Um texto
simples e claro, de Pedro Brás Teixeira,
Director-executivo do Nova Finance Center, Nova School of Business and
Economics – “Os portugueses são presas
demasiado fáceis para os demagogos”, que Salles da Fonseca publica no “A Bem da
Nação, sob o título. «LIÇÕES DE DEMAGOGIA»:
«Os
portugueses são presas demasiado fáceis para os demagogos»
«Vou
enunciar algumas lições de demagogia, não com o propósito de as elogiar e divulgar,
mas com a intenção de alertar os eleitores para os seus perigos.
O caso mais óbvio e mais
facilmente desmascarável é o dos políticos que compram votos, seja com a oferta
de ferros de engomar e outros electrodomésticos, seja com as ofertas mais ridículas,
de sacos de plástico e canetas.
A demagogia mais perigosa encontra-se em outras paragens, e é especialmente nociva quando é dirigida a um eleitorado particularmente pouco preparado para a detectar, como é o português.
Julgo
que esta falta de preparação em Portugal decorre de dois efeitos. Em primeiro
lugar, do atraso na alfabetização, que só chegou verdadeiramente em meados do
século xx. Em segundo lugar, da falta de cultura científica e de apreço pelo
rigor, que Eça de Queiroz já salientou em "Os Maias", na voz do avô
do protagonista: a "mania [dos portugueses] é fazer belas frases, ver-lhes
o brilho, sentir-lhes a música. Se for necessário falsear a ideia, deixá-la
incompleta, exagerá-la, para a frase ganhar em beleza, o desgraçado não
hesita... Vá-se pela água a baixo o pensamento, mas salve-se a bela
frase".
Um
certo tipo de demagogia é a defesa de objectivos óbvios, sem entrar em detalhes
sobre os instrumentos necessários - e possíveis - para alcançar aqueles
objectivos. Hoje há muita gente que é a favor do crescimento e do emprego, como
se houvesse alguém que fosse a favor da recessão e do desemprego. Infelizmente,
muitos portugueses param aqui e ficam logo satisfeitos, como se isto fosse
algum programa político. Dizer que se é a favor do crescimento económico vale
tanto como afirmar que se é a favor da felicidade ou como defender que se deve
achar a cura para o cancro. Estes dois últimos objectivos, assim formulados,
parecem ridículos, mas na verdade não são mais destituídos de conteúdo do que
hoje dizer que se defende a redução do desemprego. É óbvio que toda a gente
defende a redução do desemprego, mas a questão é o como. E, peço desculpa, mas
não serve sugerir políticas impossíveis ou que não estão na mão dos políticos
que as defendem (mas antes muito longe, numa Europa que não tem nenhuma vontade
de as aplicar), nem propor a repetição de receitas passadas, que nos colocaram
no buraco em que estamos.
Apesar
de tudo, o crescimento económico e o desemprego são conceitos objectivos e
existem dados estatísticos regulares que nos permitem acompanhar. Logo, se um
político é eleito a prometer reduzir o desemprego, no final do mandato podemos
verificar se cumpriu ou não a sua promessa, mesmo esquecendo que uma promessa
deste tipo extravasa largamente o que está nas mãos dos governos conseguir.
Há, no
entanto, tiradas demagógicas mais subjectivas e muito atraentes. Imaginem um
político em campanha eleitoral a gritar: "Nós defendemos impostos mais
justos!" É muito natural que se instale o delírio e que todos concordem
com esta "ideia". No entanto, estão a concordar exactamente com quê?
Muito possivelmente, cada um acha que impostos mais justos é ele próprio pagar
menos e os outros pagarem mais. Na verdade, não estão nada de acordo, é quase
como se cada um tivesse a sua opinião, diferente da de todos os outros.
Considero
que esta é uma das formas mais perigosas de demagogia, a utilização de frases
ocas, com as quais toda a gente está de acordo, mas que não querem dizer
rigorosamente nada. Ou seja, permitem ganhar votos sem qualquer tipo de
contrapartidas. Ao contrário do desemprego, em que existe um indicador
objectivo publicado pelo INE, em relação à justiça dos impostos não temos
nenhum indicador semelhante.
Por
isso, torna-se muito difícil no final do mandato fazer uma clara avaliação do
cumprimento da promessa eleitoral de "impostos mais justos".
Vivemos
em tempos tão difíceis que não há praticamente nenhuma proposta que um político
possa fazer que seja atraente. Por isso estamos em terreno especialmente propício
para os demagogos e devemos estar atentos para os detectar. »
O título do artigo logo remete para considerandos
sobre o porquê da nossa facilidade em aceitar as lições dos demagogos, que têm
a ver com uma impreparação ancestral. Antero o descreveu
no seu opúsculo “CAUSAS DA DECADÊNCIA DOS POVOS PENINSULARES”, Oliveira Martins o informa no 3º volume do “Portugal Contemporâneo”:
“Dentro da Europa, Portugal é talvez a Nação onde o sentimento das ideias modernas menos se tem propagado. Encarando a nossa sociedade, podemos atribuir este facto à falta de instrução pública e ao carácter próprio da vida económica. A ignorância geral é a consequência mais dolorosa que deixaram de si os três séculos de obscurantismo que sucederam às Descobertas; e o carácter próprio da vida económica é ainda uma consequência do movimento da Renascença em Portugal, mas principalmente provém da falta de condições industriais e da abundância e riqueza de condições agrícolas.”...
“Memoremos as causas, tiremos as consequências, diagnostiquemos o futuro:
a) ignorância popular, por não haver instrução primária;
b) atrofiamento intelectual e moral da mocidade pela constituição da secundária;
c) parasitismo aristocrático-tolo dos filhos da classe média pela educação universitária;
d) reconstituição dos “latifundia” pela legislação;
e) ausência de indústria pela pobreza natural mineralógica;
f) formação da classe “brasileiro” (tão hedionda, no Minho, principalmente!), manutenção da emigração de trabalhadores, de raparigas que o prostíbulo espera além-mar, etc, pela exploração do Brasil.
“Quererás tu, “conservar” ainda, leitor? Quererás conservar esta engrenagem horrenda em que se entrelaçam em harmonia íntima, com as voltas de uma boa enorme, a ignorância, a miséria intelectual e moral, o parasitismo, a agiotagem, a grande propriedade, os “brasileiros”, os “bacharéis”, os “agiotas”, e as prostitutas? Não podes querer, ou não vales mais, tu, do que todos estes”.»
Mas tais reclamações, grande parte das vezes instigadas pelas vozes da demagogia, têm a ver com a ineficácia das estruturas educativas, com o atraso do povo, com a falta de profissionalismo daí consequente, com o estado deficitário da economia, com o clima de instabilidade nacional, com o aumento das greves e do desemprego, com o vazio dos discursos e ideologias políticas de “tantas facções”, com a alternância de partidos no poder, cada qual tentando equilibrar as finanças do Estado, em políticas de diferente dimensão, mas cada vez mais contribuindo para aumentar o défice, o custo de vida e a imagem negativa que temos de nós próprios.
Por esse motivo, perguntamo-nos se outras causas não haverá que expliquem a nossa decadência, para além das citadas por Antero ou Oliveira Martins, justificativas de uma permanente situação de crise económica que, apesar das críticas demagógicas contra o governo, e da deficiência económica cada vez mais notória, o governo actual pretende honestamente, embora muito dificilmente, colmatar, também por conta da tal demagogia dos atiçadores da opinião pública, lembrando meninos impacientes exigindo aos papás o brinquedo da montra que a moda impõe.
Costuma-se apontar a nossa posição periférica, separados da Europa por uma cadeia montanhosa, mas nunca ela foi intransponível, nem obstáculo a invasões de povos, como aconteceu com os outros povos europeus, além da facilidade de comunicações actual. Fomos um povo agrícola, mas o solo pobre poderia ter facilitado uma maior industrialização, se fôssemos um povo trabalhador. Talvez o clima ameno justifique em parte também a nossa tendência para a inércia e a imprevidência, ou uma característica fatalista, de resignação e fé, nos torne um povo em permanente apetência de milagre salvador, de que o sebastianismo foi um exemplo constante na nossa história social e literária.
E uma das consequências graves do nosso atraso e da nossa inércia é essa que cita Pedro Brás Teixeira, de que “Os portugueses são presas demasiado fáceis para os demagogos”. Porque estes, ao aparecerem-lhes como camaradas sensíveis e amistosos, vão explorando perversamente as dores alheias e desvirtuando cinicamente as intenções dos que governam – no caso presente, com a devida compostura e hombridade, e forçados pela situação por tantos governantes anteriores criada – e originando assim, sem qualquer preocupação nacionalista, o caos na própria nação.
Entre esses demagogos de meia tigela aponto José Pacheco Pereira, aproveitando o espaço de um seu programa – A Quadratura do Círculo – em que ele ocupará um dos lados do Quadrado, mas com aspirações ao centro do Círculo - para demitir o governo, no seu ódio faccioso e impertinente, e na sua arrogância destruidora que a filiação partidária actual não justifica – mas que talvez justifiquem anteriores filiações, mais conformes com tal verrina, que lhe facultam, hoje, a nobreza da idade representada nas barbas grisalhas e o clima da impunidade que a democracia facilitou.
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