quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Os direitos num país de avessos

Falei à minha amiga na crónica de Inês Pedrosa, “Fechar para Abrir”, da Revista Única de 31 de Julho, com, por subtítulo, “O encerramento das escolas sem condições só peca por tardio”, a qual condena os botas-de-elástico que gritam a plenos pulmões contra o encerramento anterior, de 2500 escolas com menos de dez alunos, por Maria de Lurdes Rodrigues, e o que se vai perpetrar de mais de um milhar com menos de vinte alunos, com a ministra actual. Mas a minha amiga, não sei se por uma razão humanitária, se por avidez de contestação, que ela às vezes até peca por excessos oposicionistas sem eu lhe topar o motivo, branda como sou, não discordou grandemente da medida sanitária. E arbitrária:
- Todos têm direito a boas instalações, não são só alguns. Porque os miúdos vão ver uma escola daquelas e preferem ir para a boa escola. O Estado dá transporte. As condições físicas são muito boas, com campos para jogos, magalhães, biblioteca....
Lembrei que em tempos, numa escola de Cascais onde dei aulas, não sei se por estarmos próximos da praça de touros que, em qualquer tarde gloriosa terão arremetido contra os pavilhões da escola – sempre, aliás, de menor importância que a praça - o que teve como resultado abrirem-se os telheiros de passagem entre os pavilhões, daí que, em dias de chuva, era a escorrer água e a tremer de frio que penetrávamos nas praçazinhas das aulas de então, finais da década de setenta, princípios da de oitenta.
Lembrei ainda que até à minha terceira classe andei numa escola dessas, de aldeia, escola genérica, como qualquer remédio actual que se preze, englobando as quatro classes, e não deixei de cumprir com gosto as minhas obrigações de aluna vivaça e de fazer as rodas e brincar aos jogos possíveis na eira da nossa escola, que em dias solenes até içava a bandeira para os alunos saudarem, cantando o hino nacional. Com direito a vestido novo, no dia do exame, de professores externos, não susceptíveis de suborno.
Inês Pedrosa explora a temática da relação social que uma escola nas condições de modernidade prescritas tem o dever de fomentar. Suponho que escolas apetrechadas com a aparelhagem que o nosso PM impõe, como imprescindível fautora da circumnavegação pelos territórios comprovativos da globalidade do planeta. Como se fez outrora, embora por conta de outrem, mas, indiferente ao facto, o computador ministerial levou um baptismo patriótico, visto que o nosso PM não ia deixar os nossos créditos onomásticos por por mãos alheias, que patriota se tem ele revelado e muito, quer na nova organização ortográfica, por motivos de sujeição, quer na nova desorganização agrícolo-piscatória, por idênticos motivos, quer na reconstrução territorial, onde se gasta dinheiro em barda para dar emprego aos reconstrutores, dinheiro que falta para pagar aos professores das tais escolas eliminadas, que perderão os seus empregos, juntamente com os professores subtraídos nesses outros projectos de agrupamentos escolares. Sim, o Estado dá transporte, e dá emprego às empresas de transporte e aos chauffeurs dos autocarros do transporte das crianças. O Estado nosso pai, que destrói escolas em vez de as reparar, como faz às vias rodoviárias, num país que se diz atrasado, e cuja destruição de espaços que poderiam contribuir para uma certa movimentação cultural, caso fossem bem trabalhados segundo exigências responsáveis, implica um cada vez maior empobrecimento, um cada vez maior atraso, neste país entorpecido e sem solução viável de desentorpecimento.
Mas eu acho que o nosso PM prefere as rodovias, para as suas próprias maratonas pedestres, às escolas, para as maratonas das necessidades culturais do nosso povo entorpecido. Desde sempre. Para sempre. Rimando com embrutecido.

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