domingo, 8 de fevereiro de 2009

Falar à séria ... só para rir

Andar à tona, aos bordos, à bolina, à babugem, aos caídos, à roda; mandar / ir à fava, ou à ... (isso que se diz em caso de crise), ir aos arames, ou à faca ou às sortes; atirar / lançar / mandar às malvas ou às urtigas; viajar à borla, navegar à vela, viver à custa de, morrer à míngua de, chegar à fala, chegar – ou não - aos calcanhares, à altura; ir / vir à boleia, ficar à mercê, à escuta, andar às aranhas, à nora...
E muitas mais expressões, formadas, a sério, por verbo seguido de complemento circunstancial ou nome predicativo do sujeito, constituído por artigo definido contracto por meio de crase com a preposição a e por substantivo abstracto ou concreto.
Mas hoje em dia prolifera oralmente ou por escrito o aborto à séria, formado não por substantivo, mas por um adjectivo feminino no singular, (talvez por analogia com os correctos plurais femininos "às claras", às escuras" ), chegado à pressa e às escâncaras dos confins da inércia educativa resultante dos maus princípios escolares que aboliram técnicas fundamentais para o ensino da língua - a gramática a sério, o ditado a sério, com as velhas estratégias da repetição vocabular escrita e da memorização em cantilena colectiva ou individual.
Poupemos carinhosamente os meninos e meninas, que não precisam de fixar tabuadas, porque as contas fazem-se nos computadores, nem de distinguir o adjectivo do substantivo ou do verbo, deixemos este navegar pelos faze-mos que assim curti-mos a vida sem preocupação pelo correcto, repetindo à exaustão o tu dissestes ou mandastes, ou o hadem e o hades e o houveram e o diz a ela porque o pronome lhe se eclipsou, e o por aí fora dos dislates sem nome com que a própria televisão nos “favorece” a cada passo, em traduções descuidadas, ou até na oralidade precipitada daqueles cuja promoção nos cargos foi favorecida, talvez, não por concursos “a sério”, mas por processos sem seriedade, muito nossos.
Mas temos tanto já com que nos preocupar, na crise em que mergulhamos, que os “pontapés” na gramática portuguesa são bem de pouca monta. Sobretudo se comparados com os pontapés do Ronaldo na bola. Que estes, sim, é que dão dinheiro “à séria”.

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