Encimado por um belo quadro de “Cassandra”
por Evelyn De Morgan, no “A Bem da Nação”, o texto de Henrique Salles da Fonseca:
«AS
CASSANDRAS QUE POR AÍ PULULAM»
«Sacerdotisa de Apolo,
Cassandra era bela a ponto de o próprio deus por ela se apaixonar e de lhe
conferir o dom da profecia. Mas recusando-se ela a ceder aos avanços do
apaixonado, este lançou-lhe a maldição de ninguém acreditar nas profecias que
fizesse.»
«Assim estão os econometristas que se entretêm
a construir modelos matemáticos que supostamente representam a economia de um
país e com base nos quais profetizam o que vai suceder no futuro económico. Só
que a distância entre as previsões e a realidade medida quando o futuro se
transforma em presente é vulgarmente tão grande que já pertence à gíria
dizer-se que «os econometristas são muito bons a prever... o passado».
Cassandras em toda a linha!
E para que servem então essas declarações tão
solenes em periódicas conferências de imprensa de que o PIB de tal país vai
crescer tantos por cento ou o emprego vai decrescer outros tantos pontos
percentuais? A resposta só deveria ser uma: para nada! Mas infelizmente não é
assim. Na realidade, servem para justificar a manipulação da informação e esta
serve para provocar oscilações bolsistas tanto em títulos de rendimento
variável ou fixo como nas taxas de juro dos mercados de capitais, etc. E se a
especulação é a base natural do funcionamento bolsista, a manipulação da
informação é uma infâmia.
E onde está a origem do mal? Nas profecias em
que ninguém de boa-fé acredita: acabemos com a manipulação; acabemos com a má
fortuna de Cassandra.
Sim, os modelos econométricos são muito
interessantes como instrumentos académicos mas muito perniciosos cá fora das
Universidades.»
E o meu comentário, como sempre admirando a desenvoltura
intelectual e moral do autor do texto, que, naturalmente, está do outro lado da
paliçada, Deus o abençoe por isso:
“Por conta dessa manipulação, para pré-aviso aos
manipuláveis, estão também as sondagens de opinião, sobretudo em alturas de
aparente sucesso governativo para mostrar a inanidade desse sucesso cá e assustar
os governantes. Ou programas humorísticos como "O governo sombra",
com um Pedro Mexia que já pareceu mais responsável quando saiu do “Eixo do Mal”,
aparentemente por não acompanhar a pedalada verrinosa dos companheiros
especuladores. Há, de facto, muitos que usam os cálculos ou a ironia para
assustar os tímidos, ou os que acompanham facilmente os calculistas, sem parar
para medir os prós e os contras, mais adeptos da anarquia que a democracia
favorece.
Não valemos mais do que os africanos, aquando das
descolonizações, facilmente impregnados das ilusões transmitidas pelos muitos
candidatos a construtores dos seus novos países emancipados. Entre esses, uma
tal Joana Simeão, que surgiu airosa e bela a dizer das suas razões sobre o
colonizador português, e a quem fiz uns "versos" a condizer, num
livro saído então em Lourenço Marques - "Pedras de Sal":
"Assim é Joana..."
«Itinerante. Revolucionária. Espaventosa e de gracioso
turbante.
Cem por cento militante- Ela o diz, a gente o crê, pelo que ouve e o que vê -
Vai em frente, sempre avante,
Cheia de força e de fé,
No ardor da sua palavra
Convincente e operante.
Gira que gira, torna que torna,
Põe, depõe, repõe, compõe,
Sempre com garra, sempre com alma.
Assim é Joana,
Itinerante e de gracioso turbante.
Espírito gritante, diz verdades convincentes,
Que andam na boca das gentes.
Insulta e recebe insultos,
Não se rala e vai avante
Devolvendo, veemente,
Olho por olho, dente por dente.
Assim é Joana.
Graciosa, em turbilhão,
Saltando ágil na ampla arena
Do terreno cobiçado
- Moçambique, sua terra -
Onde julga vir a ter
Papel preponderante.
Mas sempre na augusta cabeça
Um majestoso turbante.»
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