Segundo o Sr. Fernando Penim Redondo no seu texto do D.N. de 16/5, não virá ao mundo “nem grande mal nem grande bem” por causa do Acordo Ortográfico. Trata-se de um mero “não problema”, uma mera “disputa entre claques”, e aqui se patenteia o extremo alcance dos valores futebolísticos na nossa engrenagem mental, para mais, avessa a matemáticas. Mas, quando não vem nem bem nem mal ao mundo, o melhor é deixar estar como estava, na minha humilde opinião. Parece isto lógico.
Todavia, o Sr. F. P. Redondo que pensa “largo e universalmente, tendo em conta a comunidade mundial dos falantes”, justifica o Acordo, com o qual concorda por ser “fundamentalmente um sinal diplomático, um gesto simbólico”. É certo que não justifica o seu point de vue, mas quanto a mim, também em humilde parecer, considero-o uma enigmática expressão poética, o que comprova outra faceta da nossa engrenagem mental - a de povo de poetas, sobretudo de poetas enigmáticos, ou seja, os com desvios, que o Acordo aparentemente vem favorecer no que reporta à sintaxe “que, a ser sempre respeitada, limitaria gravemente a linguagem poética” segundo o nono parágrafo do texto em questão, o que me parece desvirtuar um pouco as intenções daquele - do Acordo - que não tem culpa nenhuma do desacato.
Mas o 5º parágrafo do texto do Sr. F. P. Redondo é um verdadeiro tratado de eloquência ... “poética” (embora não enigmática), que não resisto a transcrever: “Depois há um outro nível de relevância da ortografia. Trata-se de uma lei sem sanções. Passada a fase dos ditados escolares, cada um escreve como calha e não sofre nenhuma sanção por isso...”
O resto do texto confirma o conteúdo semântico desta... “estrofe”.
Com tais “criações” será que ainda formamos país? Ou estaremos a pedir selva?
segunda-feira, 26 de maio de 2008
domingo, 25 de maio de 2008
RESIGNAÇÃO
Quando nos abismamos com as injustiças no nosso país, logo alguém acode com o slogan de que sempre assim foi e há-de ser, daí que o melhor será deixar correr, que não temos emenda.
Será assim, mas dizem-nos também que vivemos em democracia, embora os cépticos vão restringindo essa ideia, abespinhados com as provas que a contrariam. Como não nos impugnaram ainda a capacidade de revolta, contudo, ousamos revelá-la, denunciando a recente escalada de promoções nas escolas, não por provas dadas em funções docentes, mas por outras provas, entre as quais se distinguem as dadas em subtilezas promocionais, por meio do encosto aos superiores directivos, que protegem a casta, por talvez dela fazerem parte.
Referimo-nos à actual promoção de professores por meio de pontuações que assentam não nos anos de docência mais ou menos eficiente e sempre trabalhosa, mas resultante de cargos que extrapolam dessas funções de docência simples, para outras extralectivas menos onerosas do ponto de vista pedagógico, sobretudo nos tempos actuais, de uma massa discente na sua maioria indisciplinada e acéfala.
Cito apenas dois exemplos, entre tantos que repugnam a qualquer consciência escrupulosa:
O primeiro, de uma sempre boa estudante, com 14 de licenciatura, 15 de estágio, estudo permanente, competência q.b., já que orientou a sua vida na leitura, no estudo e no acompanhamento escolar, com a correcção permanente em casa dos trabalhos dos seus discípulos. Direcções de turma algumas apenas, já que só lhe foram contados os últimos sete anos para pontuação e valorização da sua carreira, obtendo com isso, ao que parece, o Estado, uma receita imponente no desconto de anos dos professores mais antigos. Excluída da titularidade.
O segundo, de uma estudante média, de licenciatura em línguas estrangeiras, que, por incapacidade de a utilizar, usurpou, graças à protecção dos maiorais, a docência em português, sem contudo, se aventurar nunca pelos anos mais graduados da literatura portuguesa. Reconhecendo essas suas deficiências, fez-se complemento indispensável junto da Direcção, tendo sido sempre protegida e bafejada nos seus horários, por imposição superior. Esperta e subserviente, foi-se “valorizando” com muitas direcções de turma e cargos afins, que lhe deram o direito à titularidade, provavelmente com competência para avaliar a colega anterior.
É este o país que temos, o governo que dita tais normas, a mediocridade cobrindo diafanamente o povo pequeno que somos. Assim seja!
Será assim, mas dizem-nos também que vivemos em democracia, embora os cépticos vão restringindo essa ideia, abespinhados com as provas que a contrariam. Como não nos impugnaram ainda a capacidade de revolta, contudo, ousamos revelá-la, denunciando a recente escalada de promoções nas escolas, não por provas dadas em funções docentes, mas por outras provas, entre as quais se distinguem as dadas em subtilezas promocionais, por meio do encosto aos superiores directivos, que protegem a casta, por talvez dela fazerem parte.
Referimo-nos à actual promoção de professores por meio de pontuações que assentam não nos anos de docência mais ou menos eficiente e sempre trabalhosa, mas resultante de cargos que extrapolam dessas funções de docência simples, para outras extralectivas menos onerosas do ponto de vista pedagógico, sobretudo nos tempos actuais, de uma massa discente na sua maioria indisciplinada e acéfala.
Cito apenas dois exemplos, entre tantos que repugnam a qualquer consciência escrupulosa:
O primeiro, de uma sempre boa estudante, com 14 de licenciatura, 15 de estágio, estudo permanente, competência q.b., já que orientou a sua vida na leitura, no estudo e no acompanhamento escolar, com a correcção permanente em casa dos trabalhos dos seus discípulos. Direcções de turma algumas apenas, já que só lhe foram contados os últimos sete anos para pontuação e valorização da sua carreira, obtendo com isso, ao que parece, o Estado, uma receita imponente no desconto de anos dos professores mais antigos. Excluída da titularidade.
O segundo, de uma estudante média, de licenciatura em línguas estrangeiras, que, por incapacidade de a utilizar, usurpou, graças à protecção dos maiorais, a docência em português, sem contudo, se aventurar nunca pelos anos mais graduados da literatura portuguesa. Reconhecendo essas suas deficiências, fez-se complemento indispensável junto da Direcção, tendo sido sempre protegida e bafejada nos seus horários, por imposição superior. Esperta e subserviente, foi-se “valorizando” com muitas direcções de turma e cargos afins, que lhe deram o direito à titularidade, provavelmente com competência para avaliar a colega anterior.
É este o país que temos, o governo que dita tais normas, a mediocridade cobrindo diafanamente o povo pequeno que somos. Assim seja!
Ex.ma Srª Ministra da Educação
A leitura do livro do professor Nuno Crato – «O “Eduquês” em discurso directo – Uma crítica da pedagogia romântica e construtivista» - ao revelar-me – finalmente! – uma atitude desassombrada de crítica às modernas pedagogias destruidoras dos velhos conceitos racionalistas – provocou em mim um entusiasmo de prosélita, porque também defendi tal ideologia crítica ao longo do meu percurso docente, o que comprovo com o livro em anexo – “Anuário” – com os textos das páginas 9, 11, 15, 35, 36, 53, 55, 97, 107, 109, 123, 129, 131, 135, 145, 149, 159, 185, 201.
Sei quanto é abusivo o enviá-lo a V. Exª, pedindo-lhe que o leia nas ditas páginas, mas é grande o amor pelo meu país – como me parece ser o de V. Exª - e o desejo de remediar a perversão de um ensino acéfalo e impertinente como é o nosso há já três décadas, me fez tomar tal ousadia, encorajada pelo livro do prof. Nuno Crato.
Quanto à avaliação dos professores para efeitos de progressão na carreira, embora reconhecendo as razões que movem V. Exª, eu apenas lembro quanto pode ser subjectivo tal tipo de avaliação, dependente tantas vezes da maior ou menor empatia pelo docente, vítima eu própria desse factor, assente numa idiossincrasia de mesquinhez de um povo culturalmente pouco desenvolvido como é o nosso.
Por outro lado, as cargas horárias que pendem sobre os professores, em actividades extra-curriculares farfalhudas e inibidoras de uma maior concentração nas matérias lectivas, para além do laxismo disciplinar disparatado consentâneo com a pedagogia da irresponsabilidade e do lúdico que promovem as modernas práticas educativas, constituem, para os professores esforçados e conscientes que conseguem ultrapassar tais handicaps, razão suficiente para a sua progressão, que os mecanismos directivos da escola poderão sempre avaliar, se forem honestos e isentos.
Sei o parco valor desta minha participação, mas, na recta final da minha vida, desejo deixar ainda esta achega, tão inútil, é certo, como as anteriores, que espalhei ao longo de uma obra ditada pelo respeito pelos velhos valores em que fui criada – o da disciplina mental e o do respeito por aqueles que me ajudaram a obtê-la.
Sem outro assunto , muito atenciosamente.
Sei quanto é abusivo o enviá-lo a V. Exª, pedindo-lhe que o leia nas ditas páginas, mas é grande o amor pelo meu país – como me parece ser o de V. Exª - e o desejo de remediar a perversão de um ensino acéfalo e impertinente como é o nosso há já três décadas, me fez tomar tal ousadia, encorajada pelo livro do prof. Nuno Crato.
Quanto à avaliação dos professores para efeitos de progressão na carreira, embora reconhecendo as razões que movem V. Exª, eu apenas lembro quanto pode ser subjectivo tal tipo de avaliação, dependente tantas vezes da maior ou menor empatia pelo docente, vítima eu própria desse factor, assente numa idiossincrasia de mesquinhez de um povo culturalmente pouco desenvolvido como é o nosso.
Por outro lado, as cargas horárias que pendem sobre os professores, em actividades extra-curriculares farfalhudas e inibidoras de uma maior concentração nas matérias lectivas, para além do laxismo disciplinar disparatado consentâneo com a pedagogia da irresponsabilidade e do lúdico que promovem as modernas práticas educativas, constituem, para os professores esforçados e conscientes que conseguem ultrapassar tais handicaps, razão suficiente para a sua progressão, que os mecanismos directivos da escola poderão sempre avaliar, se forem honestos e isentos.
Sei o parco valor desta minha participação, mas, na recta final da minha vida, desejo deixar ainda esta achega, tão inútil, é certo, como as anteriores, que espalhei ao longo de uma obra ditada pelo respeito pelos velhos valores em que fui criada – o da disciplina mental e o do respeito por aqueles que me ajudaram a obtê-la.
Sem outro assunto , muito atenciosamente.
ARROZ DOCE PARA O SEU AMOR
Para o seu namorado conquistar
Este arroz doce lhe deve apresentar
Cujo segredo é mexer mexer mexer
Com meia chávena de arroz sempre a ferver
Em dois litros de leite e até mais
Um pouco de margarina, uma pitada de sal
E a casca de um limão para melhor saber,
Mexer até engrossar
Durante uma hora e tal.
Quando já estiver consistente
E o arroz cozido a preceito,
Com açúcar a seu gosto adoçado,
Quatro gemas batidas a eito
Às quais acrescenta leite frio,
Para as gemas não cozerem na mistura quente,
Por um coador devem passar
Quando sobre o arroz os despejar.
E sempre mexendo, mexendo
Enquanto o arroz vai fervendo.
Assim que pronto estiver
Sobre uma travessa o deve verter
Que com canela pode enfeitar
E o nome do seu namorado escrever.
Este arroz doce lhe deve apresentar
Cujo segredo é mexer mexer mexer
Com meia chávena de arroz sempre a ferver
Em dois litros de leite e até mais
Um pouco de margarina, uma pitada de sal
E a casca de um limão para melhor saber,
Mexer até engrossar
Durante uma hora e tal.
Quando já estiver consistente
E o arroz cozido a preceito,
Com açúcar a seu gosto adoçado,
Quatro gemas batidas a eito
Às quais acrescenta leite frio,
Para as gemas não cozerem na mistura quente,
Por um coador devem passar
Quando sobre o arroz os despejar.
E sempre mexendo, mexendo
Enquanto o arroz vai fervendo.
Assim que pronto estiver
Sobre uma travessa o deve verter
Que com canela pode enfeitar
E o nome do seu namorado escrever.
Um texto antigo
“Liberdades”... Foi o que conquistámos com a democracia. Não “liberdade” apenas, como característica inerente ao homem racional, no sentido do respeito pela sua condição humana, que se assume com a elegância de uma formação cultural dignificante.
A nossa democracia, instituída à pressa e na convulsão, num país desde sempre votado ao ostracismo nessa formação, só assumida nas facetas dos elitismos minoritários, jamais poderia obter outros frutos que não fossem os da anarquia e da vulgaridade.
E todos somos responsáveis: os que detêm o poder e o instituem na base do lucro pessoal, os que assistem manietados na desilusão ou na indiferença céptica, os que se deixam manipular - segundo velho ditado – e que são a massa.
Porque um poder que não exige contenção aos órgãos de comunicação para plateias, que permite programas popularuchos de grande dispêndio de afectividades e ruído, protagonizados quer por apresentadores quer por gente que busca notoriedade, ainda que efémera, ou que, na mira de audiências, usa programas em que o sexo, a pornografia ou a desenvoltura atrevida são a escola dos nossos filhos e de uma população iletrada ou imatura, ao invés de fornecer propostas formativas de maior elegância e racionalidade – esse poder, desatento ou pouco firme, só pode contribuir para o descalabro moral e cultural em que nos afundamos.
Herman José, ressalvada a sua competência de apresentador e a graça das suas primeiras actuações, é, há muito, um dos responsáveis pela libertinagem e desbragamento generalizados, de sentimentos, de gestos ou de linguagem, em que os seus programas petrificaram.
Inteligente, repentista, desenvolto, utilizou cada vez mais as suas competências no sentido de uma progressiva actuação provocatória, sem bom senso nem bom gosto, num tolo pretexto de desmistificação dos preconceitos e dos pedantismos sociais, sem atender à parolice dos seus lugares comuns enxovalhantes, vaidoso ditador na exposição da sua pessoa em que as marcas da perversidade são cada vez mais visíveis.
E o povo assiste-o e ri alvarmente das suas traquinices desavergonhadas e já sediças, e tantas vezes ditadas pela maldade ou arrogância achincalhantes de quem se julga pairando em esferas superiores de imunidade.
Quer ser português, a sua pátria é esta, afirma-o, mas despreza-a, a todo o poder da sua filiação germânica superior, estrela solitária num universo vazio.
E nós sentimos que merecemos esse desprezo, porque o permitimos, na nossa idolatria de pacóvios e de cegos por aquele que tem um olho e que por isso é rei.
A nossa democracia, instituída à pressa e na convulsão, num país desde sempre votado ao ostracismo nessa formação, só assumida nas facetas dos elitismos minoritários, jamais poderia obter outros frutos que não fossem os da anarquia e da vulgaridade.
E todos somos responsáveis: os que detêm o poder e o instituem na base do lucro pessoal, os que assistem manietados na desilusão ou na indiferença céptica, os que se deixam manipular - segundo velho ditado – e que são a massa.
Porque um poder que não exige contenção aos órgãos de comunicação para plateias, que permite programas popularuchos de grande dispêndio de afectividades e ruído, protagonizados quer por apresentadores quer por gente que busca notoriedade, ainda que efémera, ou que, na mira de audiências, usa programas em que o sexo, a pornografia ou a desenvoltura atrevida são a escola dos nossos filhos e de uma população iletrada ou imatura, ao invés de fornecer propostas formativas de maior elegância e racionalidade – esse poder, desatento ou pouco firme, só pode contribuir para o descalabro moral e cultural em que nos afundamos.
Herman José, ressalvada a sua competência de apresentador e a graça das suas primeiras actuações, é, há muito, um dos responsáveis pela libertinagem e desbragamento generalizados, de sentimentos, de gestos ou de linguagem, em que os seus programas petrificaram.
Inteligente, repentista, desenvolto, utilizou cada vez mais as suas competências no sentido de uma progressiva actuação provocatória, sem bom senso nem bom gosto, num tolo pretexto de desmistificação dos preconceitos e dos pedantismos sociais, sem atender à parolice dos seus lugares comuns enxovalhantes, vaidoso ditador na exposição da sua pessoa em que as marcas da perversidade são cada vez mais visíveis.
E o povo assiste-o e ri alvarmente das suas traquinices desavergonhadas e já sediças, e tantas vezes ditadas pela maldade ou arrogância achincalhantes de quem se julga pairando em esferas superiores de imunidade.
Quer ser português, a sua pátria é esta, afirma-o, mas despreza-a, a todo o poder da sua filiação germânica superior, estrela solitária num universo vazio.
E nós sentimos que merecemos esse desprezo, porque o permitimos, na nossa idolatria de pacóvios e de cegos por aquele que tem um olho e que por isso é rei.
Ex.mo Senhor Presidente da Câmara Municipal de Cascais
No dia 4 de Maio, pelas 15h30, tropecei num tubo anti-estacionamento de carros, deitado, há mais de um mês, segundo informação colhida in loco, sobre o passeio da Rua 9 de Abril de S. Pedro do Estoril, em frente ao restaurante Zé Borlas.
Um espalhanço ao comprido, sobre um riacho de água corrente (proveniente, então, de qualquer cano roto), e que a minha ossatura septuagenária, não conseguiu evitar, apesar dos passos de bailarina desastrada para o impedir, e do pronto socorro de pessoas caridosas que me ajudaram a erguer, mas não a superar a vergonha do ridículo nem as dores posteriores que redundaram em consulta às urgências do Hospital de Cascais, no dia 7 de Abril, para detectar possíveis fracturas, felizmente reduzidas a simples dores musculares.
Tais confissões não vão fazer desaparecer o tubo deitado no passeio da Rua 9 de Abril há mais de um mês, segundo informação in loco, virado por descuido de um camionista inepto e deitado sobre o chão do passeio como solução imediata (transformada em solução mediata) pela eficiência dos controladores camarários, ao invés de o arrancarem e substituírem por um tubo direito.
Parece que não fui a única pessoa distraída que nele embateu durante o dito mês, e atrevo-me a pensar que a ratoeira servirá a outros incautos nos meses que seguem.
Por isso, como cidadã participante e preocupada com a inteireza dos esqueletos dos meus concidadãos, apresso-me a solicitar a V. Exª que use da competência que detém, no sentido de obstar à perda de tal inteireza, mandando substituir o tubo deitado por um tubo erecto, no supracitado local.
Sem outro assunto, atenciosamente.
11 de Maio de 2006
Um espalhanço ao comprido, sobre um riacho de água corrente (proveniente, então, de qualquer cano roto), e que a minha ossatura septuagenária, não conseguiu evitar, apesar dos passos de bailarina desastrada para o impedir, e do pronto socorro de pessoas caridosas que me ajudaram a erguer, mas não a superar a vergonha do ridículo nem as dores posteriores que redundaram em consulta às urgências do Hospital de Cascais, no dia 7 de Abril, para detectar possíveis fracturas, felizmente reduzidas a simples dores musculares.
Tais confissões não vão fazer desaparecer o tubo deitado no passeio da Rua 9 de Abril há mais de um mês, segundo informação in loco, virado por descuido de um camionista inepto e deitado sobre o chão do passeio como solução imediata (transformada em solução mediata) pela eficiência dos controladores camarários, ao invés de o arrancarem e substituírem por um tubo direito.
Parece que não fui a única pessoa distraída que nele embateu durante o dito mês, e atrevo-me a pensar que a ratoeira servirá a outros incautos nos meses que seguem.
Por isso, como cidadã participante e preocupada com a inteireza dos esqueletos dos meus concidadãos, apresso-me a solicitar a V. Exª que use da competência que detém, no sentido de obstar à perda de tal inteireza, mandando substituir o tubo deitado por um tubo erecto, no supracitado local.
Sem outro assunto, atenciosamente.
11 de Maio de 2006
sábado, 24 de maio de 2008
Fundamentalismos...
Clara Ferreira Alves escreve eloquentemente sobre tudo o que sabe e lê, a cada passo atira para o seu público ledor e admirador – no qual me incluo – a vastidão dos seus conhecimentos de políticas, vivências, leituras, viagens, conceitos, defesa de causas, troça de casos.
Entre os casos troçados, conta-se o dos que se empenham na defesa de uma escrita portuguesa que não conduza a perplexidades, com laxismos impunes numa escrita irracionalmente permissiva, como a defendida no “Acordo”. Mas a isto, que é grave, Clara Ferreira Alves, na sua “Pluma Caprichosa” de 17 de Maio – e “preciosa”, que Molière mantém eterna universalidade - chama de fundamentalismo, e fundamentalistas os atacantes do Acordo, porque são em número consideravelmente inferior aos cento e oitenta milhões de brasileiros, os quais impõem uniformidade numa escrita de cujo léxico e pronúncia há muito se afastaram.
Entre os casos troçados, conta-se o dos que se empenham na defesa de uma escrita portuguesa que não conduza a perplexidades, com laxismos impunes numa escrita irracionalmente permissiva, como a defendida no “Acordo”. Mas a isto, que é grave, Clara Ferreira Alves, na sua “Pluma Caprichosa” de 17 de Maio – e “preciosa”, que Molière mantém eterna universalidade - chama de fundamentalismo, e fundamentalistas os atacantes do Acordo, porque são em número consideravelmente inferior aos cento e oitenta milhões de brasileiros, os quais impõem uniformidade numa escrita de cujo léxico e pronúncia há muito se afastaram.
Prós e Contras...
Uma assembleia formada por falantes da língua portuguesa. Duas mesas - uma com mais jovens, defendendo a conveniência do acordo – Lídia Jorge e Carlos Reis – outra com mais velhos – os do Restelo – defendendo a inconveniência do acordo – Alzira Seixo e Graça Moura. Fátima Ferreira orquestrando. Entre os assistentes, os Angolanos, defendendo compostamente a sua musa; as Brasileiras risonhas – sempre risonhas, ao longo da sessão, meninas ricas troçando das meninas pobres – alardeando, no momento da elocução, a simpatia altiva dos vencedores. E o rapaz chinês, irradiando recente sabedoria, paternalisticamente, fazendo jus à importância universal do seu país. Um linguista responsável falando em impacto ambiental, um tradutor preocupado falando em prejuízo.
O discurso sofismado e leviano dos mais jovens da mesa, indiferentes aos problemas graves apontados, novéis oportunistas arrogantes e espertos, o discurso sério dos mais velhos da mesa, amantes da língua e da pátria. Que sejam benditos estes.
O discurso sofismado e leviano dos mais jovens da mesa, indiferentes aos problemas graves apontados, novéis oportunistas arrogantes e espertos, o discurso sério dos mais velhos da mesa, amantes da língua e da pátria. Que sejam benditos estes.
Um comentário...
O texto sobre o Acordo Ortográfico, do sr. Mário Miguel, saído neste Jornal em 18/4, é bem explícito da confusão que reina no nosso país sobre a matéria em questão. Põe em destaque a oralidade como característica sine qua non numa conveniente conversão para a escrita, desdenhando seguidamente dos sábios linguistas, mau grado o seu respeito pelos mesmos, esquecido de que os há também que adoptam (adotam) o mesmo critério segundo a pronúncia de cada qual. Exemplifica com as divergências de acentuação do António português vs. Antônio brasileiro, mas neste país também há quem prefira a “baca “ à “vaca”, daí que podemos optar (otar) por qualquer delas que não nos cai o Carmo e a Trindade em cima. Conclui sobre a necessidade de uma forma comum a todo o mundo lusófono, o que é, evidentemente, utópico e asnático. Seguidamente vem a questão dos “proveitos” que do Acordo podem advir (avir) para todos nós. É possível. Mas espertos como somos, é em nós, lusos de gema, que pensamos, no nosso próprio proveitozinho.
O Exemplo...
O exemplo “acordo todos os dias a pensar no acordo” com que o sr. Santana Maia no D.N. de 14/5 defende a sua aceitação do Acordo Ortográfico, a pretexto de um sofismado aproveitamento da ignorância alheia pelos sábios ou por grave falha de conhecimento pelos ignorantes, que deviam ter sempre presentes os contextos morfossintácticos, como no caso presente, os quais facilmente modificam as pronúncias, não necessitando de acento gráfico para lhes distinguir o tónico, não está obviamente contido nas regras do pretendido Acordo. Trata-se de um caso de homografia, por demais conhecido, que há muito baniu acentos da escrita em função dos contextos. É, pois, um falso exemplo, com que – aqui, sim, sofismadamente – se pretende adulterar a verdade.
Ninguém é dono da língua a não ser os Povos!
“Ninguém é dono da língua a não ser os povos!”: Pertence a frase ao sr. Abílio Louro de Carvalho de Santa Maria da Feira, no seu texto sobre o Acordo Ortográfico saído no Diário de Notícias de 11/5, no qual, a seguir à frase lisonjeira para a soberania linguística dos povos, acrescenta outra em que menospreza os linguistas, os literatos e os professores como puros “artífices, descritores e cultores”. Gente a abater, por consequência.
Mas é falso aquilo da atribuição ao povo do domínio da língua, pelo menos na escrita do sr. Abílio Louro de Carvalho. Porque termina o seu texto, bastante incoerentemente, com a atribuição ao poder político da tomada da decisão final. Como o poder político é a favor da ratificação, deduz-se que o sr. Abílio Louro de Carvalho também o é, embora considere que “é da discussão que se gera a luz”, mas “não podemos escudar-nos nos pareceres dos especialistas”. Isso pertence aos povos ditos civilizados, não nos diz respeito, “hélas”!
Mas é falso aquilo da atribuição ao povo do domínio da língua, pelo menos na escrita do sr. Abílio Louro de Carvalho. Porque termina o seu texto, bastante incoerentemente, com a atribuição ao poder político da tomada da decisão final. Como o poder político é a favor da ratificação, deduz-se que o sr. Abílio Louro de Carvalho também o é, embora considere que “é da discussão que se gera a luz”, mas “não podemos escudar-nos nos pareceres dos especialistas”. Isso pertence aos povos ditos civilizados, não nos diz respeito, “hélas”!
O Acordo e a Língua
A escrita é uma convenção. Tem razão o Dr. Carlos Reis. Convenção sucessivamente modificada em função das oralidades, mas estruturada segundo regras menos convencionais porque seguindo uma lógica mais racional. Do latim, o português e congéneres línguas novilatinas foram adaptando influxos do vulgar a estruturas mais ou menos eruditas, mergulhadas, por alturas do Renascimento, num latim clássico que tanto as enriqueceria e possibilitaria as obras-primas que ainda hoje celebramos, no rigor do seu pensamento e da sua formosura formal, quer em Portugal quer nos povos onde o latim se impôs.
Mas as línguas foram evoluindo e divergindo de acordo com os seus novos habitats e populações. A verdade é que o português padrão do nosso rectângulo europeu em nada se assemelha ao português dos outros sítios, Madeira e Açores incluídos. O português que amamos é o da nossa escrita e da nossa pronúncia. Porquê a necessidade de servilmente seguirmos as regras da escrita brasileira? Porque o Brasil é mais poderoso e conhecido?
Também o americano não se confunde com o inglês de origem. Nem o canadiano francês com o francês. Mas não consta que Inglaterra ou França façam acordos de escrita, mau grado a projecção mundial desses ricos países do Novo Mundo.As vozes que prevêem que o português do nosso pequeno rectângulo tenderia a ser abafado sob o manto poderoso de um brasileiro abastardado, não fosse o nosso subserviente acordo, em nada fazem modificar o conceito de que a nossa língua é a de origem, como gema nutritiva, pese embora a nossa fraca projecção no mundo.
Mas as línguas foram evoluindo e divergindo de acordo com os seus novos habitats e populações. A verdade é que o português padrão do nosso rectângulo europeu em nada se assemelha ao português dos outros sítios, Madeira e Açores incluídos. O português que amamos é o da nossa escrita e da nossa pronúncia. Porquê a necessidade de servilmente seguirmos as regras da escrita brasileira? Porque o Brasil é mais poderoso e conhecido?
Também o americano não se confunde com o inglês de origem. Nem o canadiano francês com o francês. Mas não consta que Inglaterra ou França façam acordos de escrita, mau grado a projecção mundial desses ricos países do Novo Mundo.As vozes que prevêem que o português do nosso pequeno rectângulo tenderia a ser abafado sob o manto poderoso de um brasileiro abastardado, não fosse o nosso subserviente acordo, em nada fazem modificar o conceito de que a nossa língua é a de origem, como gema nutritiva, pese embora a nossa fraca projecção no mundo.
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