Não sei por que razão
Se foi Esopo inspirar,
Como exemplificação
De uma figura detestada,
Embora só pela deusa
Da grega sabedoria,
Na gralha de bico aberto,
A coaxar.
Afinal, é esse o seu falar
Embora sem grande acerto,
E com pouca harmonia.
Mas gostos são relativos
Não podemos generalizar
Nos motivos,
Valha-me a Virgem Maria.
Tanto mais,
Que gralhas há muitas,
Tal como os chapéus,
Ó céus.
Leiamos então,
Com atenção
A fábula de Esopo
Na tradução:
«A gralha e o cão
Uma gralha que pretendia
A Atena, sacrificar,
Para esse banquete resolveu,
Com a necessária cortesia,
Um cão convidar
Um dia.
“- Para que te metes em tanta despesa
Com esses sacrifícios, tão inúteis
Como fúteis?”
- O cão lhe perguntou, com esperteza,
Se não até com tristeza.
E continuou:
“Com efeito, a deusa tem por ti
Um ódio tão feroz
Que, como um algoz,
Aos teus áugures exclui
O crédito desejado.
“- Ora essa!”
A gralha lhe respondeu
Com enfado:
“Por isso mesmo eu lhe sacrifico”,
Sei que ela me detesta
E espero apaziguá-la
Com a minha festa
A favor dela.”
De igual forma, muita gente
Pouco influente
Não hesita, por receios ancestrais,
Em cobrir de benefícios
Os seus inimigos figadais.»
Penso que a gralha pertencia
À lusofonia,
Mas não tenho a certeza.
Porque tal natureza
De cumular de benefícios
Os superiores,
Amigos ou inimigos,
Mesmo com sacrifícios,
Para obter deles favores,
É coisa antiga,
Própria da literatura
Que a imitou da Mãe Natura.
Não vou , pois, fazer fraca figura.
Não vou explorá-la.
Vou mesmo ignorá-la,
Essa coisa de servir
De sacrificar
De prendas trocar…
Não vá uma Atena segura
O crédito dos meus áugures banir.
quarta-feira, 27 de outubro de 2010
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário