domingo, 25 de maio de 2008

Um texto antigo

“Liberdades”... Foi o que conquistámos com a democracia. Não “liberdade” apenas, como característica inerente ao homem racional, no sentido do respeito pela sua condição humana, que se assume com a elegância de uma formação cultural dignificante.
A nossa democracia, instituída à pressa e na convulsão, num país desde sempre votado ao ostracismo nessa formação, só assumida nas facetas dos elitismos minoritários, jamais poderia obter outros frutos que não fossem os da anarquia e da vulgaridade.
E todos somos responsáveis: os que detêm o poder e o instituem na base do lucro pessoal, os que assistem manietados na desilusão ou na indiferença céptica, os que se deixam manipular - segundo velho ditado – e que são a massa.
Porque um poder que não exige contenção aos órgãos de comunicação para plateias, que permite programas popularuchos de grande dispêndio de afectividades e ruído, protagonizados quer por apresentadores quer por gente que busca notoriedade, ainda que efémera, ou que, na mira de audiências, usa programas em que o sexo, a pornografia ou a desenvoltura atrevida são a escola dos nossos filhos e de uma população iletrada ou imatura, ao invés de fornecer propostas formativas de maior elegância e racionalidade – esse poder, desatento ou pouco firme, só pode contribuir para o descalabro moral e cultural em que nos afundamos.
Herman José, ressalvada a sua competência de apresentador e a graça das suas primeiras actuações, é, há muito, um dos responsáveis pela libertinagem e desbragamento generalizados, de sentimentos, de gestos ou de linguagem, em que os seus programas petrificaram.
Inteligente, repentista, desenvolto, utilizou cada vez mais as suas competências no sentido de uma progressiva actuação provocatória, sem bom senso nem bom gosto, num tolo pretexto de desmistificação dos preconceitos e dos pedantismos sociais, sem atender à parolice dos seus lugares comuns enxovalhantes, vaidoso ditador na exposição da sua pessoa em que as marcas da perversidade são cada vez mais visíveis.
E o povo assiste-o e ri alvarmente das suas traquinices desavergonhadas e já sediças, e tantas vezes ditadas pela maldade ou arrogância achincalhantes de quem se julga pairando em esferas superiores de imunidade.
Quer ser português, a sua pátria é esta, afirma-o, mas despreza-a, a todo o poder da sua filiação germânica superior, estrela solitária num universo vazio.
E nós sentimos que merecemos esse desprezo, porque o permitimos, na nossa idolatria de pacóvios e de cegos por aquele que tem um olho e que por isso é rei.

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