Mais um
texto de militante convidado – o deputado do PS, Acácio Pinto - que o DN de 19
de Março publicou na rubrica “Fórum” sob o título “Afirmar o português no
mundo”, a embirrar com os detractores do Acordo Ortográfico –“no
momento em que um vasto conjunto de portugueses lhe decidiram fazer um
ataque cerrado mas, em grande medida, serôdio.”
E o
adjectivo ao jeito frutícola resulta da irradiante euforia de Acácio Pinto pelo
facto de já não ser passível de eliminação o tal Acordo. A.P. joga pelo seguro
e sabe que não haverá anulação, mesmo que seja disparatada grande parte dos argumentos dos que os protagonizaram e
isso o faz ironizar com eloquência e saber, embora sem ter lido nunca os argumentos
dos seus contrários.
A
indignação de Acácio Pinto transparece no parêntese («Ou será que foi
preciso Vasco Graça Moura chegar ao CCB e desautorizar o primeiro-ministro, para
que este assunto voltasse à ribalta?»)
Realmente,
Vasco Graça Moura chegou ao CCB e fez tropelias no Acordo ao rejeitá-lo no seu
espaço de trabalho, em protesto inútil, tal como o é o dos mais reaças, que não seguem os ditames daquele.
Quanto a mim, admiro a sua coragem em desautorizar
os fabricantes do A. O., talvez por se considerar um ser com peso intelectual
bastante para se permitir fazê-lo. Quanto ao PM não sei se se achou desautorizado.
Afinal, ele antes de o ser, também já o era, tal como a pescada, isto é, era
contra o Acordo antes de ser PM. A menos que a sua posição passada visasse já o
seu presente ministerial, infelizmente temos que admitir essa hipótese, já que
agora o PM atirou com a querela às malvas.
Todo o texto
de A.P. é um acervo de lugares comuns sobre os vários acordos, desde 1911 sem
envolvimento da Academia Brasileira e os posteriores, de acordo com ela, de 31,
43, 45, 71/73, 75 e 86, em que “foi, finalmente, encontrado um texto
comum que, podendo ter lacunas, é um acordo internacional e um acordo é,
em si mesmo, um facto que encerra convergência, que é positivo e que importa,
pois, enfatizar.”
Para além
da alegação, talvez irónica, de que um
acordo encerra convergência, ainda que não tenha sido solicitado referendo, e do falso argumento de que se trata de um acordo
internacional, omitindo propositadamente os Palops que o não ratificaram,
propõe os conhecidos exemplos de substituições antigas, de duplas consoantes: ph>f
– (pharmacia>farmácia), sc>c - (sciencia>ciência, ct>t
(aflicto>aflito), xh>x – (exhausto>exausto), cuja mudança em seu
tempo também provocou excitações, gradualmente extintas.
Ninguém põe
em dúvida a natural evolução das línguas, sujeitas a um processo simplificador,
com leis específicas, como a do menor esforço, que origina fenómenos fonéticos
como assimilações, dissimilações, nasalações, síncopes, apócopes, próteses, etc.,
etc., e que têm como efeito as transformações gráficas correspondentes. Nessa
lei do menor esforço se integram as duplas supressões consonânticas citadas,
como, por uma ordem de racionalidade, se propõe a passagem do ditongo único
antigo, ãi de mãe, ao actual ãe, por inexistência do primeiro e sua assimilação
gráfica ao ditongo do plural ães de cães, pães, proveniente do latim –anes.
A língua brasileira, por arrastamento, o fez também, sem precisar de acordo.
O texto de Acácio Pinto omite tudo o que existe de
insensato no novo Acordo, como a criação
da nova homonímia - “ato”, o presente e
o pretérito –“achamos” – a criação de absurdos linguísticos, como na onomástica
– Egito, egípcio - tudo isso gerador de confusões, e de dificuldades ao
nível da interpretação e da escrita, originando, para mais, uma língua sem
carisma, própria de um povo atrasado e desclassificado como é, cada vez mais o
nosso, indiferente ao legado clássico.
Por outro lado, nesta pretensão de absurda fraternidade luso-brasileira,
que esconde reais sintomas de subserviência, por interesse económico, ignora-se
o facto de a pretensa uniformização ortográfica não passar de falso argumento,
já que tal uniformidade não é absoluta. Veja-se o caso dos binômios ou
dos tônicos brasileiros com um chapeuzinho a resguardar dos calores,
contra o acento agudo acutilante dos nossos.
Pessoas ambiciosas e idólatras como o deputado A. P. temo-las
q. b. para a revolução ortográfica. Já as tivemos antes, para a
revolução política. Estamos aqui. Assim.
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