos argueiros,
Para seguidamente,
Iradamente,
Apontarmos as trancas
Nas carrancas
Que temos defronte,
Que não merecem perdão,
Isso não!
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