terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

António José Saraiva, um filho não de Saturno, mas do evo

Presto homenagem ao Dr. António José Saraiva, que há longos anos desejo prestar-lhe. Pela sua qualidade intelectual na expressão das ideias, onde a razão, sem cegueira, é ponto-charneira de um estilo claro, lúcido, objectivo, rico de conteúdo e de expressão linguística sem artifício.
A ele devemos, entre tantos vários estudos, a “História da Literatura Portuguesa”, conjuntamente feita com Óscar Lopes, livro que permanece sem substituto, “filho de Saturno”, talvez, mas com tendência a ultrapassar esse condicionalismo de efemeridade, para a região da Imortalidade, antes como “Fénix”, se formos menos cépticos do que ele e o próprio Álvaro de Campos, tão conscientes desse devorar do tempo que rege o mundo físico.
É deste extraordinário volume “Filhos de Saturno”, que transcrevo, sem fé, é certo, o lúcido excerto escrito em 1979 – “O 25 de Abril e a História” – tão actual neste fevereiro de 2009, quais Fénix que viverão “ad aeternum”, renascendo das suas cinzas - texto e povo a que aquele se reporta:
“... Em resumo, não se fez a liquidação do antigo regime, como não se fez a descolonização. Uns homens substituíram outros, quando os mesmos não substituíram os mesmos; a um regime monopartidário substituiu-se um regime pluripartidário. Mas não se estabeleceu uma fronteira entre o passado e o presente. Os nossos homens públicos contentaram-se com uma figura de retórica: “a longa noite fascista”.
Com estes começos e fundamentos, falta ao regime que nasceu do 25 de Abril um mínimo de credibilidade moral. A cobardia, a traição, a irresponsabilidade, a confusão, foram as taras que presidiram ao seu parto, e, com esses fundamentos, nada é possível edificar. O actual estado de coisas, em Portugal, nasceu podre nas suas raízes....”
Seguem-se os exemplos.
Recomendo a leitura deste “Imortal”, embora o seu efeito conscientificador obtenha resultados idênticos aos dos professores de todos os tempos: só atinge os alunos interessados.

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