quinta-feira, 11 de abril de 2013

"Dia de anos”


Passa hoje o seu aniversário
A minha amiga que tão bem canta
E ora em qualquer hora.
E até perora,
Que agora
Há sempre "matéria a nunca ouvido canto"
Do nosso pranto,
Embora
Por vezes também
Do nosso riso com pouco siso.
Intimamente, sei que ela
Irá cantar o “Ai quem me dera
Ter outra vez vinte anos”
Pois saudade não lhe falta
Dos tempos de outrora.
Por isso a ela
Dedico esta fábula
Em que La Fontaine premeia
Os que sabem cantar,
E orar.

 «O cisne e o cozinheiro»
Num pátio de aves ocupado
Viviam o cisne e o ganso:
Aquele aos olhares do dono destinado,
Este ao seu paladar;
Um gabava-se de ser
Comensal do jardim, o outro da mansão,
Com muita satisfação.
Fazendo dos fossos do castelo os seus passeios,
Ora os viam lado a lado nadar,
Ora sobre a onda deslizar ou mergulhar,
Sem os seus vãos desejos satisfazer.
Um dia o cozinheiro,
De um trago bebendo em demasia,
Tomou pelo ganso o cisne
E, pelo pescoço o segurando, ia
Degolá-lo, para fazer sopa dele
Sem nenhuma cortesia.
A ave, prestes a morrer, em triste canto
Desfez-se em pranto.
O cozinheiro ficou muito surpreendido
Com o sucedido
E viu logo que se tinha enganado.
“O quê! Eu seria capaz
De na sopa pôr
Um tal cantor?
Não, praza aos deuses que jamais
A minha mão corte a garganta
A quem dela se serve com tanta pinta.”
Assim, nos perigos que nos seguem de perto
E na hora sagrada,
O doce falar não prejudica em nada.»

 É o que esperamos.
Cantemos, como o cisne, antes de morrermos,
Para não morrermos
Às mãos dos cozinheiros bêbedos
Não das “bebedeiras de azul”
Mas do tinto.
Embora
Para nós seja sempre a hora
De o fazermos:
Cantarmos
Para a garganta safarmos
Da degola
Neste nosso lago
Neste nosso fosso.
Cantemos.

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