Há muito tempo, afinal
Que a expressão fatal
“Águas turvas” foi criada
Com inteligência,
Prova de que
Houve sempre quem muito bem
Soubesse decifrar
O comportamento humano
Quando ele é desumano
Ou simplesmente insano.
Até Esopo a glosou
E a aplicou
Com muita competência
Na sua fábula
«O pescador de águas turvas»,
Porque Esopo
Sempre esteve ali p’r’às curvas:
«Um pescador pescava num rio.
Depois que as redes estendeu,
De modo a barrar a corrente,
De um lado ao outro, convenientemente,
Uma pedra atou
A uma corda de linho
E com ela na água bateu,
Com pouco carinho
A fim de capturar
Os peixes cheios de medo
Das malhas da rede.
Um dos da sua vizinhança,
Ao vê-lo proceder
De forma tão lastimável,
Censurou-o por o rio perturbar
Assim os privando
De água potável.
“Sem dúvida”, o pescador retorquiu
Sem se ralar,
“Mas se o rio eu não turvar ,
Sou eu que de fome vou morrer.”
Assim é nas cidades:
Os negócios dos governantes
Demagogos
Jamais são tão florescentes
Como quando em guerra civil
A sua pátria mergulharam
De forma vil
Sem se importarem,
Já que eles se safaram.»
Mas eu acho que foi antigamente
Que se fizeram guerras civis.
Não somos assim tão imbecis!
Até porque vivemos em democracia
É certo que com alguma demagogia,
E preferimos a batatada
Bem gritada
Como forma de pancadaria.
O que se procura
Nesta altura
Nos governantes,
É a permanente conjura,
Que lhes dá ventura,
Com muita fartura
Pessoal
E muita usura
Geral,
Sem mistura
De atenuantes.
A nossa tortura
Vem antes
Das descomposturas
Febris
E constantes
Feitas de parte a parte
Nos jogos vocabulares
Parlamentares,
Ou das descobertas
Espertas
Dos jornalistas,
Denunciantes
Das turvas águas
Em que nos movemos.
Com candura.
E assim vivemos
Pescadores sem remos.
domingo, 15 de agosto de 2010
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