Os irmãos
Grimm têm um conto – “O tocador maravilhoso” – sobre um jovem tocador de
violino que atravessou uma floresta à procura de um companheiro que apreciasse
a sua música. Mas aos três animais que o quiseram escutar – um lobo, uma raposa
e uma lebre – e mesmo desejavam com ele aprender, como fazem, entre nós, os fãs
e as fãs do nosso Tony Carreira e faziam outrora os fãs e as fãs do Marco
Paulo, tal é o estranho efeito da música sobre a alma humana, sobretudo feminina
entre nós, e mesmo sobre a alma dos bichos, de que os ratos de Hamelin são
outro exemplo igualmente narrado pelos irmãos Grimm – aos três animais, repito,
que quiseram aprender música com o tocador de violino, este, depois de os
acolher com simpatia, passeando-se com eles, fez-lhes grandes patifarias prendendo-os
às árvores da floresta, em requinte de selvajaria que não se julgaria possível
num artista de tanto calibre musical. E o tocador continuou a tocar até que foi
escutado por um lenhador embevecido, que o defendeu contra os três animais,
entretanto libertos e enfurecidos, que correram a atacar o tocador mas foram expulsos
pelo lenhador amante de violino, que teve direito a mais uma melodia de
agradecimento, antes de o tocador se pôr a andar, em busca de outros alunos.
Nós por cá
também vivemos em maré de música - Ró,
para sermos mais precisos, ao estilo de Tony Silva, um verdadeiro artista sempre
em "perfeita diálise" com o seu "publicuzinho".
Temos
muitos tocadores, para todos os gostos, e com base nas musiquinhas vamos
esfrangalhando o país, a ponto de ninguém mais saber a quantas anda nem para onde
vai. E cada tocador que vem, dá mais um safanão na arquitectura do edifício cada vez mais
desconjuntado deste país de bobos.
O último
foi Cavaco Silva, o impassível sr. Silva – não o Tony - cuja passividade era
apenas de aparência, um “silêncio do mar” só calmo à superfície, rugindo nas suas
profundezas em vagalhões ameaçadores de vingança e mesquinhez, apenas
preocupado com a honra ou os interesses pessoais, reduzida a pátria , como há
muito tempo fora, a um circo onde as habilidades pessoais se praticam, desarticuladas
e industriosas.
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