Dantes, chamava-se Segunda Classe.
Havia textos, como hoje, mas os livros eram um depósito de leitura e informação, que competia exclusivamente ao professor desbravar, já que os textos não eram acompanhados de questionários que apelassem ao raciocínio, e à maior ou menor competência de cada aluno para interpretar e desenvolver. Não havia tampouco imagens apelativas, como oferecem os livros de hoje.
Até mesmo o livro de História constava de uma sucessão dinástica de reis desenhados, com a bandeira nacional na capa. Quanto ao de Geografia, apresentava o mapa de Portugal, com as suas províncias, os seus distritos, as suas montanhas, os seus rios. Também havia o de Ciências Naturais para os rudimentos da vida. E aprendia-se a amar a pátria, através das suas figuras, das suas datas, dos factos que a exaltavam. 1419, e a descoberta da Madeira, que nos restou, mais os Açores, de tantos “mares nunca dantes navegados”, 1498, 1500… Para promover esses dados culturais, nomeámos, é certo, um magalhães, como coisa palpável, cujo nome soa aos confins da melancolia histórica, sem ninguém, é certo, explicar aos meninos porque se lhe deu esse nome.
E a gente aprendia, decorando. Aprendia fazendo cópias, ditados, correcção de erros, caligrafia segundo os métodos tradicionais. E decorava as tabuadas e as preposições, e os advérbios e a conjugação verbal. Um ensino repetitivo, condicionante de competências, tais as da oralidade, mas apurando as da escrita.
Falou-se em psitacismo, pôs-se a ridículo essa metodologia que assentava na repetição para a memorização da matéria e que assim eliminava radicalmente a inteligência e a criatividade.
Os livros apresentaram aspectos mais aliciantes, com imagens esclarecedoras das matérias veiculadas, com questionários facilitadores, de abertura intelectual.
E tudo isso começa no primeiro ano, no segundo ano… Compram-se os livros, mas preenchem-se as aulas com fichas, que os alunos que não sabem ler erram na totalidade, porque não aprenderam a ler e não percebem o que se lhes pede. Fichas aliciantes, com sopas de letras para nelas se descobrirem palavras, com palavras cruzadas, com questionários de interpretação, para a procura da resposta no livro, com apelo à inteligência, mas que, obviamente, exigem o domínio da leitura, relegando os alunos que a não têm, para a situação de perenemente atrasados, ou de incapacitados, ou com défice de atenção, necessitando do psicólogo e do terapeuta da fala para corrigir, ou da ritalina para ajudar à concentração, quando o que o aluno tem, de facto, é uma ignorância absurda de leitura, de escrita, de memorização de elementos que se irão prolongar pelo secundário.
São interessantes as fichas com que se ocupam os meninos – os que já sabem ler, porque tiveram quem os seguisse em casa - que descodificam as questões e as interpretam. Mas o livro de leitura aí está, por desbravar, tal como ficou o do primeiro ano. Por falta de cópias, de repetição, de memorização diárias. Tudo isso passou à história, que as fichas têm sopas de palavras, têm palavras cruzadas, que obrigam o aluno a pesquisar, aliciantemente, a pôr a cruzinha na resposta certa do questionário múltiplo, a divertir-se… Mas de facto, só aquele que já sabe ler ou escrever o pode fazer. Porque teve quem em casa o apoiasse, talvez através de um método de ensino mais tradicional, fazendo o menino ler e escrever e repetir.
O apelo à compreensão, o lúdico na base do ensinamento… Mas os alunos chegam à segunda fase do ensino básico, chegam ao ensino secundário, sem saber ler nem escrever, dizem os professores destes ensinos. Desmotivados, irrequietos, barulhentos, indisciplinados. Desinteressados.
Na poeira do seu percurso de vida, ficar-lhes-á, é certo, um magalhães para a desenvoltura mental, que lhes tirou o tempo para a leitura, para a escrita, para a repetição, para a memorização. Para a motivação.
Em vez disso, o estardalhaço, a apatia, a acefalia. O vazio.
Fica sempre a esperança nas excepções. Porque o retorno não é mais possível. Nem ninguém o deseja, agora que conquistámos a liberdade, como sinónimo de democracia.
Havia textos, como hoje, mas os livros eram um depósito de leitura e informação, que competia exclusivamente ao professor desbravar, já que os textos não eram acompanhados de questionários que apelassem ao raciocínio, e à maior ou menor competência de cada aluno para interpretar e desenvolver. Não havia tampouco imagens apelativas, como oferecem os livros de hoje.
Até mesmo o livro de História constava de uma sucessão dinástica de reis desenhados, com a bandeira nacional na capa. Quanto ao de Geografia, apresentava o mapa de Portugal, com as suas províncias, os seus distritos, as suas montanhas, os seus rios. Também havia o de Ciências Naturais para os rudimentos da vida. E aprendia-se a amar a pátria, através das suas figuras, das suas datas, dos factos que a exaltavam. 1419, e a descoberta da Madeira, que nos restou, mais os Açores, de tantos “mares nunca dantes navegados”, 1498, 1500… Para promover esses dados culturais, nomeámos, é certo, um magalhães, como coisa palpável, cujo nome soa aos confins da melancolia histórica, sem ninguém, é certo, explicar aos meninos porque se lhe deu esse nome.
E a gente aprendia, decorando. Aprendia fazendo cópias, ditados, correcção de erros, caligrafia segundo os métodos tradicionais. E decorava as tabuadas e as preposições, e os advérbios e a conjugação verbal. Um ensino repetitivo, condicionante de competências, tais as da oralidade, mas apurando as da escrita.
Falou-se em psitacismo, pôs-se a ridículo essa metodologia que assentava na repetição para a memorização da matéria e que assim eliminava radicalmente a inteligência e a criatividade.
Os livros apresentaram aspectos mais aliciantes, com imagens esclarecedoras das matérias veiculadas, com questionários facilitadores, de abertura intelectual.
E tudo isso começa no primeiro ano, no segundo ano… Compram-se os livros, mas preenchem-se as aulas com fichas, que os alunos que não sabem ler erram na totalidade, porque não aprenderam a ler e não percebem o que se lhes pede. Fichas aliciantes, com sopas de letras para nelas se descobrirem palavras, com palavras cruzadas, com questionários de interpretação, para a procura da resposta no livro, com apelo à inteligência, mas que, obviamente, exigem o domínio da leitura, relegando os alunos que a não têm, para a situação de perenemente atrasados, ou de incapacitados, ou com défice de atenção, necessitando do psicólogo e do terapeuta da fala para corrigir, ou da ritalina para ajudar à concentração, quando o que o aluno tem, de facto, é uma ignorância absurda de leitura, de escrita, de memorização de elementos que se irão prolongar pelo secundário.
São interessantes as fichas com que se ocupam os meninos – os que já sabem ler, porque tiveram quem os seguisse em casa - que descodificam as questões e as interpretam. Mas o livro de leitura aí está, por desbravar, tal como ficou o do primeiro ano. Por falta de cópias, de repetição, de memorização diárias. Tudo isso passou à história, que as fichas têm sopas de palavras, têm palavras cruzadas, que obrigam o aluno a pesquisar, aliciantemente, a pôr a cruzinha na resposta certa do questionário múltiplo, a divertir-se… Mas de facto, só aquele que já sabe ler ou escrever o pode fazer. Porque teve quem em casa o apoiasse, talvez através de um método de ensino mais tradicional, fazendo o menino ler e escrever e repetir.
O apelo à compreensão, o lúdico na base do ensinamento… Mas os alunos chegam à segunda fase do ensino básico, chegam ao ensino secundário, sem saber ler nem escrever, dizem os professores destes ensinos. Desmotivados, irrequietos, barulhentos, indisciplinados. Desinteressados.
Na poeira do seu percurso de vida, ficar-lhes-á, é certo, um magalhães para a desenvoltura mental, que lhes tirou o tempo para a leitura, para a escrita, para a repetição, para a memorização. Para a motivação.
Em vez disso, o estardalhaço, a apatia, a acefalia. O vazio.
Fica sempre a esperança nas excepções. Porque o retorno não é mais possível. Nem ninguém o deseja, agora que conquistámos a liberdade, como sinónimo de democracia.
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