O que eu muito estranho
Quando pela fábula me entranho
- Com prazer tamanho,
Confesso a verdade! -
É verificar
A actualidade
De tantas ocorrências
E o paralelismo
Da moralidade
De ontem com a de hoje,
Caso para exclamar
Sem facciosismo:
Foge!
Ou melhor dizendo: fogo!
Que dum modo geral,
É mais actual,
Para nosso mal.
Assim dizia
Esopo, um dia:
O citarista
Um citarista dotado de talento,
Ou julgando tal,
Com muito pouco tento,
Sem tréguas cantava numa casa
De paredes rebocadas a cal,
Que o eco da sua voz bonita,
Na sua opinião,
- Embora com pouca razão
Para nisso crer -
Lhe reenviavam com muita pinta;
Cuidou assim um belo órgão vocal
Possuir,
E de tal modo a cabeça foi encher
Com a convicção de o ter,
Que achou indispensável
Igualmente pelo teatro
Se repartir
E ali se exibir.
Mas, uma vez em palco,
Cantou tão mal
Que foi expulso à pedrada
Sem complacência
E, pelo contrário,
Com “quanta indecência!
Quanta palavrada”,
Como, aliás, também fizeram
Sem nunca se desculparem
Os mendigos do nosso Cesário
- Se me é permitido um parêntese
Para dar mais ênfase
A estes devaneios efabuladores
Dos fabulistas doutores
Um tanto ou quanto desumanos,
Como inimigos encartados
Dos erros humanos,
Por vezes, é certo, bem tresloucados.
Mas, retomando o citarista
Do grego fabulista
Expondo a sua moral,
De modo tão actual,
Concluamos:
“Assim também, certos oradores
Que durante os seus estudos anteriores
Pareceram bem dotados,
E cujos resultados
Posteriores
São marcados
Pela generalidade
Da nulidade
Quando na carreira política
São lançados.”
Realmente acho piada
Ao exemplo citado
Do citarista
- Do tocador de lira,
Antepassado -
Vivendo na mira
De um outro ordenado,
Convencido
Da muita capacidade
Porque acreditava
Ter uma voz magnífica
Que só ele ouvia.
A mesma fantasia
Grassa hoje na política
Tal como antigamente,
Como Esopo dizia:
É ver os chefes dos partidos
Todos entretidos
Com vozes esplendorosas
Debitando competências
Altissonantes, deslumbrantes,
Palavrosas,
Redundantes,
Com muito destaque
E arte
Teatral
Escondendo o vazio
Programático
Sob o sorriso enfático,
Por vezes pleno de doçura
Na postura ...
É infernal
Um político,
Mesmo quando artificial,
Como é vulgar hoje-em-dia
Com a maioria!
segunda-feira, 23 de agosto de 2010
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