Dei à minha
amiga a informação que me tinha abismado quando a ouvi da boca séria do
ministro Gaspar das Finanças: que a recuperação económica portuguesa se
iniciaria num dia exacto de setembro, não me lembra (parafraseando Garrett) bem
se a 13 de 2013. Até comentei que 13 é uma data portuguesa célebre, pelo menos
o de Maio e o de Outubro, em que a Nossa Senhora apareceu a três pastorinhos
nuns ramos de azinheira de Fátima, e que
talvez por isso ele falou no 13, sem esclarecer as contas, ou então fui eu que
não as percebi, que de contas só vejo os cortes no vencimento que me arrasam a
vida.
Mas a minha
amiga entendeu que não devia ser por analogia com as datas da Aparição, e logo
disparou, sempre rápida a tirar conclusões, nem sei se fruto das suas
experiências de vida:
- Se
calhar, ele foi à Maia.
Mas
logo a seguir pôs-se a troçar dessa precisão do ministro Victor Gaspar a
respeito do início da escalada económica, quando o que por aí vai são mais
falências, despedimentos, desemprego às catadupas, gente a precisar da sopa dos
pobres, como antigamente, com os pobrezinhos que sempre foram cultivados com
amor no nosso país, e não sou eu que o digo, embora os novos pobres de agora
sejam muitos dos novos ricos de há pouco, que se tinham empenhado, favorecidos
pelas promessas dos bancos que emprestavam para a casa e para o carro e a
pequena empresa e que agora vão buscar a casa e o resto, cuja prestação já não vai ser paga, na senda
dos despedimentos…
Eu até
confirmei, nos meus magros conhecimentos obtidos da boca dos críticos da
situação, que quanto mais se afunda a economia em impostos incomportáveis, que
fazem fechar as empresas, atirando para a rua tantos milhares de trabalhadores,
mais dificilmente, se pode emergir da imersão.
Então,
resolvi vir para casa esclarecer-me melhor na Internet sobre aquilo que o
ministro disse, pois não gosto de fazer observações levianas e muito menos a
respeito da exactidão das datas – o 5 de Outubro sendo sempre o 5 de
Outubro, assim como o 1º de
Dezembro sendo esse e não outro - e colhi
o seguinte:
«Portugal tem de reembolsar 10
mil milhões de euros de dívida pública, que vencem a 23 de setembro de 2013. O
atual programa de ajustamento acordado com o FMI e os parceiros europeus prevê
que uma parte desse valor deve ser refinanciado junto do setor privado, ou
seja, por essa altura, Portugal devia estar de volta aos mercados da dívida.
Mas os analistas têm dúvidas se isso será possível ou se Portugal precisará de
um segundo resgate para evitar o incumprimento. «Nós não vamos, por nossa
conta, pedir mais tempo nem mais dinheiro», disse Gaspar. «Mas conforta-nos o
facto de os nossos parceiros internacionais terem indicado que se nós enfrentarmos
dificuldades imprevistas no regresso aos mercados em condições normais, eles
nos dariam mais ajuda financeira, com a condição de nós cumprirmos os termos e
condições do programa», acrescentou. Exportações vão ajudar à retoma…»
E
então vi a razão por que o ministro Victor Gaspar falou na retoma. O reembolso
dos dez mil milhões simultâneo de imediata retoma, não propriamente com enriquecimento
pelo trabalho, mas com novos empréstimos, dada a confiança que mereceremos a
quem nos vai conceder mais crédito, pois saldámos essa dívida. Já podemos fazer
outra que nós ou outros pagarão. Hábitos antigos não se perdem de imediato.
Lembrei-me
do D. Enguiço do António Nobre:
“Farto de dores com que o matavam,
Foi em viagens por esse Mundo:
Mas os comboios descarrilavam,
Mas os paquetes iam ao fundo!”
Não,
não foi só ele o D. Enguiço. É nosso retrato. É nossa sina que
transportamos às costas desde sempre. Com menos arte. Mas com idêntica dor,
causada pelas discrepâncias de sempre, entre os que se safam e os que não. Vejamos:
«O bom Amigo que vou cantando,
Neto de Santos, irmão de Aflitos,
Nasceu chorando, nasceu gritando,
Nasceu aos gritos! Nasceu aos gritos!
Já pressentia, menino estranho,
O que no Mundo cá o esperava,
E assim pedia, num dó tamanho,
Não no tirassem lá donde estava…”
…
“Olá, Senhoras, que ides na frota,
Que ides às Ásias, enquanto eu fico,
- Boa viagem!... E tomai nota,
Dai lá saudades ao compatriota…
Meu pobre Chico! Meu pobre Chico!» ("SÓ" - Paris, 1893)
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