segunda-feira, 15 de julho de 2013

Bom circo é Portugal


Os irmãos Grimm têm um conto – “O tocador maravilhoso” – sobre um jovem tocador de violino que atravessou uma floresta à procura de um companheiro que apreciasse a sua música. Mas aos três animais que o quiseram escutar – um lobo, uma raposa e uma lebre – e mesmo desejavam com ele aprender, como fazem, entre nós, os fãs e as fãs do nosso Tony Carreira e faziam outrora os fãs e as fãs do Marco Paulo, tal é o estranho efeito da música sobre a alma humana, sobretudo feminina entre nós, e mesmo sobre a alma dos bichos, de que os ratos de Hamelin são outro exemplo igualmente narrado pelos irmãos Grimm – aos três animais, repito, que quiseram aprender música com o tocador de violino, este, depois de os acolher com simpatia, passeando-se com eles, fez-lhes grandes patifarias prendendo-os às árvores da floresta, em requinte de selvajaria que não se julgaria possível num artista de tanto calibre musical. E o tocador continuou a tocar até que foi escutado por um lenhador embevecido, que o defendeu contra os três animais, entretanto libertos e enfurecidos, que correram a atacar o tocador mas foram expulsos pelo lenhador amante de violino, que teve direito a mais uma melodia de agradecimento, antes de o tocador se pôr a andar, em busca de outros alunos.

Nós por cá também vivemos em maré de música -  Ró, para sermos mais precisos, ao estilo de Tony Silva, um verdadeiro artista sempre em "perfeita diálise" com o seu "publicuzinho".

Temos muitos tocadores, para todos os gostos, e com base nas musiquinhas vamos esfrangalhando o país, a ponto de ninguém mais saber a quantas anda nem para onde vai. E cada tocador que vem, dá mais um safanão  na arquitectura do edifício cada vez mais desconjuntado deste país de bobos.

O último foi Cavaco Silva, o impassível sr. Silva – não o Tony - cuja passividade era apenas de aparência, um “silêncio do mar” só calmo à superfície, rugindo nas suas profundezas em vagalhões ameaçadores de vingança e mesquinhez, apenas preocupado com a honra ou os interesses pessoais, reduzida a pátria , como há muito tempo fora, a um circo onde as habilidades pessoais se praticam, desarticuladas e industriosas.

 

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