quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

A idade da inocência

Já duvido que chegue a existir. Embora nos ensinem os provérbios noções bonitas, que parecem revelar a boa formação moral de quem os criou. Mas quem os criou devia intimamente rir-se do que estava a criar, como frases muito moralistas, mas só para os falhados que nelas acreditavam. Algumas famílias – já não acredito que fosse a maioria – orientavam dantes os seus filhos dentro desses valores idealistas, que a Igreja também alimentava, segundo conceitos duais formadores, do Bem e do Mal, do Paraíso e do Inferno, com o Purgatório para os que precisassem de se purgar dos pecados.
E assim se criaram os provérbios sobre a ociosidade como mãe de todos os vícios e o trabalho como fornecedor de saúde, o dinheiro impeditivo da felicidade, e até sobre o não adiamento dos trabalhos que podem ser feitos no próprio momento... Tudo muito correcto, leal, honrado, escrupuloso. Para os simplórios como o “Topaze” do Marcel Pagnol.
Era o Topaze um professor primário, competente e crédulo, de uma pureza de topázio que acreditava nos tais provérbios que o Sr. Muche, digno director do colégio Muche, fazia pendurar nas paredes das salas de aula. Mas descobriu que Muche era um explorador perverso e biltre, e que o novo patrão, que a expulsão do colégio, por ser escrupuloso e honesto, o fizera ocasionalmente encontrar, não passava de outro prevaricador de alto gabarito, que dele fez seu “testa-de-ferro”, para se não comprometer nas suas miseráveis negociatas. E assim Topaze descobre o poder do dinheiro que o faz obter as palmas académicas nunca alcançadas pelo professor dedicado que fora. De testa-de-ferro passa a dono do negócio, em jogada inteligente de quem perdeu a inocência, sinónima de idiotia.
Ao ouvir estas notícias de que Portugal é dos países mais bem cotados na abundância de processos de cobrança coerciva de impostos, fico pensando que aqui poucos acreditam nos provérbios, e que somos todos amantes do capital, por muito ilícita que seja a forma de o obter.

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